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Gerenciar riscos e colher lucros: o poder emergente da agenda ESG

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No mundo dos investimentos, navegar pelos mares turbulentos dos riscos é uma rotina diária. No entanto, uma nova luz surge no horizonte: a agenda ESG, que sai da obscuridade e se posiciona no centro das estratégias financeiras. Ela não apenas atua como um escudo preventivo contra as crises em um cenário de turbulência no capitalismo, mas também se revela como uma fonte potencial de lucro.

O mercado financeiro e o risco são parceiros inseparáveis, desempenhando papéis cruciais nas operações globais diárias. No entanto, agora, a avaliação desses cenários inclui a agenda ESG como um fator determinante. As empresas pioneiras perceberam que as crises sociais, ambientais e de governança têm repercussões imediatas e graves nos lucros. Investir na prevenção dessas crises não só protege a reputação e as finanças das empresas, mas também as posiciona positivamente diante de investidores, financiadores, formadores de opinião e a sociedade em geral.

(Foto: Adobe Stock / Mojo_cp)

O investimento em ações e financiamentos agora leva em consideração o impacto das empresas na sociedade, bem como a avaliação dos custos socioambientais associados aos lucros. Empresas que não atendem a padrões ESG são cada vez mais cobradas e correm o risco de perder valor de mercado ou enfrentar dificuldades para obter investimentos e financiamentos.

Em um mundo repleto de incertezas, crises locais e globais, inflação crescente e eventos como a guerra na Ucrânia, a consolidação da agenda ESG se torna um porto seguro para aqueles que se aventuram nos mercados e empreendimentos. O Brasil também enfrenta desafios semelhantes, à medida que a agenda ESG se consolida em diversos setores.

A pesquisa global “Global Reporting and Institutional Investor Survey”, da EY – uma das maiores empresas mundiais em consultoria e auditoria – ouviu mais de 1.040 líderes financeiros seniores nas empresas e 320 investidores e revela que 99% dos investidores usam material de divulgação ESG ao tomar decisões de investimento, destacando o poder dos investidores em influenciar o comportamento das empresas.

“Esse conhecimento, por parte dos investidores, é importante porque eles têm um poder muito grande de influenciar a forma como as empresas atuam, pois provêm capital para as companhias, seja através de investimento em ações ou financiamentos”, ressaltou Ana Siqueira, líder da comissão ESG da CFA – Chartered Financial Analyst no Brasil, numa entrevista ao Estadão sobre o assunto. Ela também acrescenta que “não existem empresas perfeitas nessa agenda”, em especial perfeição para cada uma das letras da sigla.

Essa dificuldade ao analisar as práticas ESG é um dos fatores mais apontados por investidores ao fazer suas escolhas, que são praticamente unânimes em indicar a falta de parâmetros e métricas comuns para lastrear as decisões. Ainda assim, o Bank of America (BofA) produziu cálculos que mostram que os fundos globais ESG captaram US$ 21 bilhões nos primeiros sete meses deste ano, um valor próximo de tudo que foi captado em 2022, ano em que os ingressos líquidos somaram US$ 22 bilhões.

Esses resultados convergem com análises como a publicada pelo Diário do Comércio, escrita por Carlos Braga, o Vice-presidente do IBEF MG, Coordenador de Programas ESG da FDC, Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento e conselheiro de diversas empresas privadas e organizações do terceiro setor:

“Acreditamos que o mercado financeiro saberá recompensar cada vez mais as empresas que adotarem as práticas ESG como parte da sua proposta de valor e planejamento de longo prazo, com benefícios claros para os seus stakeholders e a sociedade em geral.”

Carlos Braga, o Vice-presidente do IBEF MG

A adoção da agenda ESG como critério para investir – e garantir lucros – é parte de uma conjuntura mundial analisada pelo professor titular do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valência, Gil-Manuel Hernández Martí: “As elites capitalistas estão conscientes de que o colapso do atual sistema capitalista global é inevitável, devido à convergência da crise energética, ecológica, econômica e social. Mas as elites capitalistas não estão dispostas a perder sua condição de minoria privilegiada dotada de um poder global.”

O capitalismo em colapso acabou produzindo uma grande contradição, que é a busca – real ou aparente, – de algo mais além dos lucros, mesmo no mercado financeiro. No entanto, colapsando ou não, se identificando como consciente ou não, adotando e valorizando práticas ESG ou não, ainda segue sendo capitalismo, um sistema que é estruturado no ganho de poucos sobre a produção efetivamente realizada por muitos.

Vista aérea de área desmatada da Amazônia em Uruará, no Pará 21/01/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

Antes que se diga “oh, admirável mundo novo!” diante da valorização da agenda ESG, vale lembrar que o capitalismo mais uma vez está se adaptando diante de uma profunda crise, e continua sendo um sistema em que as riquezas se concentram, o meio ambiente é destruído em processos produtivos e não prevalece a justiça social. Os fundos sustentáveis no mercado financeiro são a face mais visível e – até aqui – bem-sucedida, dessa relação contraditória.

No entanto, a agenda ESG se mantém como uma das potenciais alternativas de construção da transição do capitalismo predatório para outros sistemas que sejam melhores para o planeta, as pessoas e as organizações. Vale ressaltar que, ainda que o mercado financeiro também esteja convergente com a tendência de mirar para além dos lucros, ao menos no discurso, o resultado – ao final – ainda é a maximização da concentração de riqueza, marca maior do sistema capitalista.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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