Uma fusão de US$ 16 bilhões entre dois estaleiros da China está prevista para ser concluída ainda nesta semana, criando o maior estaleiro do mundo, enquanto os EUA buscam uma maneira de retornar ao setor.

Os estaleiros americanos estão tentando recuperar o atraso após décadas de declínio da indústria marítima, embora os planos ambiciosos do presidente Trump para reativar a construção naval americana tenham enfrentado dificuldades recentemente. No curto prazo, a ameaça de Trump de impor taxas mais altas a navios fabricados na China está dando aos rivais sul-coreanos e japoneses uma oportunidade para reconquistar participação de mercado.

A campeã chinesa chama-se China State Shipbuilding, ou CSSC. Esta semana, a empresa deve absorver sua parceira na fusão, a China Shipbuilding Industry, e assumir a listagem exclusiva na Bolsa de Valores de Xangai, após a recente aprovação do acordo pelos órgãos reguladores.

A empresa resultante da fusão espera usar seu volume para cortar custos e superar a turbulência do setor causada pelas medidas de Trump.

As duas empresas eram originalmente uma só e se separaram em 1999, quando o governo quis promover a concorrência. Atualmente, Pequim busca consolidar empresas estatais em setores sensíveis, particularmente aqueles ligados ao setor militar.

O principal área de negócio da CSSC é o comercial, mas ela também tem contratos importantes com a Marinha Chinesa. A empresa que está sendo incorporada projetou e construiu o primeiro porta-aviões chinês, o Shandong.

A diretoria da empresa informou que a fusão permitirá atender melhor à necessidade da Marinha por equipamentos avançados.

“Este é um marco importante na busca de longo prazo da China para dominar a construção naval global“, disse Matthew Funaiole, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.

Domínio da China

Juntas, as empresas representaram quase 17% do mercado global no ano passado, segundo dados de novos pedidos da Clarksons Research.

A carteira de pedidos combinada da empresa resultante da fusão totalizará mais de 530 navios e 54 milhões de toneladas de porte bruto, a maior do mundo, com uma receita anual de cerca de US$ 18 bilhões, segundo os últimos relatórios anuais.

“Isso fortalece a capacidade do governo chinês de executar sua estratégia de fusão militar-civil”, disse Funaiole. “A produção comercial e naval está cada vez mais integrada, compartilhando tecnologia, talento e infraestrutura.”

O governo chinês quer dominar a indústria da construção naval há décadas, e agora os estaleiros chineses representam mais da metade do mercado global.

Os navios construídos pela China representaram cerca de 55% da tonelagem global no ano passado, em comparação com menos de 0,05% dos EUA, segundo dados das Nações Unidas.

gráfico mostra quanto navios de 4 regiões transportaram em toneladas

A China tem 232 vezes a capacidade de construção naval dos EUA, de acordo com a Marinha dos EUA.

Mas dados recentes sugerem que a China está enfrentando tempos mais difíceis, pois a perspectiva de taxas portuárias americanas sobre navios de fabricação chinesa levou os armadores a buscarem estaleiros não chineses. Além disso, as tarifas de Trump e o foco dos países nas cadeias de suprimentos domésticas aumentaram o espectro de uma redução no comércio global em geral, o que significa que menos navios seriam necessários para transportar mercadorias.

A Yangzijiang Shipbuilding, listada em Cingapura e o maior estaleiro privado da China, recebeu encomendas de 14 navios estimadas em US$ 540 milhões no primeiro semestre de 2025, em comparação com 126 embarcações estimadas em US$ 14,6 bilhões em todo o ano passado. Dados da Clarksons mostram que as encomendas globais de novos navios caíram 48% em relação ao ano anterior no primeiro semestre de 2025.

A Yangzijiang afirmou que o setor enfrenta “incertezas macroeconômicas e tensões geopolíticas”.

Enquanto isso, concorrentes menores no Japão buscam recuperar participação de mercado após décadas sendo pressionados por concorrentes chineses e sul-coreanos de menor custo.

O presidente da Imabari Shipbuilding, Yukito Higaki, que também preside a Associação de Construtores Navais do Japão, afirmou em junho que o país pretendia aumentar sua participação de mercado de cerca de 9% para 20% até 2030. A associação está “unindo empresas japonesas de navios e embarcações sob uma estratégia ‘All Japan’ para combater a China e a Coreia do Sul”, afirmou.

O Japão dominava cerca de metade de toda a produção da construção naval na década de 1990.

Uma proposta apresentada em junho pelo Partido Liberal Democrata do Japão, agora no poder, pede amplos subsídios para estaleiros locais a fim de proteger a segurança nacional, incluindo um fundo público-privado de US$ 6,7 bilhões. “Se não agirmos agora, o Japão corre o risco de perder completamente sua indústria de construção naval, como aconteceu com a Europa e os Estados Unidos”, afirmou o partido.

“A China não desistirá facilmente”, afirmou Kenneth G. Huang, professor da Universidade Nacional de Cingapura que estuda empresas estatais chinesas. “A construção naval é uma capacidade essencial que a China quer desenvolver”, disse ele, “e a rivalidade com os EUA vai forçá-los a se modernizar mais rapidamente”.

Traduzido do inglês por InvestNews

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