A disputa entre Murtaza Lakhani, um veterano magnata do comércio de petróleo, e dois concorrentes azeris, Etibar Eyyub e Tahir Garayev, está custando caro à Rússia, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
Os traders de petróleo, que movimentam a grande maioria do óleo bruto da estatal Rosneft PJSC, têm tentado expor as ligações russas um do outro na tentativa de desencadear sanções dos EUA, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto e documentos analisados pela Bloomberg News.
Com os EUA aplicando sanções à própria Rosneft pela primeira vez nesta semana, e a economia russa cambaleando há mais de três anos após a invasão à Ucrânia, o presidente Vladimir Putin não pode se dar ao luxo de ter novos problemas.
O petróleo bruto caiu cerca de 20% em relação às máximas de janeiro e a receita da Rosneft no primeiro semestre caiu 68%, colocando Sechin já sob pressão.
A disputa entre seus importantes parceiros comerciais representa um risco adicional para as finanças da Rosneft e para o cofre do Kremlin.
O presidente dos EUA, Donald Trump, instou Putin a encerrar a guerra na Ucrânia ou enfrentar um colapso econômico, mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o país possui “consideráveis reservas de força” que lhe permitirão prosseguir com todos os seus planos.
Esta reportagem se baseia em informações de pessoas com conhecimento das operações petrolíferas da Rússia, documentos privados e análises de dados comerciais por especialistas do setor, revisados pela Bloomberg News. Eles obtiveram anonimato para discutir transações comerciais confidenciais.
Representantes das empresas de Eyyub e da Rosneft não responderam aos pedidos de entrevista, assim como Peskov.
Os advogados de Garayev negaram que ele tenha qualquer relação com a Rosneft ou Eyyub e que tenha feito qualquer esforço para prejudicar a reputação de Lakhani. Eles também afirmaram que ele não esteve envolvido em nenhuma atividade relacionada ao petróleo desde o final de 2022.
Representantes da empresa de Lakhani não fizeram comentários. Lakhani negou anteriormente qualquer envolvimento na rede de empresas que a Rússia utiliza para comercializar seu petróleo fora do regime de sanções.
Petróleo no mundo
A disputa entre as empresas abrange operações em Dubai, Hong Kong e Cingapura, além de lobistas em Washington e na imprensa de Moscou.
Associados de Eyyub e Garayev tentaram plantar histórias sobre as negociações de Lakhani com a Rosneft em jornais russos com o objetivo de destacar atividades que poderiam levar autoridades ocidentais a impor sanções, de acordo com as fontes e os documentos.
A Coral Energy, trading criada por Garayev em 2010, recorreu no ano passado a uma empresa de lobby de commodities sediada em Washington com o objetivo de alertar as autoridades nos EUA e na Europa sobre operações rivais, incluindo a de Lakhani, disseram as fontes.
Mas Eyyub e Garayev também foram alvo de táticas semelhantes de Lakhani, que se esforçou para colocar seus rivais no radar das autoridades, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
A estratégia já foi usada antes nos cantos mais obscuros do comércio de petróleo.
Divulgar atividades que um concorrente deseja manter fora dos holofotes pode ajudar a incitar governos a agir e fazer com que os intermediários envolvidos no negócio fiquem cautelosos o suficiente para se afastarem ou imporem prêmios de risco elevados. Há indícios de que isso pode estar funcionando neste caso.
As sanções impostas pela União Europeia e pelo Reino Unido à rede dos azeris desde 2024 prejudicaram a capacidade de Eyyub e Garayev de operar, aumentando o custo das transações e fazendo com que bancos, seguradoras e empresas de serviços ocidentais as evitassem em grande parte para que eles próprios não ficassem sob a vigilância das autoridades, de acordo com pessoas com conhecimento direto das operações.