O petróleo é o principal produto da pauta de exportação do Brasil aos Estados Unidos e até então estava isento da tarifa de 10% aplicada neste ano para as exportações brasileiras ao país norte-americano. Mas não está claro se a commodity permanecerá isenta com a nova tarifa de 50% que será imposta sobre as exportações do Brasil a partir de agosto.
“A imposição dessas tarifas pode gerar ruídos de curto prazo nos fluxos comerciais e impactar as margens em contratos spot, mas não representa um risco estrutural para o escoamento da produção do Brasil”, informaram os analistas do BTG Pactual Luiz Carvalho e Gustavo Cunha, em relatório a clientes.
“O Brasil possui flexibilidade logística e comercial para preservar a competitividade de seus barris no mercado global”, relata o documento.
O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) afirmou em nota nesta quinta-feira (10) que vê a medida do presidente dos EUA Donald Trump “com preocupação”.
“O IBP defende o diálogo aberto entre as lideranças brasileiras e norte-americanas a fim de encontrar uma solução diplomática”, disse em nota o IBP, que representa petroleiras com atuação no Brasil, como Petrobras, Shell, TotalEnergies e Equinor.
Questionado, o IBP não tinha informação se a isenção tarifária continuaria válida, após o anúncio da véspera.
“A medida traz incertezas para o setor de petróleo e gás, que responde hoje por 17% do PIB industrial brasileiro e 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos no país.”
Em 2024, o Brasil exportou um total de 1,78 milhão de barris por dia (bpd), sendo que 243 mil bpd foram destinados aos EUA, segundo dados do governo compilados pela consultoria StoneX. Em termos de receita, as vendas de petróleo do Brasil ao exterior somaram US$ 44,96 bilhões, sendo US$ 5,83 bilhões ao país norte-americano.
Petrobras
Os analistas do BTG ressaltaram não acreditar, entretanto, que a Petrobras, principal produtora do Brasil, seja “impactada de forma significativa pelas tarifas”. No primeiro trimestre do ano, apenas 4% das exportações da estatal brasileira foram destinadas aos EUA, segundo dados da companhia.
Já em relação aos derivados, a participação das exportações da Petrobras para os EUA foi de 37% de um total de 209 mil barris por dia (ou cerca de 77 mil barris por dia).
“Embora os EUA tenham uma participação considerável nas exportações de derivados, quando olhamos em termos absolutos, acreditamos que esse é um volume pequeno e que a Petrobras deve conseguir redirecionar esse fluxo de exportação para outro país com facilidade”, afirmaram os analistas do BTG.
Em nota, a Petrobras afirmou que está avaliando o impacto da tarifa anunciada na véspera e mantém sua estratégia de buscar sempre “a melhor alternativa para a empresa em qualquer cenário”.
Nesta quinta-feira, as ações preferenciais da Petrobras operavam perto da estabilidade.
“O posicionamento comercial e a atuação global da Petrobras permitem monitorar permanentemente os movimentos do mercado internacional e observar as opções mais econômicas”, afirmou a estatal.
Embora o petróleo do Brasil represente uma pequena parcela das importações norte-americanas do produto, a tarifa de 50% poderá levar a uma mudança no perfil de compradores de petróleo, se confirmada, com uma possível maior participação de países asiáticos em detrimento dos Estados Unidos, na avaliação da analista de Inteligência de Mercado da StoneX Isabela Garcia.
Em um cenário mais pessimista, Garcia afirmou em nota que “impactos de curto prazo podem envolver um recuo nas exportações de petróleo enquanto essas alterações se concretizam”.
Negociação entre governos
O especialista no setor de energia, óleo e gás do Instituto de Economia da UFRJ Aldren Vernersbach ponderou à Reuters que ainda existe um período para articulação e negociação entre os governos, pois a taxa entrará supostamente em vigor somente em agosto.
“Em face da relação comercial estável e longeva entre Brasil-EUA e da qualificada estruturação da corrente de comércio internacional do país, uma consistente negociação deve ser realizada, pautada nas boas práticas econômicas e comerciais”, afirmou o especialista.
Vernersbach comentou, no entanto, que a China lidera a compra de petróleo brasileiro, com participação de 44,4%, considerando dados de 2024.
“Na hipótese do cenário da sobretaxa se consolidar, as empresas brasileiras têm a possibilidade de ampliar as exportações… para outras nações”, disse Vernersbach. “O setor de óleo e gás brasileiro é robusto e eficiente, se insere facilmente nos mercados globais.”
Riscos de uma retaliação
Sobre outros riscos em jogo, Garcia destacou que caso haja alguma retaliação por parte de Brasília sobre os produtos norte-americanos, o Brasil poderá se voltar para novos fornecedores, ampliando as importações de produtos russos e de países da Europa e Oriente Médio, com riscos de preços de importação mais elevados.
Atualmente, o Brasil depende em parte de importações dos Estados Unidos, que representaram 24,7% do volume internalizado de diesel no primeiro semestre de 2025, de um total de 7,9 bilhões de litros. No caso da gasolina, essa participação foi de cerca de 34%, de um total de 1,2 bilhão de litros de diesel importado.
O sócio-diretor da Raion Consultoria Eduardo Oliveira de Melo destacou que o diesel russo, hoje, é preponderante nas importações do Brasil, porque ele é um produto mais barato.
“Hoje, ele é negociado na ordem de 3% a 5% mais barato do que o produto nova-iorquino”, disse ele, pontuando que uma maior procura pelo diesel russo poderia provocar uma diminuição desse prêmio que o faz tão atrativo atualmente.
“Em um outro ponto, também podemos migrar para outras fontes alternativas que já existem, que são os Emirados Árabes, Arábia Saudita, Romênia. Porém, esses produtos acabam tendo um custo maior.”