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Tecnologia

O que está por trás dos acidentes envolvendo o piloto automático da Tesla

Dos mais de 200 acidentes analisados pelo WSJ, pelo menos 75 mostraram algum erro de interpretação da tecnologia Autopilot

O avanço da tecnologia de piloto automático nos carros semi-autônomos vendidos nos Estados Unidos veio acompanhado de preocupações de especialistas sobre a segurança dos motoristas e sobre o quanto essa ferramenta deveria ganhar escala. No centro dessas preocupações está a Tesla, que só no ano passado vendeu 1,8 milhão de veículos, todos com piloto automático.

Desde 2021, a Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário dos Estados Unidos (NHTSA, em inglês) obriga as fabricantes, entre elas a companhia de Elon Musk, a reportar acidentes de veículos com a tecnologia do piloto automático. Nos documentos acessíveis ao público, chama a atenção a falta de transparência da Tesla em relação aos acidentes, o que motivou uma reportagem publicada nesta terça-feira (30) pelo The Wall Street Journal.

Dos mais de mil relatórios enviados pela Tesla ao regulador federal, a reportagem cruzou dados de investigações estaduais de 222 acidentes. Desse recorte, pelo menos 75 deles ocorreram por problemas na tecnologia Autopilot da Tesla, seja com o piloto automático mudando de direção repentinamente ou falhando ao tentar frear o veículo.

LEIA MAIS: Mais uma vez, Tesla faz recall – agora de 1,8 milhão de veículos nos Estados Unidos

O caso mais emblemático foi o de Steven Hendrickson, de 35 anos, que morreu em um acidente envolvendo seu Tesla Model 3 com um trailer tombado em uma estrada de Fontana, na Califórnia, em maio de 2021. As imagens do acidente indicam uma confusão da tecnologia em identificar o obstáculo antes da batida fatal. 

Sobre este caso, a Tesla disse ao WSJ que o motorista que utiliza sua tecnologia de piloto automático precisa estar pronto para assumir o controle o tempo todo. Disse ainda que Steven Hendrickson foi avisado para manter as mãos no volante 19 vezes antes de bater e que seu carro iniciou a frenagem antes do impacto. A família de Hendrickson processa a Tesla e pede mais informações sobre o acidente. O caso deverá ser julgado apenas ano que vem.

Em paralelo, a empresa de Elon Musk e sua tecnologia de piloto automático também é investigada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Vale lembrar que, em dezembro do ano passado, a Tesla realizou o maior recall de sua história, abrangendo 2,03 milhões de veículos dos EUA — ou quase todos os carros nas estradas norte-americanas na época — para instalar novas proteções em seu sistema Autopilot.

Segurança questionada

Desde 2016, quando a tecnologia Autopilot ganhou tração com a ascensão do Tesla Model X — e surgiram os primeiros acidentes —, especialistas questionam a segurança da ferramenta produzida pela companhia liderada por Elon Musk. A principal diferença entre o piloto automático da Tesla e o dos concorrentes está na tecnologia embarcada, explica Missy Cummings, diretora do Laboratório de Autonomia da Duke University.

Isso porque o sistema da Tesla é baseado em câmeras, que precisam de treinamento humano para identificar os obstáculos, enquanto outras tecnologias utilizam muito mais equipamentos, como o sensor de profundidade LiDAR (detecção e alcance de luz, em tradução livre), que tem um custo mais alto. “Se os carros fazem um bom trabalho – não perfeito – desenvolvemos uma falsa sensação de confiança neles”, disse Cummings.

“A maneira como o aprendizado do Autopilot funciona é de treiná-lo com vários exemplos, mas, se ocorrer uma situação incomum, ele não saberá identificar”, acrescentou Phil Koopman, professor de engenharia da computação da Carnegie Mellon University.

John Bernal, um ex-funcionário da Tesla que foi demitido em 2022 depois de divulgar vídeos com falhas do Autopilot, explicou que a disposição do sistema de câmeras favorece uma decisão equivocada do piloto automático. “Em uma câmera, o veículo pode parecer perfeitamente no chão e centralizado, mas, em outra câmera, poderia estar dois metros à frente ou dois metros atrás, ou talvez um metro e meio flutuando no ar”, analisa.

Musk sempre rechaçou investir mais no sistema de sensores de seu Autopilot, alegando que a estrutura de câmeras consegue entregar uma direção segura. “Sensores caros são desnecessários”, defendeu o CEO da Tesla em um encontro com investidores, em 2019.

“Já pensamos nisso várias vezes. ‘Temos certeza de que temos o conjunto de sensores certo? Devemos adicionar mais alguma coisa?’ [A resposta é] Não devemos”. Em outros momentos, o bilionário reforçou que sua tecnologia de Autopilot é mais segura do que humanos dirigindo.

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