Para os donos de fábricas, a lógica econômica é simples. Produtos fabricados na China geralmente enfrentam tarifas de 40% a 50% quando são importados pelos EUA.
O Vietnã virou uma pechincha depois que o presidente Trump anunciou uma nova tarifa de 20%, mantendo as expectativas de que o Vietnã receberia um tratamento mais flexível. Compradores ocidentais, como o Lowe’s e a Hasbro, prometeram reduzir sua exposição à China.
A corrida para produzir no Vietnã e em outros países com tarifas mais baixas, está longe de tirar a China do negócio, mas mantém as empresas chinesas no centro do comércio de exportação.
Empresários chineses normalmente levam vantagem quando se trata de construir fábricas em qualquer lugar do mundo — até mesmo nos EUA.
“Eles têm tecnologia e know-how“, disse Le Hong Hiep, pesquisador sênior do think tank ISEAS-Yusof Ishak Institute, de Singapura. “Eles levarão menos tempo para instalarem fábricas no Vietnã do que as empresas locais para desenvolverem suas próprias capacidades.”
Em uma visita recente, o aeroporto de Hanói estava lotado de trabalhadores e gerentes chineses vindo buscar seus vistos.
Para autoridades do governo Trump, esse não é exatamente o resultado desejado de uma guerra comercial.
Nas negociações comerciais, os EUA têm apelado às nações do Sudeste Asiático para que adotem uma postura firme em relação aos laços econômicos com a China, inclusive impedindo que empresas chinesas estabeleçam operações de fabricação e exportação em seus países.
O objetivo é reduzir a dependência dos EUA em relação às empresas chinesas, independentemente de onde estejam localizadas.
Mas, no primeiro semestre deste ano, a China — incluindo Hong Kong — foi responsável por mais de 800 novos projetos de investimento no Vietnã, muito mais do que qualquer outro país. Grande parte do investimento concentrou-se na indústria.
Li é o fundador da Letright Industrial, uma das maiores fabricantes de móveis para áreas externas da China, com uma lista de clientes que inclui Walmart e Lowe’s. Sua fábrica em Thai Nguyen, perto de Hanói, foi inaugurada em 2021 e hoje emprega cerca de 1.200 trabalhadores na fabricação de espreguiçadeiras, mesas de centro e sofás.
Um conjunto de seis peças pode ser vendido em lojas americanas por cerca de US$ 700 a US$ 2 mil. Equipes de compradores americanos visitaram a fábrica recentemente para conhecer as instalações e avaliar seus produtos.
Na fábrica, operários usam ferramentas de solda a laser para construir estruturas de sofás. Outros se curvam sobre mesas na altura da cintura, tecendo cadeiras de vime à mão. Com materiais artificiais que imitam os naturais, populares nos EUA nesta época do ano, uma equipe de operários usa tinta spray marrom para fazer cadeiras de metal parecerem de madeira.
No centro de testes da empresa, uma máquina bate um peso pesado no assento de uma cadeira pronta mais de 10 mil vezes, para comprovar sua durabilidade.
Prevendo a demanda de clientes americanos, a empresa está construindo uma segunda fábrica a 10 minutos de carro, e está contratando centenas de trabalhadores, enquanto reduz a força de trabalho em sua sede em Hangzhou, na China. Equipes de soldadores e tecelões chineses foram enviadas para capacitar os vietnamitas.
A meta ambiciosa da empresa: transferir 100% da produção com destino aos EUA para o Vietnã, ainda neste ano, ante 30% no ano passado.
Por que é difícil produzir no Vietnã
Mas realizar o trabalho no Vietnã é mais difícil do que na China, e a primeira fábrica ainda não obteve lucro.
O calor e a umidade intensos da região prejudicam a produtividade dos trabalhadores, especialmente porque as fábricas de móveis não têm margens de lucro suficientes para usar ar-condicionado em suas fábricas de pé-direito alto, diz Li.
“Eles ficam muito sonolentos com o calor“, disse Li sobre seus trabalhadores. Ele disse que eles também não têm ar-condicionado em casa, o que os impede de descansar bem durante o verão vietnamita.
A cultura de trabalho no Vietnã é diferente da China. Os trabalhadores chineses costumam chegar às 7 da manhã na esperança de começar cedo e ganhar comissões extras. No Vietnã, os trabalhadores tendem a cumprir horários fixos.
Luke Lu, responsável pelas vendas da empresa na América do Norte, disse que os trabalhadores vietnamitas da empresa trabalham em um ritmo mais calculado ao tecer móveis de vime.
“A empresa introduziu recentemente um pagamento extra para trabalhadores altamente eficientes, mas os trabalhadores vietnamitas continuam cerca de 30% menos produtivos do que os chineses“, disse Lu.
Na China, qualquer matéria-prima pode ser facilmente adquirida. Mas no Vietnã, materiais como certos tubos de metal usados em cadeiras e tecidos para almofadas de assento precisam ser importados da China. Quando os portos ficam lotados, as peças podem ser transportadas de caminhão pela fronteira chinesa, a cinco horas de distância.
Trump prometeu uma tarifa dupla de 40% sobre produtos estrangeiros, incluindo produtos chineses, enviados via Vietnã, sem especificar o que conta como transbordo. Lu disse que cerca de 70% dos materiais que compõem os móveis da empresa, fabricados no Vietnã, são de origem local, e que a empresa está trabalhando para encontrar produtores vietnamitas para o restante.
No geral, Lu estima que seja cerca de 10% a 15% mais caro produzir móveis para áreas externas no Vietnã em comparação com a China — o que dá ao Vietnã uma vantagem para as exportações dos EUA, supondo que Trump não imponha mais tarifas. “Já investimos muito aqui e expandimos a produção”, disse Lu. “Só queremos que as coisas se mantenham estáveis.”
Li disse também que sua situação é melhor do que de alguns colegas fabricantes chineses porque ele começou a planejar a mudança no primeiro mandato de Trump. Ele se lembrou de ter participado de uma cúpula de líderes da Ásia-Pacífico em 2017, em Da Nang, Vietnã, no qual Trump subiu ao palco e proferiu um discurso inflamado acusando a China de enganar os EUA no comércio. “A confiança entre os EUA e a China está cada vez menor”, disse Li.
Traduzido do inglês por InvestNews
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