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Daniel Kahneman

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Daniel Kahneman

Descubra a história do psicólogo, suas principais contribuições e lições em livros como "Ruído" e "Rápido e devagar".

Biografia de Daniel Kahneman


Quem é Daniel Kahneman

Apesar de não ter formação em Economia, o israelense Daniel Kahneman, de 89 anos, psicólogo, professor universitário, pesquisador e escritor, ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002. Ele é um dos fundadores da Economia Comportamental. Segundo o próprio Kahneman, desde cedo o psicólogo se interessou pelo comportamento das pessoas.

Formação

Kahneman soube unir a psicologia aos números. Ele nasceu em 5 de março de 1934 em Tel Aviv, Israel (antigamente chamado de Protetorado Britânico na Palestina), durante uma visita da mãe aos parentes. A família do psicólogo morava em Paris, na França. Mas, em 1946, aos 12 anos, voltou para Israel. E foi lá que, em 1954, se formou em psicologia, pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Kahneman, porém, não ficou muito tempo em sua terra natal. Em 1958 decidiu se mudar para os Estados Unidos, país em que concluiu o doutorado, em 1961.

Infância e a Segunda Guerra Mundial

Os pais do ganhador do Nobel eram judeus lituanos que imigraram para a França em 1920. O pai dele foi chefe de pesquisa da L’oreal. A Segunda Guerra Mundial mudou a vida da família, já que a Alemanha invadiu a França, em 1940. 

 

O pai de Kahneman foi levado para o campo de deportação de Drancy, em Paris, pelos nazistas, onde ficou por seis semanas. E só saiu por conta da ajuda que recebeu da L’oreal. Logo depois a família fugiu de Paris e escolheu Riviera, no sul da França, para se esconder. O que não durou muito por conta da invasão da Alemanha nazista. 

 

Isso foi se repetindo até chegarem na área central do país. Os Kahneman se refugiaram até mesmo num galinheiro. E, numa brincadeira do destino, o pai de Daniel Kahneman morreu seis dias antes do Dia D, a invasão das tropas aliadas na Normandia, tão esperada por ele.

 

Início da carreira

 

O próprio Kahneman citou que não saberia dizer se a vocação para psicólogo era resultado da exposição prematura a fofocas interessantes ou se o interesse em fofocas já era sinal de vocação.

 

Com o fim da guerra, Kahneman, a irmã e a mãe foram para a Palestina, em 1946. Ele resolveu estudar e se formou em Psicologia e em Matemática, em 1954, na Universidade Hebraica de Jerusalém. Mas o já psicólogo formado foi convocado para servir o Exército e, logo depois, para avaliar os soldados e o perfil de liderança de cada um – ou seja, saber sobre como poderiam render mais em postos certos. 

 

Kahneman, antes de deixar o Exército, em 1956, criou um método de entrevistas de recrutas para identificar as funções com as quais se identificariam, que foi adotado por muitos anos.

 

Dois anos depois ele e a esposa foram para os Estados Unidos. Kahneman fez doutorado na Universidade da Califórnia e conquistou o título de PhD. Até 1978 ele deu aula na Universidade Hebraica de Jerusalém. Outras atividades pontuais eram a de professor visitante e pesquisador nas universidades de Michigan e Harvard (EUA) e Cambridge (Inglaterra).

 

Amos Tversky e a Teoria da Perspectiva

 

No período vivido em Jerusalém, Kahneman conheceu Amos Tversky, com quem deu início, em 1969, a uma grande parceria que durou mais de dez anos. Eles lecionaram em Jerusalém. O próprio Kahneman disse, durante uma entrevista, que ambos tinham uma “galinha dos ovos de ouro – uma mente conjunta que era melhor do que duas mentes separadas”.

 

Economia comportamental

As “mentes juntas” fizeram pesquisas que resultaram na Teoria da Perspectiva. Essa teoria mostra que a reação das pessoas às perdas é muito mais profunda em comparação à reação vista a ganhos similares. Isso levou ao conceito de aversão a perdas ou a prejuízo. Para Kahneman, a descoberta é a maior contribuição de ambos para o estudo dos mecanismos de tomada de decisão. Em outras palavras, disse Kahneman em entrevista, as pessoas dão mais valor ao que perdem do que poderiam ganhar. 

 

O que é economia comportamental

 

Defender a ideia, que já havia sido muito criticada, de que a economia não funciona de forma apenas racional para as pessoas é complicado. Os resultados da Teoria da Perspectiva indicaram que os indivíduos são mais avessos ao risco em opções que envolvam ganhos garantidos e mais abertas a correr riscos em escolhas que poderiam resultar, com maiores chances, em perdas. 

