Viajantes com fome podem determinar o futuro dos aeroportos.

Em 2024, mais passageiros do que nunca passaram pelo aeroporto de Heathrow, em Londres, gastando mais em suas lojas, disse na semana passada a empresa que o administra. Mas a receita total diminuiu quando o regulador de aviação da Grã-Bretanha reduziu as taxas máximas que o aeroporto pode cobrar das companhias aéreas.

Isso acontece no momento em que o Heathrow —posse da empresa de private equity Ardian e dos fundos soberanos do Catar e da Arábia Saudita, entre outros — se prepara para uma onda de investimentos, incluindo uma terceira pista. O financiamento continua sendo uma questão, já que companhias aéreas como a British Airways e a Virgin Atlantic reclamam que as taxas aeronáuticas são muito altas.

Globalmente, os aeroportos em expansão enfrentam contas enormes e dependerão do gasto de passageiros para cobrir seus custos. Sua grande aposta: coquetéis e jantares finos.

O Terminal 4 do Aeroporto Internacional JFK anunciou recentemente uma programação temática nova-iorquina para as concessões de alimentos e bebidas, incluindo a Dos Toros Taqueria e o Villa Russo Café. Em janeiro, o Aeroporto Internacional de Orlando concedeu à Areas, com sede em Barcelona, uma licitação de US$ 10 milhões para seis novos estabelecimentos.

Os aeroportos europeus em reformas, incluindo Frankfurt, Viena, Edimburgo e Madri, estão seguindo a mesma linha.

Apesar das preocupações da era da pandemia de que as pessoas parariam de comer nos aeroportos, o oposto aconteceu. Duas semanas atrás, a Lagardère relatou um salto de 25% no lucro antes de juros e impostos em sua divisão de varejo de viagem, que opera em aeroportos nos EUA, Canadá e Europa. Os números do início do ano sugerem que o maior aumento aconteceu em restaurantes, superando as lojas “duty free” — que também vendem petiscos e bebidas — e as de moda.

Mais viajantes também estão frequentando as salas VIP, não mais reservadas para passageiros da classe executiva e viajantes frequentes de elite, graças às vantagens dos cartões de crédito, associações pagas e passes diários das companhias aéreas. Aeroportos e companhias aéreas estão investindo pesadamente nesses espaços, oferecendo experiências diferenciadas, desde lounges básicos até áreas de jantar ultrapremium.

Em alguns casos, alimentos e bebidas estão substituindo a diminuição da demanda por luxo e vestuário, principalmente a dos chineses. A tendência mais clara, no entanto, é misturar refeições com compras.

A empresa suíça Avolta, anteriormente Dufry, está por trás de vários desses próximos lançamentos, incluindo um mercado Eataly no JFK e um mercado Starbucks no Aeroporto Internacional de Sacramento. A Lagardère ajudou a lançar uma oferta “híbrida” na loja Lego no aeroporto de Barcelona e está se juntando ao Groupe ADP, proprietário do Charles de Gaulle de Paris, para misturar espaços de varejo e alimentação. O lucro do ADP subiu 16% no ano passado, disse a empresa em fevereiro.

Enquanto isso, a Aena, operadora dos aeroportos da Espanha, anunciou na última quarta-feira que o lucro líquido cresceu 19% em 2024. Desde 2019, a receita aumentou 29%, com taxas subindo 8% e vendas comerciais, 41%. As vendas por metro quadrado aumentaram 23% nas lojas duty-free, 21% nas demais e 30% em bares e restaurantes.

Os negócios comerciais da Aena subiram para mais de 30% das receitas pela primeira vez. E, por ser o negócio de maior margem que os aeroportos têm, responde agora por metade do lucro da empresa. À medida que as companhias aéreas resistem às taxas aeroportuárias mais altas, analistas esperam que essa dinâmica continue.

Existe uma maneira de os investidores seguirem a tendência? Ao contrário dos EUA, onde os aeroportos são em sua maioria de propriedade do governo, muitos aeroportos europeus são privatizados e algumas operadoras, como Aena, ADP e Fraport, estão listadas em bolsa.

Embora suas ações tenham sofrido desde a pandemia, continuam sendo uma aposta melhor do que varejistas de viagens como Lagardère, Avolta e SSP Group. Muitas dessas ações também perderam o boom das viagens aéreas do final da década de 2010, um sinal revelador de que os aeroportos têm influência sobre seus varejistas

O risco é que, mesmo que o número de passageiros aumente, a renda extra acabe indo para a infraestrutura aeroportuária. A emissão de dívida entre os aeroportos dos EUA triplicou na última década. Mesmo contabilizando as taxas de passageiros e o financiamento federal, as expansões e manutenções necessárias ainda deixam uma lacuna de financiamento anual de US$ 18 bilhões entre 2023 e 2027, de acordo com um relatório de janeiro da Morningstar DBRS.

Algumas operadoras europeias têm mais flexibilidade para aumentar as taxas, mas suas necessidades agregadas de investimento de capital são projetadas em 360 bilhões de euros (equivalente a US$ 378 bilhões) até 2040. A questão-chave, então, é se os espaços de varejo renovados vão atrair mais gastos de cada passageiro. No momento, os aeroportos parecem estar apostando que a resposta é sim.

“Quando comecei, me mostraram alguns metros quadrados e me disseram para fazer o que pudesse”, disse Maria José Cuenda, chefe comercial e imobiliária da Aena, que está na empresa há mais de 30 anos. “Agora estou envolvida desde o início com um terminal que está sendo projetado.”

As ações da espanhola Aena subiram cerca de 150% em relação a uma década atrás e estão diminuindo a diferença com os índices europeus mais amplos medidos desde o final de 2019. Talvez os aeroportos em bons destinos culinários ofereçam os melhores retornos.

Escreva para Jon Sindreu em [email protected]

Traduzido do inglês por InvestNews

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