A Taurus fabrica pistolas e rifles, e se vende como uma “líder indiscutível em preços do setor”. A empresa exporta a maior parte de seus produtos do Brasil para os Estados Unidos.
Assim, um aumento de 50% na taxa de importação, paga por compradores americanos, se tornou uma ameaça existencial. A Taurus precisava, então, de uma ajuda em Washington.
Por meio da empresa de Ballard e de outras companhias com laços estreitos com figuras do governo Trump, a Taurus, além de outros fabricantes de armas, agora tenta apelar ao presidente por alívio, invocando as preocupações de sua base política.

O poder do lobby para a Taurus
As tarifas de Trump podem trazer mais empregos para os Estados Unidos, argumentam eles. Mas os impostos não deveriam gerar preços mais altos para armas de fogo a apoiadores.
Ganhando ou perdendo, esse argumento reflete o papel descomunal que uma pessoa, no caso, Donald Trump, desempenha na concessão de alívio tarifário.
E ajuda a explicar por que uma associação informal de lobistas com laços estreitos com o presidente, Ballard em primeiro lugar, está prestes a ganhar muito dinheiro. A confusão em torno das tarifas — e o processo turvo para a concessão de exclusões — dá àqueles que podem anunciar tais laços uma vantagem na conquista de clientes, afirmam lobistas e advogados comerciais.
O lobby sobre tarifas e outras questões relacionadas ao comércio atingiu um recorde histórico no primeiro semestre de 2025.
Foram gastos US$ 908 milhões, um aumento de 28% em relação ao primeiro semestre de 2024 e 35% a mais em relação ao mesmo período em 2023, de acordo com uma análise da Bloomberg sobre divulgações federais.
A empresa de Ballard, Ballard Partners, viu sua receita aumentar 305%. Ela representa quase 300 clientes, incluindo a Amazon, a Walt Disney Company, a Universidade de Harvard e a National Football League, e conquistou mais negócios com novos clientes do que qualquer outra empresa entre abril e junho deste ano. As tarifas são o motivo mais importante, diz Ballard.
“As tarifas parecem estar sempre em primeiro plano”, disse ele em uma entrevista. “Para nós e para as empresas é uma grande questão.”
Sem armas
Ballard afirma não possuir nenhuma arma de fogo. “Olho para um veado e penso: ‘Prefiro ver você, do que atirar em você’.”
Apesar disso, ele afirma que a proteção dos direitos de porte de armas prevista na Segunda Emenda da constituição dos EUA oferece ao seu cliente um argumento convincente. “Entendo que é um bom argumento político.”
A Taurus já tem uma fábrica nos EUA e argumentou aos formuladores de políticas que as tarifas também afetarão essa fábrica. Um representante da empresa não quis comentar.
Em seus esforços para manter as tarifas sob controle, grandes clientes como a Apple recorreram a grupos de lobby com vínculos com o governo Trump e sua família.
Associações industriais e fabricantes menores também o fizeram. Cada novo governo vê pelo menos alguma mudança em termos de quais lobistas exercem a maior influência.
As presidências de Trump foram um pouco diferentes, de acordo com lobistas, advogados e representantes corporativos em Washington: elas trouxeram novos participantes que atraíram clientes e revolucionaram o modelo de negócios estabelecido.
O poder do lobby nos EUA
Empresas como a Ballard Partners e Miller Strategies — fundada por Jeff Miller, que atuou como ministro da economia na segunda posse de Trump — começaram a crescer durante o primeiro mandato de Trump e aceleraram desde seu retorno.
A eles se juntam os recém-chegados, como Checkmate Government Relations, que arrecadou mais de US$ 5 milhões desde que se registrou para operar em Washington no final do ano passado. Mais de um quinto dessa receita veio de empresas como Hanesbrands e Novo Nordisk buscando ajuda com questões tarifárias e comerciais, mostram registros federais.
Empresas com laços estreitos com funcionários do governo ou com a família Trump aparecem com destaque na lista de empresas de lobby que divulgaram a receita de crescimento mais rápido neste ano, de acordo com a análise da Bloomberg.
Entre elas, estão: Mercury Public Affairs, na qual a chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles, serviu como co-chair; Checkmate, que é liderada por um companheiro de caça de Donald Trump Jr.; Continental Strategy, liderada por Carlos Trujillo, ex-assessor de campanha de Trump; e Valcour Global Public Strategy, fundada por Matt Mowers, que serviu no Departamento de Estado durante o primeiro governo Trump.
Os números divulgados de lobby capturam apenas parte do dinheiro gasto para tentar influenciar o governo.
A lei federal exige que apenas aqueles que dedicam 20% ou mais do seu tempo a fazer lobby divulguem seus negócios. Na prática, uma grande parte do “lobbying paralelo” é realizado por consultores e advogados que não apresentam nenhuma divulgação.
Trump insistiu que não há exclusões em suas tarifas, mas os registros mostram que ele concedeu alívio repetidamente, apesar da falta de um processo formal para que as empresas o solicitem.
A Bloomberg noticiou que o governo permitiu exclusões de produtos importados em valor superior a US$ 1 trilhão no ano passado. Esse número só cresceu desde então.
Ao anunciar tarifas de 100% sobre produtos farmacêuticos importados em 25 de setembro, Trump incluiu um recorte para qualquer empresa que estivesse construindo uma fábrica nos EUA.
A Pfizer informou que havia recebido uma suspensão de três anos das tarifas, concordando em cortar alguns de seus preços de medicamentos em até 85%. Essas medidas seguiram uma expansão da lista de produtos isentos das tarifas do “Dia da Libertação”, marca registrada do presidente.
A ordem executiva de 30 de julho que provocou a corrida do lobby da Taurus ao impor novas tarifas sobre as importações brasileiras incluiu uma lista de quase 700 produtos isentos, de aviões a castanhas-do-pará.
O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, disse que as decisões sobre exclusões tarifárias se resumem a um critério. “O presidente Trump foi claro: você não precisa se preocupar com tarifas se fabricar seu produto nos Estados Unidos da América”, disse ele. “O único interesse especial que norteia a tomada de decisões do presidente e do governo é o interesse do povo americano.”