O sistema, desenvolvido em parceria com as empresas norueguesas Brevik Engineering AS e Passer Marine, permitirá que as embarcações fretadas pela mineradora possam ser adaptadas para, no futuro, armazenar combustíveis como gás natural liquefeito (GNL), metanol e amônia.
Dos 114 navios de grande porte operados pela empresa, 77 poderão receber o tanque multicombustível. Isso sem contar as futuras embarcações que vierem a ser fretadas. A empresa já investiu 1 milhão de dólares no projeto e estima que até a sua conclusão os investimentos sejam de cerca 30 milhões de dólares por navio.
Rodrigo Bermelho, gerente de engenharia naval da Vale, explica que a validação do sistema é um passo importante no processo de adoção de combustíveis alternativos, considerando que a mineradora é intensiva no transporte marítimo para levar milhões de toneladas de minério de ferro para países como a China, todos os anos.
“Essa verificação, chamada de ‘approval in principal’, significa que o tanque está em conformidade com todas as regras e que está muito próximo de ser implementado de forma real no navio. Não é obrigatório, mas é uma prática do mercado”, disse Bermelho.
A Vale pretende dar início à implementação do sistema em 2023. Considerando os prazos necessários para a fabricação e adaptação, a estimativa é que os tanques comecem a ser usados no início de 2025.
Bermelho diz que na comparação com o atual óleo bunker, de origem fóssil, as reduções de emissão de carbono são de cerca de 23% para o GNL e de 40% a 80% para amônia e metanol. As projeções se referem aos navios da categoria Guaibamax, do grupo de grande porte.
“A definição de qual será o combustível ideal, o ‘combustível do futuro’ tem várias dificuldades, como estrutura regulatória, preços etc. No meio dessas incertezas, nós trabalhamos esse projeto”, disse Bermelho.
Metas alinhadas ao acordo de Paris
Desde 2020 a Vale anunciou investimentos de até 6 bilhões de dólares para reduzir em 33% as suas emissões de escopos 1 e 2 até 2030. Como os navios da companhia são fretados, a navegação faz parte do escopo 3, relativo às emissões indiretas. Para esse grupo, a empresa se comprometeu com uma redução de 15% até 2035.
O programa Ecoshipping, do qual o projeto do tanque multifuel faz parte, é uma das iniciativas para o alcance dessa meta.
“O metanol é um álcool que pode ser produzido a partir da biomassa, então é um biocombustível. A amônia não carrega carbono, mas hidrogênio, que poderia ser produzido principalmente a partir de fontes renováveis. Ou seja, são combustíveis com baixíssimas emissões na cadeia”, disse Bermelho, acrescentando que a amônia ainda não é usada na navegação internacional, mas o GNL e o metanol sim, embora em pequena escala.
Hoje, os navios da Vale transportam minérios principalmente para países da Ásia, como Japão, China e Coreia do Sul. As embarcações saem dos terminais Ilha Guaíba, no Estado do Rio de Janeiro, e Ponta da Madeira, no Maranhão, além do Porto de Tubarão, no Espírito Santo.