Perturbações na cadeia de suprimentos. Abacates e batatas fritas mais caros. Contas de energia mais altas. E uma indústria siderúrgica dos EUA mais feliz. Os desdobramentos da guerra comercial iniciada por Trump no sábado (1º) têm o potencial de se espalhar pela economia americana, afetando tudo, dos preços no supermercado às indústrias.

Ele impos tarifas de 25% sobre importações do México e Canadá (nesse caso, de 10% sobre produtos do setor de energia) e de 10% adicionais sobre bens importados da China, alegando que os vizinhos falharam em prevenir a entrada de drogas e migrantes sem documentação nos EUA. Também acusou a China de inundar os EUA com fentanil (um opioide para dor crônica responsável por uma epidemia de overdoses entre jovens americanos).

Os três países (que montam o pódio de maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos) negam as acusações. Canadá e o México já anunciaram retaliação tarifária, e a China prometeu denunciar os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Se essa batalha comercial persistir, veja como ela pode afetar os consumidores americanos em diversas áreas:

Confusão de logística

As empresas norte-americanas se acostumaram com décadas de comércio livre de tarifas, conforme estipulado pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte e seu sucessor de 2020, o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), assinado pelo próprio Donald Trump.

Portanto, é provável que haja alguma confusão após a imposição das tarifas — pelo menos a curto prazo. Longas filas de caminhões podem se formar em pontes no Texas e em Detroit se as regras não estiverem imediatamente claras. Isso vai refletir no atraso das entregas aos consumidores.

Trump disse que várias leis federais lhe dão autoridade para impor as novas tarifas, incluindo a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), que permite aos presidentes regulamentar algumas atividades comerciais após declarar uma emergência nacional.

No entanto, especialistas em comércio dizem México, Canadá e importadores dos EUA podem contestar juridicamente as novas ordens, o que deve levar a meses de incerteza para empresas dos três países.

Inflação mais alta em todos os setores

A medida preferida de inflação pelo Federal Reserve mostrou que os preços ao consumidor subiram 2,6% em dezembro em relação ao ano anterior. Uma tarifa de 25% sobre bens do Canadá e do México elevaria a taxa de inflação para cerca de 3,2%, mantendo-a bem acima do alvo de 2% do Federal Reserve, de acordo com a firma de análise Capital Economics.

A administração Trump minimizou o risco de inflação e disse que tarifas mais altas trarão mais receita aos cofres federais. “Tarifas não causam inflação. Elas causam sucesso”, disse Trump na sexta-feira (31).

Supermercados mais caros

A alta nos preços dos supermercados pode ser a inflação que os consumidores notarão primeiro, à medida que as tarifas forçam os importadores a pagar 25% a mais por alimentos, dizem economistas.

O México fornece cerca de metade das importações de produtos frescos dos EUA e é um fornecedor particularmente importante no inverno, segundo Ed Gresser, ex-assistente do representante comercial dos EUA e agora no Instituto de Política Progressiva.

Mais de 80% dos abacates dos EUA vêm do México, de acordo com o Departamento de Agricultura americano. Considerando apenas os produtos importados pelos Estados Unidos, os abacates respondem por 90% do volume que entra no país. Entre outros destaques, o México responde por quase todos os morangos, framboesas, as cervejas, tequilas e mescal importadas, além de três quartos dos televisores, cerca de 60% de todas as verduras frescas e computadores pessoais.

Já o Canadá é um grande fornecedor de tudo, de feijão a tomates cereja, que são cultivados em enormes estufas perto da fronteira dos EUA. Além disso, considerando tudo o que os EUA importam, o Canadá responde por 81% das batatas fritas congeladas, mais da metade dos produtos de panificação e do petróleo cru para ser refinado localmente, quase um quarto dos carros híbridos, quase três quartos da madeira serrada e 100% do gás natural.

Agitação na indústria automobilística

Fabricantes domésticos e estrangeiros de automóveis construíram uma complexa rede de fábricas por todo território americano, além do Canadá e do México. Peças e veículos semiacabados às vezes cruzam a fronteira norte ou sul várias vezes antes que a produção esteja completa. Impor uma tarifa de 25% nessas travessias de importação aumentará os custos e possivelmente fará com que os fabricantes de automóveis elevem os preços, embora os consumidores americanos estejam cansados dos preços dos automóveis, que já subiram durante a pandemia.

