A fundação detinha 4,93% do capital da BRF e era uma das vozes mais críticas à operação com a Marfrig. Foi ela quem se manifestou cobrando da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mais transparência na relação de troca entre as ações das empresas e atuou pelo adiamento das assembleias que sacramentariam o negócio.
Segundo uma das fontes, a venda foi realizada na última sexta-feira (11), a R$ 23 por ação, em um negócio que movimentou cerca de R$ 1,9 bilhão. Por ter participação inferior a 5%, o fundo de pensão não é obrigado a informar a CVM sobre a venda dos papéis.
Procurados pelo InvestNews, Previ, BRF e Marfrig não comentaram. Após a publicação da reportagem, a Previ confirmou que vendeu suas ações na BRF, afirmando que a medida atendia ao melhor interesse de seus cotistas.
Molina aumenta participação
Nos bastidores, a informação é que o comprador da fatia da Previ seria o próprio Marcos Molina, por meio de sua holding pessoal, o fundo MAMS. A operação contaria com apoio financeiro do BTG Pactual. Comunicados recentes divulgados pela BRF fizeram esse rumor crescer.
Nesta segunda-feira (14), o BTG informou ao mercado que passou a deter 7,79% do capital da BRF — cerca de 131 milhões de ações — além de mais de 100 milhões de opções de venda com liquidação física e financeira. Procurado, o BTG não comentou.
Já Marfrig e os veículos de Molina (MMS e MAMS) comunicaram na sexta-feira que passaram a deter, em conjunto, aproximadamente 58,87% do capital social da BRF, além de instrumentos financeiros derivativos referenciados em ações ordinárias, com liquidação exclusivamente financeira, equivalentes a cerca de 5% das ações.
Se confirmada a hipótese do mercado, o BTG teria funcionado como um financiador da operação, dando suporte para a compra das ações. É um modelo comum no mercado: o investidor — nesse caso, Molina — assumiria o risco financeiro da posição (ou seja, ganha ou perde com a variação do papel), enquanto o banco aparece temporariamente como o dono formal das ações. A titularidade só mudaria de fato quando o contrato é encerrado ou executado.
Pessoas próximas ao empresário, no entanto, negam o rumor e afirmam que as operações são independentes e não têm relação direta. Uma fonte lembra ainda que as operações de derivativos de Molina costumam ser feitas pelo JPMorgan, conforme a BRF divulga mensalmente.
Independentemente quem seja o comprador, com a saída da Previ, Molina avança no tabuleiro societário da BRF. O fundo de pensão havia entrado na Justiça e na CVM para impedir a realização da assembleia que irá sacramentar o negócio alegando falta de transparência de BRF e Marfrig.
Além da Previ, a gestora Latache e o investidor Alex Fontana também atuam para barrar a fusão que daria origem à MBRF Global Foods.
A proposta de fusão entre as empresas continua em análise na CVM, e ainda não há nova data para a assembleia de acionistas.