Negócios
Projeção de crescimento da Nvidia inclui negócios no Brasil, com avanço estimado em 50%, diz diretor
Marcio Aguiar comenta que foco da empresa no país está nas áreas de óleo e gás, educação, telecomunicações e finanças.
“A gente nunca começou um ano, confesso a você, com tanta velocidade e tantos projetos acontecendo.” A frase é de Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia (NVDC34) para América Latina, em entrevista ao InvestNews. Após entregar resultados acima do esperado no 4º trimestre de 2023, a empresa projeta forte crescimento para os próximos meses, em um movimento global que deve se esperar nas atividades da companhia no Brasil, segundo o executivo.
Os números mais recentes impressionaram investidores, com a empresa chegando a bater US$ 2 trilhões em valor de mercado. Entre as cifras que puxaram essa alta estão os US$ 22 bilhões em receitas no quarto trimestre, acima das estimativas de cerca de R$ 20 bilhões. Para os próximos meses, a empresa projeta um salto de 265% desses números.
No Brasil, os negócios também estão em expansão, conta Aguiar, citando alto volume na demanda. “A gente tem um prognóstico de crescer entre 40 e 50%, para ser bem humilde, mas a gente estima que vai até superar isso.”
Com as atenções do mundo todo cada vez mais voltadas à tecnologia da inteligência artificial (especialmente a generativa), o Brasil segue a mesma tendência. E Aguiar aponta as áreas que estão no foco da empresa como maior potencial de demanda por aqui.
“No Brasil a gente tem um forte crescimento e estamos fazendo essa projeção na área de energia, principalmente as empresas de óleo e gás, dentro do nosso mercado de educação e pesquisa e o mercado de telecomunicações”, afirma ele, citando também o “mercado de finanças”.
Não são exatamente as mesmas áreas que se destacam entre os maiores esforços da Nvidia a nível global atualmente (a saber: saúde, automóveis e finanças). E o motivo para isso são as características de cada mercado, diz Aguiar, tomando como exemplo a área da saúde.
“A gente não tem muita (demanda) área de saúde (no Brasil), porque as grandes corporações que estão envolvidas nesse mercado são instituições estrangeiras. Que também estão no Brasil, mas não é do Brasil que saem esses novos projetos de inovação e pesquisa. Saem das suas matrizes da Europa aos Estados Unidos”, explica o executivo.
Enquanto isso, lá fora, “as empresas no setor, tanto na parte de laboratórios que estão descobrindo novos medicamentos, até as empresas que fabricam instrumentos, como máquinas de tomografia, sensores de imagem, todas estão aprendendo como trazer esses novos conceitos computacionais para dentro dos seus negócios”, diz Aguiar.
Um dos exemplos de atuação da Nvidia nessa área é o modelo que usa IA para prever novas cepas do vírus da covid-19, anunciado em novembro. E Aguiar afirma que “o mercado de saúde ainda não atingiu seu pico máximo de consumo dessas plataformas da Nvidia.”
De qualquer forma, independente da área ou da região, o executivo aponta que o espaço para o crescimento do uso da tecnologia de IA entre as corporações ainda é gigantesco. “Você pega uma Microsoft com o Copilot, que só foi liberado no final do ano passado e já tem 50 mil corporações usando esse serviço. E o Copilot roda 100% nas GPUs da Nvidia. Com isso, outras empresas começam a vir também, ‘eu vou oferecer o meu próprio ChatGPT‘.”
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“E com isso a gente está tendo esse prazer de entregar tudo o que nós desenhamos, o que nós acreditamos e havíamos dito a todos eles que essa demanda iria chegar”, diz Aguiar.
a.C. e d.C: antes e depois da China
Três meses atrás, a Nvidia também apresentou resultados robustos ao mercado. Mas, ao contrário do que acontece agora, naquele momento as ações da empresa caíam na bolsa. O motivo é que, a despeito dos números, rondava no mercado a preocupação sobre o que seria da empresa após as restrições dos Estados Unidos para a venda de chips na China – um dos maiores mercados da Nvidia.
A empresa passou então a trabalhar em chips que respeitassem as regras do governo de seu país e pudessem ser vendidos às empresas chinesas, até chegar a dois modelos que já estão em fase de testes. “É uma linha muito tênue. A gente concorda com essas e regulamentações, imposições, mas a gente também entende que estamos aqui para trazer inovação para todos os mercados, todos os países”, comenta Aguiar.
Mas, apesar das mudanças na regulamentação terem ocasionado uma queda no volume total de chips vendidos pela Nvidia nos últimos meses, a receita da empresa não foi para o mesmo caminho. Isso porque, segundo explica Aguiar, o movimento foi compensado por outros mercados, especialmente na Europa. Esses locais, apesar de não terem a mesma demanda por volume, foram destino de produtos com tecnologia mais avançada – ou seja, mais cara. O resultado: a alta da margem compensou a queda do volume.
“A China sempre foi uma grande consumidora nossa, principalmente no nível de educação e pesquisa. As maiores faculdades chinesas sempre investiram muito nas tecnologias na Nvidia”, conta Aguiar, emendando que a necessidade desses clientes não era pelos modelos mais avançados de GPUs, “porque era ainda nível de pesquisa e desenvolvimento”.
“E a gente acabou sim tendo uma demanda muito grande pelos nossos modelos mais high end (alta qualidade) que é a geração H100, agora já começa a ter para H200, que são as GPUs que a gente desenhou para atender essa demanda computacional de IA generativa. Então, com isso, a nossa margem cresceu ali para 76%.”
IA generativa X ‘hype’ do mercado
O avanço das ações ligadas a IA já chegou a ser apontado como “bolha” no mercado, com analistas recomendando cautela aos investidores. Mas especialistas têm deixado de lado essa avaliação para Nvidia.
Após a divulgação dos últimos resultados da companhia, Richard Clode, gerente de portfólio de tecnologia na Janus Henderson Investors, escreveu em comentário: “Mesmo com o hype da IA, ao contrário de 2020, com o retorno do custo de capital, o mercado está recompensando as empresas que oferecem fundamentos sólidos e vemos o desempenho do preço das ações apoiado por lucros reais e fluxo de caixa como muito mais sustentável.”
Do outro lado do balcão, Marcio Aguiar defende que “é muito difícil de falar que isso aqui é uma ‘bolha’ ou um ‘boom’”. “É que as pessoas descobriram IA generativa no final de 2022, quando saiu o anúncio do OpenAI com ChatGPT, usando mais de 10 mil GPUs da Nvidia. Só que, para nós, começou esse trabalho com eles em 2016, então não é uma coisa nova”, afirma ele, comentando ainda que o aperfeiçoamento segue em curso.
“O nome é ‘inteligência artificial’, é igual à nossa inteligência no sentido de que a cada ano que passa a gente vai evoluindo cada vez mais. É impossível dizer que chegamos no limite.”
Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia
Enquanto do lado de fora da empresa as avaliações se intercalam de “hype da IA” até expectativas para uma realidade cada vez mais disruptiva, internamente a orientação do CEO Jensen Huang aos funcionários da Nvidia é não dar ouvidos às especulações – seja para o bem ou para o mal.
“Play the game, the score will come”, diz ele, conta Aguiar sobre a frase que significa: “jogue o jogo, o placar virá.”
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