 

O resultado desse trabalho gerou um grande debate e chegou a contradizer a teoria econômica que se conhecia até então, já que rompeu o chamado “homo economicus”, que usava a racionalidade para tomar decisões. 

 

Com uma frase Kahneman explicou a Teoria da Perspectiva: “Nunca ninguém tomou uma decisão por conta de um número. As pessoas precisam de história”. Já Tversky, chamado de piadista pelo colega, afirmou que “Nós estudamos estupidez natural, não inteligência artificial”. 

 

Kahneman seguia lecionando. Ele deixou, em 1978, a Universidade Hebraica de Jerusalém, para dar aulas de psicologia na Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. Em 1986 ele passou a dar aulas na Universidade da California, em Berkeley, onde ficou até 1994. Depois decidir ir para a Universidade de Princeton, onde ficou até se aposentar, em 2007.

Nobel de Economia

Daniel Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002. De acordo com as informações dos organizadores do prêmio, Kahneman foi escolhido por “ter integrado conhecimento da pesquisa em psicologia à ciência econômica, especialmente no que diz respeito ao juízo humano e à tomada de decisões sobre incertezas”.

 

Os organizadores explicaram a escolha do nome de Kahneman registrando que a contribuição dele foi “ter integrado à análise econômica o conhecimento fundamental da psicologia cognitiva, principalmente sobre o comportamento sob incerteza, lançando assim as bases para um novo campo de pesquisa”. 

 

Um artigo escrito em 1979 por Kahneman e Amos Tversky chamou a atenção da sociedade e da organização do Nobel e foi ele que motivou o prêmio. A dupla escreveu “Teoria da Perspectiva – Uma análise de decisões sob risco, publicado na revista acadêmica Econometrica. 

 

O texto detalha que as decisões das pessoas podem ser diferentes das previsões da teoria econômica. E a alternativa seria a Teoria da Perspectiva. Os vários trabalhos produzidos por Kahneman e Tversky também ajudaram na escolha da premiação. Mas o também psicólogo Tversky já havia morrido, em 1996, e o prêmio Nobel não pode ser entregue de forma póstuma. 

 

‘Rápido e Devagar ‘

 

Kahneman fez também sucesso na literatura. Em 2011 ele lançou o livro Rápido e devagar: duas formas de pensar e mostrou mais uma vez porque é considerado um dos mais importantes pensadores do século 21. Trata-se de uma viagem à mente humana, explicando as duas formas de pensar, que dão o título à obra. Uma é rápida, intuitiva e emocional. A outra, mais lenta e lógica. 

 

O ganhador do Nobel mostra as capacidades extraordinárias e os defeitos e vícios do pensamento rápido e revela a influência das impressões intuitivas nas decisões. 

 

Ele fala sobre comportamentos como a aversão à perda, o excesso de confiança no momento de decisões estratégicas, a dificuldade de prever o que vai nos fazer felizes no futuro e os desafios de identificar corretamente que os riscos no trabalho e em casa só podem ser compartilhados se soubermos como as duas formas de pensar moldam nossos julgamentos. Kahneman indica quando podemos ou não confiar na intuição. 

 

Eis um trecho da obra:

 

“As emoções de arrependimento e decepção são reais, e os tomadores de decisão certamente antecipam essas emoções quando fazem suas escolhas. O problema é que as teorias do arrependimento fazem poucas previsões notáveis que as distinguiriam da teoria da perspectiva, que tem a vantagem de ser mais simples. A complexidade da teoria da perspectiva foi mais aceitável na competição com a teoria da utilidade esperada porque, de fato, previu observações que a teoria da utilidade esperada não podia explicar.

 

Suposições mais fecundas e mais realistas não bastam para tornar uma teoria bem-sucedida. Os cientistas usam as teorias como um estojo de ferramentas de trabalho, e não vão assumir o ônus de um estojo mais pesado a menos que as novas ferramentas sejam muito úteis. A teoria da perspectiva foi aceita por muitos estudiosos não porque é “verdadeira”, mas porque os conceitos que ela agregou à teoria da utilidade, notadamente o ponto de referência e a aversão à perda, valeram o trabalho; eles produziram novas previsões que se revelaram verdadeiras. Tivemos sorte”.

