O ego deu lugar ao pragmatismo, e Alexandre Birman e Roberto Jatahy chegaram a um armistício no Azzas 2154 — empresa dona de marcas como Hering, Reserva e Farm Rio, que carrega no próprio nome a ambição de pensar um século à frente.

Depois de meses de especulações sobre um possível “divórcio” societário entre os controladores, a dupla selou um novo acordo e promoveu mudanças na governança da companhia.

A principal alteração foi a redução no número de cadeiras do Conselho de Administração, que passou de nove para sete membros, com fortalecimento dos votos independentes. Nomes como o de Guilherme Benchimol, fundador e chairman da XP — apontado como um dos “padrinhos” da fusão entre Soma e Arezzo — foi um dos que deixou o colegiado recentemente, dando lugar ao advogado André De Vivo.

A presidência do conselho também mudou de mãos: Pedro Parente deixa o cargo. Conhecido por ser um executivo eclético e hábil em apagar incêndios, Parente recebeu a deferência de Birman e Jatahy como o conciliador do novo arranjo.

Agora, Nicola Calicchio Neto, ex-McKinsey e atual presidente do conselho da Cimed, assume como chairman do Azzas. Ele também comandará o novo comitê de estratégia e integração, criado para operacionalizar sinergias e blindar a operação contra os atritos entre os grupos.

Azzas pro futuro

Poucos meses após celebrar um casamento que pretendia ser mais que centenário, Birman e Jatahy mostraram que o desapego não é um exercício fácil para quem moldou seus próprios feudos ao longo de décadas.

A fusão entre Arezzo e Soma, formalizada em agosto de 2024, uniu dois líderes de perfil forte e histórico de protagonismo absoluto. Birman, filho do fundador da Arezzo, e Jatahy, idealizador do Grupo Soma, tentaram dividir o comando, mas os ruídos começaram cedo — com demissões estratégicas, disputas por espaço e a entrada de advogados em diferentes frentes da negociação.

A nova configuração da governança vem acompanhada de um discurso de horizontalização e “continuidade do plano de longo prazo” — uma tentativa de reforçar que o grupo é maior que seus fundadores. O fato relevante divulgado evita mencionar diretamente Birman ou Jatahy, sinalizando que o foco agora é institucional.

O pano de fundo para o armistício também foi dado pela própria performance da ação. Desde o início do ano, os papéis da Azzas oscilaram entre extremos: caíram mais de 25% até meados de março, quando surgiram as primeiras notícias de desentendimento entre os fundadores, e chegaram a ser negociados a pouco mais de R$ 21. A percepção de risco de cisão e conflitos de governança afastou investidores. Mas, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, que mostraram início da captura de sinergias, o papel se recuperou e já acumula alta de quase 40% no ano.

Mais do que um recado interno, o novo acordo mira também os investidores institucionais, que vinham acompanhando o conflito com lupa. Fundos como BlackRock, CPP, Westwood e Opportunity formam um bloco relevante na base acionária e já haviam atuado nos bastidores da fusão — especula-se no mercado que esse grupo teria, inclusive, poder de veto sobre uma eventual cisão.