O novo iPhone provavelmente vai ficar mais caro em breve. A grande dúvida é: quanto mais caro? Segundo o último balanço fiscal da empresa, divulgado na semana passada, a fabricante do iPhone ainda está absorvendo os custos adicionais com tarifas sobre produtos importados aos EUA, sem repassá-los ao público. Mas isso pode mudar, já que a Apple é conhecida por proteger suas margens de lucro a qualquer custo.
“Nosso cenário-base é de que a Apple vai subir os preços para compensar parte do impacto das tarifas”, escreveu o analista Srini Pajjuri, do Raymond James, após os resultados do segundo trimestre fiscal.
Por ora, o impacto das tarifas parece controlado. Durante a teleconferência com investidores, o CEO Tim Cook disse que a companhia espera um acréscimo de cerca de US$ 900 milhões nos custos do terceiro trimestre fiscal, que termina em junho. Isso representaria menos de 2% sobre o que o mercado esperava para o custo de vendas da Apple nesse período.
Margens pressionadas
No entanto, ninguém aposta que o impacto vai parar por aí.
O próprio Cook comentou que o trimestre de junho traz “fatores únicos” que ajudaram a compensar esse aumento de custo, o que sinaliza que os próximos resultados podem vir com margens ainda mais pressionadas — especialmente se as tarifas extras continuarem valendo.
Além disso, tarifas específicas sobre setores — como o de semicondutores — podem inflar ainda mais os custos de produção da Apple.
“Dado o risco de tarifas setoriais vindas de Trump, achamos prudente dobrar a estimativa de impacto de US$ 900 milhões no custo de vendas por alguns trimestres além de junho”, escreveu Ben Reitzes, da Melius Research.
Se a empresa decidir repassar o aumento ao consumidor, a grande dúvida será: quanto o iPhone vai encarecer — e de que forma a Apple vai fazer isso sem afastar seus clientes?
Queda no valor de mercado da Apple
A preocupação com o impacto das tarifas sobre as margens de lucro da Apple nos próximos trimestres ajudou a derrubar as ações da empresa em quase 4% após a divulgação do último balanço.
E a pressão continuou: na segunda-feira (5), os papéis caíram mais 3% depois de uma reportagem do site The Information afirmar que o novo iPhone ultrafino — previsto para ser lançado neste ano — terá “consequências” no desempenho, como menor duração da bateria.
Desde o anúncio das novas tarifas pelo ex-presidente Donald Trump, em 2 de abril, a Apple perdeu mais de US$ 350 bilhões em valor de mercado. Outras gigantes de tecnologia já se recuperaram das perdas iniciais, mas a Apple ainda está sentindo o baque.
A companhia tem tomado medidas para reduzir os impactos das tarifas.
O CEO Tim Cook disse que, durante o trimestre que termina em junho, a maioria dos dispositivos enviados aos EUA virá da Índia e do Vietnã.
Mesmo assim, será difícil para a Apple romper totalmente com a China, sua principal base de produção há anos — especialmente enquanto busca lançar novas tecnologias de ponta, como corpos mais finos ou telas dobráveis, que exigem processos de fabricação mais complexos.
Aumento dos preços
Pensando no futuro, a alternativa mais provável para a Apple é subir os preços — algo comum para uma empresa dos EUA que depende fortemente de hardware produzido no exterior para gerar a maior parte da sua receita.
Isso não seria novidade para a companhia: nos últimos anos, a Apple já encontrou maneiras inteligentes de aumentar o preço médio de venda dos iPhones, mesmo mantendo o valor inicial do modelo principal em US$ 999 desde 2017.
Consumidor bancará preços mais altos?
Preço médio do iPhone dispara, mas consumidor começa a dar sinais de cansaço
O aumento do tíquete médio da Apple foi impulsionado por modelos com mais memória e versões mais premium do iPhone.
Segundo dados da Visible Alpha, o preço médio de venda era de cerca de US$ 755 antes do lançamento da linha iPhone Pro no fim de 2019. Três anos depois, já passava de US$ 960.
Mas há um limite para o quanto o consumidor consegue absorver — ainda mais em um cenário em que até o McDonald’s começa a pesar no bolso de muitos.
Hoje, vários modelos ultrapassam com folga a marca dos US$ 1.000, e a Apple não poderá contar com as operadoras de celular para suavizar esse impacto, como fazia no passado.
“Não vamos cobrir qualquer aumento expressivo nas tarifas sobre smartphones”, disse o CEO da Verizon, Hans Vestberg, na última teleconferência de resultados da empresa. No dia seguinte, o CEO da AT&T fez coro.
Mais cedo ou mais tarde, os clientes da Apple vão começar a sentir no bolso os efeitos da guerra tarifária.
Traduzido do inglês por InvestNews
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