As fintechs pagam hoje efetivamente mais tributos no Brasil do que os grandes bancos, apesar de as alíquotas nominais de imposto das empresas de tecnologia serem inferiores, de acordo com o vice-chairman e head global de políticas públicas do Nubank, Roberto Campos Neto.
“Não é verdade que as fintechs pagam menos impostos. Quando a gente pega o que de fato foi pago para o governo, que é a taxa efetiva de imposto, as fintechs pagaram mais que os bancos grandes”, explica. “As fintechs não estão querendo pagar menos. Estão querendo pagar igual. Nenhuma fintech quer tratamento privilegiado. Quer tratamento justo, com capacidade de competir”, diz Campos Neto, que é o convidado do videocast Perspectivas, produzido pelo InvestNews e pelo Nubank.
Estudo da Zetta, organização de empresas de tecnologia que atuam no sistema financeiro, indica que no ano passado a taxa efetiva paga pelas fintechs foi de 29,7%, enquanto a média registrada pelos bancos foi de 12,2%. Os dados foram calculados a partir das demonstrações financeiras publicadas, considerando o total de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) provisionados e o lucro antes de impostos (LAIR). Em 2023, essa diferença foi ainda maior: as fintechs pagaram 36,5% e os grandes bancos, 8,9%.
Bancarização e o papel das fintechs
Para Campos Neto, a agenda de inovação do Banco Central abriu espaço para o grande salto de bancarização no país, que foi de 60% da população no início da década para cerca de 82% este ano. “Grande parte dessa bancarização, eu diria mais da metade, foi feita em fintechs como o Nubank. São instituições que não cobram taxas dos clientes.(…) Ou seja, não só bancarizou, mas bancarizou a custos mais baixos“, explica Campos Neto.
O Brasil é hoje líder em número de fintechs na América Latina, com 24% de todas as instituições na região, segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). E diversas pesquisas recentes mostram o impacto positivo dessas fintechs em inovação, concorrência e inclusão bancária.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, divulgou em outubro uma análise em que destaca que a rápida expansão das fintechs ampliou o acesso ao crédito – e que a maior concorrência reduziu a concentração bancária e as taxas médias dos bancos tradicionais. A competição levou a uma redução de 2,9 pontos percentuais na taxa de juro dos empréstimos entre 2012 e 2024, segundo o FMI, e no ano passado os bancos digitais e as fintechs já responderam por 25% do mercado de cartões de crédito e por mais de 10% dos empréstimos pessoais não consignados.
A inclusão bancária é uma das faces mais visíveis da evolução no mercado financeiro desde a entrada das fintechs. O Nubank, por exemplo, forneceu o primeiro cartão de crédito para cerca de 21 milhões de brasileiros. E no Brasil em geral, segundo pesquisa da Mastercard, 58% dos clientes de fintechs tiveram acesso a serviços financeiros que antes eram indisponíveis para eles.
Expansão internacional
Na entrevista ao videocast Perspectivas, o vice-chairman do Nubank tratou ainda de temas como Open Finance, a oportunidade de o Brasil se beneficiar de uma eventual migração de recursos de investidores com a queda na taxa de juro nos EUA e do recente pedido de licença do Nubank para operar como banco nacional nos Estados Unidos.
Campos Neto será o chairman da futura operação americana e a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira, ocupará o cargo de CEO. Para ele, o mercado bancário dos Estados Unidos é competitivo, mas tem problemas de eficiência. “Ainda é um mercado que tem talão de cheque, que tem papel na agência bancária, é um mercado em que os pagamentos não são tão eficientes como no Brasil.” Ele acredita que o caminho natural será, em um primeiro momento, ser reconhecido por clientes latinos, mas que há espaço para conquistar ao longo do tempo uma parte relevante do mercado americano.
O videocast Perspectivas está disponível no YouTube e no Spotify.