Negócios
Reféns de commodities, Petrobras e Vale iniciam 2024 mirando transição verde
Petróleo e minério de ferro devem ditar desempenho das ‘blue chips’ em 2024, mesmo com avanço de projetos sustentáveis
O ano de 2023 foi marcado pela volatilidade nos preços das principais commodities industriais para a bolsa brasileira, em especial na segunda metade do ano. Esse vaivém respingou no desempenho das ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR4), apesar das investidas de ambas as empresas em projetos sustentáveis.
Enquanto o rali do petróleo aconteceu antes do ataque terrorista do Hamas contra Israel, em outubro, em meio aos cortes na produção de grandes exportadores, o minério de ferro atingiu seu maior valor em dois anos, em meados de novembro. Aliás, o desempenho destoante entre as cotações foi destaque desde a virada do terceiro para o quarto trimestre.
Na ocasião, o barril do tipo Brent, a referência internacional, já se afastava da marca simbólica de US$ 100, retrocedendo aos menores níveis desde meados de julho, ao passo que o metal básico negociado no mercado futuro chinês (Dalian) valia o equivalente a pouco mais de US$ 130 a tonelada métrica, maior cotação desde agosto de 2021.
Ao mesmo tempo, a Vale acumulou quatro meses seguidos de valorização na B3, subindo 17,5% entre setembro e dezembro. Já a estatal petrolífera interrompeu em outubro a arrancada do mês anterior, ficando praticamente no zero a zero, para depois subir pouco mais de 7% nos últimos dois meses de 2023.
Já em 2024, mesmo com o avanço da ‘transição verde’, as blue chips devem seguir reféns do comportamento do petróleo e do minério de ferro. Ainda assim, a expectativa é de valorização nos preços dos insumos básicos, em meio a cortes nos juros pelos principais bancos centrais do mundo e à aceleração da atividade econômica global.
“O cenário macroeconômico e de mercado será mais positivo para as matérias-primas em 2024, à medida que os sinais de enfraquecimento da inflação devem permitir às economias avançadas começarem a afrouxar a política monetária, com reflexos positivos em consumo e investimentos”, afirma a Capital Economics, em relatório.
Para a equipe de economistas em commodities da consultoria britânica, a maior parte dos preços das matérias-primas deve subir no segundo semestre de 2024. No entanto, a procura por fontes de recursos renováveis tende a beneficiar mais os metais básicos, em detrimento dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural).
“A rápida implantação de energias renováveis e de veículos elétricos pesará cada vez mais sobre os combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que dará impulso à procura e aos preços dos metais básicos”.
equipe de economistas em commodities da Capital Economics, em relatório.
‘Transição verde’
Nesse sentido, Petrobras e da Vale buscam avançar em meio aos desafios da transição energética e na descarbonização da indústria, sob o pilar da governança socioambiental (ESG, na sigla em inglês). A grande dúvida para 2024 é: com qual rapidez as duas empresas vão seguir para que tais objetivos sejam cumpridos?
Para o BB Investimentos, a mineradora está bem preparada, diante da exigência cada vez maior de ofertar produtos premium. Em relatório recente, os analistas Mary Silva e Victor Penna lembram que a Vale já assinou acordos para a instalação de “mega hubs” no Brasil e no exterior para produzir produtos que contribuam com a redução de gases do efeito estufa.
Ao mesmo tempo, eles avaliam que a mineradora vem progredindo na descaracterização de barragens menos seguras e monitorando os riscos de rompimento, oito anos após o desastre de Mariana, que se repetiu quatro anos depois em Brumadinho, ambas cidades em Minas Gerais.
“Apesar do desafio de custos, o anúncio de parcerias vem contribuindo não apenas com a entrega de melhores resultados, mas também na geração de valor dos produtos”.
Mary Silva e Victor Penna, do BB Investimentos, em relatório.
Já em relação à Petrobras, o analista Daniel Cobucci, também do BB, vê uma atuação mais integrada, em termos de exploração, produção e refino, após uma mudança de posicionamento estratégico. Ele lembra que o ano de 2023 foi marcado pela modificação nas políticas de dividendos e comercial, além da entrada em energias renováveis.
“Com isso, deve-se esperar por anúncios da Petrobras em projetos mais ligados a fontes renováveis de energia, com novas aquisições e parcerias estratégicas, a exemplo do que companhias globais do setor têm feito, notadamente em eólica e hidrogênio”.
Daniel Cobucci, do BB Investimentos, em relatório.
Assim, tanto a Vale quanto a Petrobras devem criar um caminho dentro de seus respectivos negócios de olho na “agenda verde”. Contudo, isso tende a impactar os dividendos das companhias, tal como se observou ao final do terceiro trimestre de 2023. Porém, essa diversificação possibilita atuar em segmentos que devem complementar o portfólio de produtos para demandas futuras, tornando-se cada vez menos dependentes de commodities tradicionais.
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