Com o mercado acionário fechado para ofertas iniciais há mais de três anos, a Porto engavetou o plano de fazer o IPO da vertical Porto Saúde e abriu, no início do ano, rodadas de negociação com diversos interessados em comprar uma participação minoritária. Mas o jogo começou a virar.
Os números recentes do negócio de seguro saúde da Porto mostram que a vertical do grupo se tornou uma espécie de joia em lapidação. A participação de mercado, com uma base de 702 mil clientes atendidos no fim do primeiro trimestre de 2025, ainda pode ser considerada pequena se comparada aos concorrentes com mais tempo de jogo, como a SulAmérica, que tem cerca de 7 milhões de vidas. Mas seu ritmo de crescimento supera a casa de 20% ao ano há mais de três anos seguidos.
A Porto Saúde caminha a passos largos rumo à meta de alcançar 1 milhão de usuários. A marca pode ser atingida até o fim de 2026, caso a velocidade de expansão seja mantida. Além disso, no primeiro trimestre de 2025, a vertical registrou um crescimento anual de 35% na receita bruta, para R$ 2 bilhões, e de 71% no lucro líquido, de R$ 180 milhões. Isso sem nenhuma ajuda de capital externo.
Como o processo de construção de valor ainda está em andamento, talvez seja prematuro calcular o tamanho que o negócio pode alcançar. A ambição, claro, é consolidar a vertical ente as líderes do setor nos próximos anos.
Diante de um valor que só aumenta e sem necessidade, por enquanto, de injeção de dinheiro de fora para sustentar o crescimento, a Porto tem preferido manter as negociações em banho maria. “Não tem movimento suficientemente avançado para ser divulgado no curto ou médio prazos sobre o negócio de saúde”, afirmou o CEO da holding, Paulo Kakinoff, em coletiva com os jornalistas sobre os resultados. “Mas temos recebido interesse de vários fundos e investidores.”
As conversas sobre a entrada de um novo sócio minoritário se mantêm no mesmo estágio do visto em janeiro. Na ocasião, Kakinoff havia explicado que nenhuma negociação havia atingido um estágio de exclusivo ou vinculante, ou seja, no qual a Porto e o aspirante a sócio assumem o noivado e começam a planejar o casamento. Na época, a empresa estaria negociando uma fatia não conhecida por um aporte de R$ 1 bilhão.
A gestora americana Summit Partners tem sido apontada como principal candidata, devido à experiência em investimentos em negócios de tecnologia, cuidados à saúde e bem-estar. Um de seus fundos já investe em uma startup brasileira, a Celcoin, de serviços bancários digitais.
O CEO da Porto, porém, colocou a régua de um eventual fechamento de negócio um pouco mais para cima no momento atual. “Só faz sentido se for um parceiro estratégico que traga alguma tecnologia que a gente não tenha acesso”, disse na coletiva.
Até mesmo a gaveta do IPO volta a ter chance de ser reaberta. Ainda não há espaço no mercado para novas as ofertas públicas iniciais de ações, mas uma fresta começa a aparecer. O Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, opera atualmente nas máximas nominais históricas. Resta saber se o momento vai durar.
Um fator que pode ajudar na recuperação da renda variável no médio prazo vem da última decisão de juros do Banco Central (BC). A autoridade sinalizou que o ciclo de alta da Selic se aproxima do fim, claro isso não ocorrer nenhum reviravolta macroeconômica.
O fim do movimento de alta de juros costuma ser a senha a volta do interesse de investidores por acrescentar ativos mais arriscados na carteira. Um fluxo de recursos mais consolidado para as ações, porém, tende a acontecer quando o BC começa efetivamente a sinalizar a proximidade do ciclo de corte da Selic. Trata-se de uma perspectiva que o mercado coloca mais para 2026. Enquanto isso, o valor da Porto Saúde escala a olhos vistos.
Os resultados da própria Porto mostram que o grupo tem fôlego para manter a vertical no rumo das metas apenas com as próprias forças. A holding alcançou uma receita total de R$ 9,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025, o maior resultado recorrente da história, segundo a companhia, com alta de 15% frente ao mesmo período de 2024. O lucro líquido foi de R$ 832,3 milhões no período com expansão anual de 28%.