 

Ruído 

 

“A título de evidência, comecemos pelo que parece ser um lugar improvável: um estudo em larga escala sobre downloads de música, realizado por Matthew Salganik e coautores. Os pesquisadores criaram um grupo de controle com milhares de pessoas (usuários de um site de popularidade moderada). Os membros do grupo de controle podiam escutar e baixar uma ou mais de 72 músicas de novas bandas. As músicas tinham nomes evocativos: “Trapped in an Orange Peel” (preso numa casca de laranja), “Best Mistakes” (os melhores erros) e “I Am Error” (eu sou um erro).

 

O principal resultado foi que as paradas musicais divergiam radicalmente: entre os diferentes grupos, havia um bocado de ruído. Em um, “Best Mistakes” podia ser um sucesso estrondoso, enquanto “I Am Error” era um fiasco. Em outro, “I Am Error” saíra-se excepcionalmente bem, ao passo que “Best Mistakes” fora um desastre. Se a música se beneficiava de uma popularidade inicial, podia terminar em ótima posição. Sem essa vantagem, o resultado podia ser bem diferente.

 

Deve ser fácil perceber como esses estudos afetam julgamentos em grupo de forma geral. Suponha que um grupo pequeno consistindo em, digamos, dez pessoas está se decidindo sobre a adoção de uma iniciativa nova e ousada. Se um ou dois partidários dela falam primeiro, podem perfeitamente desviar a sala toda na direção de sua preferência. O mesmo é verdade se os céticos falam primeiro. Pelo menos é assim se as pessoas se deixam influenciar umas pelas outras – e geralmente deixam.

 

Por esse motivo, grupos mais similares podem acabar por fazer julgamentos bem diferentes simplesmente devido a quem falou primeiro e iniciou o equivalente aos primeiros downloads. A popularidade de “Best Mistakes” e “I Am Error” tem análogos próximos nos julgamentos profissionais de todo tipo. E se os grupos não escutam o análogo aos rankings de popularidade dessas músicas – um entusiasmo manifesto, digamos, por essa iniciativa ousada –, a iniciativa talvez não dê em nada, simplesmente porque os que a apoiavam não expressaram sua opinião”.

 

Estes são trechos do livro Ruído: Uma falha no julgamento humano, de 2021, outro best-seller de Kahneman. A obra foi escrita juntamente com o professor de estratégia e Política Empresarial da École des Hautes Études Commerciales de Paris, Olivier Sibony, e Cass Sunstein, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, nos EUA.

 

O livro, que foi finalizado ainda na pandemia (os autores conversaram por videoconferência) fala sobre fatores inconscientes que interferem na tomada de decisões, que são os “ruídos” do título. São interferências em decisões que, a priori, deveriam ser idênticas. Ou seja, aborda a variabilidade em julgamentos que deveriam ser idênticos. Os autores mostram que o ruído tem efeitos prejudiciais em muitos campos, incluindo medicina, direito, saúde pública, previsão econômica, ciência forense, proteção à criança, avaliações de desempenho e seleção de pessoal. 

 

No entanto, indivíduos e organizações frequentemente ignoram seu impacto, a um grande custo. Baseado em extensa pesquisa, o livro explica como e por que os seres humanos são tão suscetíveis ao ruído e aos vieses ao fazer escolhas. E indica também que, com algumas soluções simples, é possível reduzir ambos e, assim, tomar decisões muito melhores.

O que é ruído sistêmico

O ruído sistêmico é o tema principal de Ruído: uma falha no julgamento humano. Em uma entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian, Kahneman ressaltou que “nosso tema principal é o ruído sistêmico. O ruído sistêmico não é um fenômeno do indivíduo, é um fenômeno dentro de uma instituição ou um sistema que supostamente deveria chegar a decisões uniformes”.

Como vive Daniel Kahneman

Em 2023, Kahneman vivia em Nova York e tem uma agenda intensa. Ele era professor emérito de psicologia e relações públicas na Princeton School of Public and International Affairs da Princeton. O psicólogo é sócio-fundador do TGG Group, uma empresa de consultoria de negócios e filantropia.

 

Vida pessoal e família 

 

Kahneman teve um casal de filhos com sua primeira mulher, Irah. A segunda mulher dele foi a psicóloga cognitiva Anne Treisman, que morreu em 2018.

 

Lições

– Saiba distinguir intuição e razão

– Reconheça que os instintos não estão sempre certos

– Mantenha o otimismo

– Perceba a influência dos sentimentos

– Diferencie resultado de percepção

Perfil de Daniel Kahneman


Nome Completo Daniel Kahneman
Nascimento 05/03/1934
Local de Nascimento Tel Aviv, Israel
Filhos 2
Nacionalidade Israelense e norte-americano
Formação Psicologia
Ocupação Psicólogo, professor, pesquisador, escritor e palestrante
Estado Civil Viúvo