Segundo fontes ouvidas pelo InvestNews, a IG4 caminha para fazer uma proposta pela companhia, mas isso ainda não ocorreu. “Alguma discussão prévia pode acontecer no comitê de investimento da Petrobras, mas isso só vai para deliberação do conselho quando a proposta parar em pé, o que ainda não é o caso”, disse uma pessoa envolvida nas negociações.
Como a conferência com analistas foi realizada à tarde, após o noticiário destacar o avanço da IG4 pela companhia, o assunto tomou conta também das perguntas para os executivos da Braskem. Questionado sobre a possibilidade de desfecho do imbróglio, o CEO da companhia, Roberto Ramos, reforçou que a empresa continua em “compasso de espera”. “Não somos nem atores coadjuvantes, nós somos espectadores. Talvez espectadores de primeira fila, mas apenas espectadores”, disse ele.
Já Felipe Jens, o CFO da Braskem, reforçou que as conversas estão em curso, mas que ainda não é possível prever o fechamento do negócio. “As conversas estão sendo aprofundadas e os diagnósticos estão sendo discutidos e aprimorados. Nenhuma possibilidade está nem definida e nem descartada.”
Enquanto aguarda pelo desfecho, a Braskem busca soluções para diminuir seu pesado endividamento. Ramos descarta a venda de ativos até que haja uma definição sobre o futuro da companhia. “Já manifestei minha maneira de ver de que vender ativo significa trocar fluxo de caixa atual por futuro, e isso só tem sentido se for em condições muito vantajosas”, reiterou o CEO.
A Braskem reportou aumento do endividamento e prejuízo de R$ 26 milhões no terceiro trimestre do ano. A alavancagem mais que dobrou em relação ao registrado um ano atrás: a relação entre dívida líquida e Ebitda ficou em 14,76 vezes, ante 6,08 vezes no terceiro trimestre de 2024. Diante disso, a empresa tem o desafio de cortar custos e, ainda assim, investir para gerar caixa em outras frentes diante da incerteza do setor petroquímico. A empresa estabeleceu como meta a negociação com fornecedores, em busca de maiores prazos de pagamento, e a redução de custos logísticos, energia e suprimentos. Ou seja, um plano de reestruturação que não envolve a venda de ativos.
A dívida líquida ajustada da companhia ficou em US$ 7,11 bilhões, com alta de 22% em relação a um ano atrás e 5% maior que a do segundo trimestre de 2025. A empresa reforçou que há um acordo com o governo de Alagoas para o pagamento de R$ 1,2 bilhão em indenizações relacionadas ao desmoronamento do solo em bairros da capital alagoana, Maceió; um desastre causado pela extração de sal-gema pela petroquímica. O valor será pago ao longo de 10 anos.
Novos investimentos
A Braskem também busca estruturar caixa para a execução da expansão de capacidade de sua central petroquímica do Rio de Janeiro, que prevê um aumento de 220 mil toneladas por ano na capacidade de eteno. A conclusão é prevista para 2028 e o investimento é estimado em R$ 4,2 bilhões. Para o início do projeto, foi utilizado um programa de incentivos para a indústria química chamado REIQ (Regime Especial da Indústria Química). Segundo Jens, o CFO da companhia, o projeto tem condições de gerar até US$ 200 milhões por ano de Ebitda adicional à empresa quando for concluído.
“Nós temos um cronograma que se inicia na fase de engenharia, neste exato momento, e se prolonga até o final de 2028/29, quando o projeto estaria, então, concluído. Se fizéssemos uma conta prospectiva de qual é o valor adicional que isso poderia causar no Ebitda da companhia, usando uma capacidade instalada adicional de 220 mil toneladas e utilizando uma média recente dos spreads dos últimos anos de US$ 860 a tonelada, chegaríamos a um valor pouco abaixo de US$ 200 milhões por ano de EBITDA adicional que a gente estaria colocando na companhia”, explica Jens.
Antidumping
O futuro da empresa não está somente em suas mãos. A companhia aguarda ansiosamente a aprovação de um projeto de lei que expandiria o programa REIQ. Intitulado PRESIQ, o programa cria um novo regime para o período de 2027 a 2029, com possibilidade de créditos industriais de até 5% do valor de aquisição de matérias-primas (limitados a R$ 4 bilhões), dos quais 10% devem ser reinvestidos em P&D. O projeto, que aguarda apreciação no Senado, é visto por analistas do mercado como uma salvação para a Braskem, já que daria fôlego para que a companhia termine seus investimentos, sobretudo na ampliação de seu complexo no Rio de Janeiro.
“Estudos técnicos da Abiquim indicam que este projeto poderá gerar impacto positivo estimado de R$ 112 bilhões no PIB brasileiro até 2029, criar até 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos, recuperar até R$ 65 bilhões em arrecadação tributária, além de elevar a utilização da capacidade instalada do setor que opera no nível mais baixo da indústria”, diz Rosana Avolio, diretora de relações com investidores da Braskem.
Além disso, a companhia também tem atuado junto à indústria no processo antidumping para o polietileno importado dos EUA e do Canadá. Nas contas da XP Inc, se aprovado, a medida poderia adicionar cerca de US$ 100 milhões em Ebitda para a Braskem. Diante da queda da demanda global, a companhia defende a aplicação da medida protetiva para importação do polietileno para consumo interno e uma manutenção da alíquota de imposto de importação de 20% no Brasil para resinas de polietileno, polipropileno e PVC.