Charizard, Black Lotus, Mind Twist. Para a imensa maioria, esses nomes não querem dizer nada. Mas, para um certo público, eles causam arrepios. E esses arrepios fazem girar um bom dinheiro.
Essas são cartas de TCG (Trading Card Games), ou Jogos de Cartas Colecionáveis. Algumas custam milhares de dólares a unidade no mercado informal. Outras, milhões – a mais cara da história trocou de mãos por US$ 5 milhões, o valor de um jatinho particular.
Os principais jogos desse mercado são de grandes franquias do entretenimento, como Pokémon, Star Wars e Yu-Gi-Oh! Eles envolvem gigantes da indústria, caso da Disney e da Hasbro, a fabricante de brinquedos.
O mais antigo e tradicional entre os TCGs é o Magic: The Gathering. Trata-se de um jogo de estratégia baseado em um universo próprio de criaturas, criado pela Wizards of the Cost em 1993. Hoje, a marca faz parte da Hasbro e possui mais de 50 milhões de jogadores no mundo. Em 2022 o Magic sozinho superou a marca de US$ 1 bilhão em receita anual.
O mundo de Magic e seus congêneres agita campeonatos em convenções que reúnem milhares de jogadores batalhando simultaneamente.
Esse universo já parece opulento por esse olhar. Só que tem mais. Não falta quem veja as cartas de TGC como um investimento, buscando encontrar raridades para revender com lucro exponencial. Para você entender melhor essa história, seguem dois parágrafos explicando a essência desse tipo de jogo. Caso você já seja familiarizado, é só pular para o próximo intertítulo.
Como é que joga, afinal?
Pense num jogo de baralho, mas com regras personalizadas para cada jogador. Num TCG, cada um tem seu próprio deck, montado com cartas que combinam entre si. Assim como no pôquer ou no buraco, você começa com uma mão de cartas, compra novas a cada rodada e precisa usar estratégia para vencer – mas, em vez de naipes e números, as cartas representam criaturas, habilidades especiais, “magias”.
Os jogos são entre duas pessoas ou mais. E o objetivo varia: dominar o campo de batalha com mais criaturas (Magic), acumular cartas de prêmios vencendo duelos (Pokémon TCG) ou forçar o adversário a ficar sem opções de jogo (Yu-Gi-Oh!). O jogo acontece em turnos, alternando ataques e defesas.
O mercado de cartas
As cartas você comprar em pacotinhos, os chamados boosters – nas lojas e sites especializados. Cada TCG possui boosters com preços e quantidades de cartas diferentes, e todos têm uma classificação de raridade dos itens. Há os mais comuns, que todo mundo uma hora vai ter, os mais escassos e até os únicos.
Isso dá à luz um grande mercado secundário de cartinhas colecionáveis. As ordinárias serão revendidas por centavos. As mais raras, por um abuso.
Exemplo disso é a mais recente coleção de Pokémon TCG, batizada de “Evoluções Prismáticas”. Assim que foi anunciada, no fim de 2024, fez barulho na comunidade de colecionadores por conta da raridade de algumas cartas.
Algumas cartas dessa coleção já circulam no mercado paralelo por mais de US$ 1 mil. No Brasil, já chegaram a R$ 7,5 mil.
Mas esses valores são baixos quando você compara aos recordes já registrados no mercado. Em 2023, a Hasbro fez uma parceria com a produtora de O Senhor dos Anéis e lançou uma coleção inteira de cartas relacionadas a esse universo para o o Magic: The Gathering.
Uma das cartas ali é a “Um Anel”, referente ao mais precioso objeto da saga. Para atiçar o mercado de artigos raros, lançaram uma versão dela escrita em élfico, o idioma dos elfos da obra de J. R. R. Tolkien. Tiragem: um único exemplar.
Assim que a carta foi encontrada em um booster, no Canadá, iniciou-se uma corrida de interessados. No fim, o rapper Post Malone comprou o exemplar único por US$ 2,6 milhões, marcando um recorde para o jogo.
Mas essa marca durou pouco. Em 2024, uma carta de Magic chamada Black Lotus foi vendida por US$ 3 milhões. Nesse caso, não se tratava de uma edição única. A raridade ali vinha pelo quesito antiguidade. Ela é de 1993 – e há poucas por aí bem conservadas.
A carta mais cara da história é aquela de US$ 5 milhões, que mencionamos no início. Ela faz parte do jogo Pokémon TCG. Em 2021, o influencer americano Logan Paul (irmão de Jake Paul, aquele que lutou com Mike Tyson no ano passado) desembolsou essa quantia para adquirir a carta “Pikachu Illustrator”, um item raro, obviamente. Só fabricaram 39 unidades, em 1998, e esta seria a que está em melhor condição de uso.
Valuation
Natural que cartas mais raras atinjam cotações altas no universo dos jogadores mais fanáticos. Mas não é tão simples. Outros fatores influenciam o “valor de mercado”, como a utilidade da carta para um jogo. Uma carta rara que traga mais poderes pode custar mais do que uma ainda mais rara, mas que traga menos vantagens para o jogador.
“Entender o jogo faz muita diferença para ter uma noção se uma carta vai continuar valendo muito ou se ela pode se valorizar no futuro. Você precisa saber sobre o jogo para analisar o preço”, diz o designer de UX André Zanetti, aficcionado por TGCs.
Erros de impressão também podem valorizar um item – como acontece no mundo dos colecionadores de selos. Uma carta do dragão de fogo Charizard, de Pokémon, foi vendida em 2021 por US$ 300 mil porque não foi feita uma sombra ao redor do monstro no desenho. A falha foi logo corrigida pela empresa, mas as cartinhas que sobraram com o erro ganharam valor. Também conta aí a antiguidade delas. Esses cards são de 1999.
Cartas em japonês e em russo também tendem a ganhar valor. Os alfabetos diferentes dão um charme e, claro, são cards que não dão em árvore no Ocidente.
Agradecimentos: Thiago Seixas, do canal Diário Planinauta, especiualizado em Magic: The Gathering , e Bruno Pardini, dono da MB Geek Store.