Alguns fabricantes de autopeças no México e no Canadá estão adicionando turnos extras de trabalho e intensificando entregas aos EUA em esforços para se antecipar às tarifas, enquanto outros estão considerando mover algumas linhas de manufatura para os EUA, disse Ambrose Conroy, diretor executivo da empresa de consultoria Seraph.

Apoio à indústria siderúrgica

O setor de aço e alumínio há muito tempo pede proteção contra competidores estrangeiros de baixo custo e provavelmente aplaudiria tarifas rigorosas. Uma coalizão de produtores domésticos na semana passada instou Trump a impor novas tarifas sobre o aço e o alumínio mexicanos.

Eles argumentaram que os produtores mexicanos estavam inundando o mercado dos EUA com aço e alumínio em violação dos compromissos mexicanos, levando várias fábricas dos EUA a fechar ou operar com capacidade reduzida.

“Durante décadas, as políticas de ‘livre comércio’ esvaziaram a base industrial da América, destruíram cadeias de suprimento domésticas e deixaram os trabalhadores americanos à mercê de governos estrangeiros e corporações multinacionais”, disse Zach Mottl, presidente da Coalizão para uma América Próspera, que representa fabricantes domésticos de aço, alumínio e outros produtos, em um comunicado no sábado.

Compradores domésticos de aço provavelmente teriam uma visão oposta. As tarifas de aço de Trump durante seu primeiro mandato causaram a alta dos preços nos EUA, dificultando o planejamento de grandes projetos de construção e a entrega dentro do orçamento, dizem executivos da indústria.

Usina siderúrgica em Hefei, na China. Foto: Reuters/Stringer

Reinternalização (talvez)

Se uma grande parte da manufatura voltar permanentemente para casa em resposta às tarifas, isso cumpriria um dos objetivos declarados de Trump para os impostos. Isso é um grande “se”, dizem economistas. Trump é amplamente visto como usando tarifas como um instrumento de barganha e não necessariamente como uma ferramenta permanente, disse Brad Setser, ex-funcionário do Tesouro dos EUA e agora pesquisador sênior no Conselho de Relações Exteriores.

“Você não vai reorganizar a produção se achar que haverá uma negociação que removerá as tarifas”, disse ele. “A curto prazo, você terá alguma disrupção e muitas pessoas pagando custos mais altos.”

Aumentos nos preços de energia

As novas tarifas podem elevar os preços dos EUA para gasolina, querosene de avião e óleo de aquecimento doméstico, pois o Canadá fornece cerca de 60% das importações de petróleo bruto dos EUA e o México, mais 10%, disse Gresser. Juntos, essas importações representam cerca de 30% do petróleo bruto usado nos EUA. Muitas refinarias domésticas estão configuradas para processar óleo canadense, e ajustar-se a isso não é uma tarefa simples, acrescentou.

A tarifa de “apenas” 10% sobre energia canadense mostra que a administração Trump está cautelosa para não irritar os consumidores dos EUA com preços mais altos para a gasolina. Ainda assim, o Canadá poderia elevar os preços se retaliar com medidas que reduzam o envio de óleo.

Se a refinação nos EUA ou a produção automobilística desacelerarem ou pararem, isso provavelmente minaria o crescimento econômico, dizem economistas.

Eletrônicos de consumo mais caros

A tarifa extra de 10% de Trump sobre bens da China soma-se ao conjunto de impostos que os EUA já cobram sobre importações chinesas.

Durante a primeira administração de Trump e novamente sob o ex-presidente Joe Biden, os EUA impuseram novas tarifas sobre uma gama de bens industriais da China, como semicondutores e aço, para protestar contra o que os EUA chamam há muito tempo de práticas comerciais desleais da China.

Mas a maioria dos produtos de consumo foi poupada.

A nova tarifa de 10% sobre bens chineses atingirá muitos itens de consumo pela primeira vez, provocando possíveis aumentos de preços no varejo e retaliação da China. Eletrônicos de consumo, incluindo smartphones e laptops, são uma categoria que pode enfrentar aumentos de preços.

Outro ponto que pode afetar o preço é a revogação de uma regra conhecida como “exceção de tarifas de minimis”, uma lei bipartidária que isentava de tarifas qualquer envio para os Estados Unidos com produtos no valor de até US$ 800 por pessoa e por dia.

(Por Jeanne Whalen)

Traduzido do inglês por InvestNews

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