Os fabricantes dos EUA estão estocando peças e matérias-primas importadas em antecipação à imposição de nova tarifas pelo presidente eleito Donald Trump no ano que vem.
A corrida para turbinar os estoques entre os fabricantes norte-americanos — medida em uma pesquisa com 27 mil empresas em todo o mundo pela GEP e pela S&P Market Intelligence — atingiu em novembro seu nível mais alto em mais de um ano.
Fabricantes industriais e empresas de bens de consumo embalados dos EUA estão comprando peças e matérias-primas críticas, como emulsificantes e intensificadores de sabor, aumentando a demanda, de acordo com a GEP, empresa de software de cadeia de suprimentos que coleta os dados.
“Estamos vendo um grande avanço”, disse Inna Kuznetsova, CEO da ToolsGroup, empresa de planejamento e otimização da cadeia de suprimentos. “Estamos vendo muito mais demanda pelo software que permite que as pessoas executem cenários tanto para o curto quanto para o longo prazo para avaliar o que pode ser feito.”
As empresas dos EUA estão dando prioridade à compra de seus componentes mais críticos antes que as tarifas cheguem, afirmou John Piatek, vice-presidente de consultoria da GEP que trabalha com empresas globais de manufatura, bens de consumo e biotecnologia. Piatek disse que a principal preocupação dos fabricantes é que, se esperarem, os concorrentes garantirão os itens a um custo menor e eles serão forçados a aumentar os preços antes que os concorrentes o façam.
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“Estão agindo agora para garantir itens críticos”, disse, e “adotando uma abordagem de ‘esperar para ver’ em outros aspectos”.
Trump prometeu impor novas rodadas de tarifas logo após assumir o cargo em 20 de janeiro. Ele sugeriu tarifas de 25% sobre todas as importações do México e do Canadá e de até 60% ou mais sobre certos produtos da China. A GEP disse que seus clientes estão focados em apressar as importações da China.
Mark Boone, proprietário do Markus Group em Raleigh, na Carolina do Norte, está dobrando suas encomendas da China de divisores de cabos de fibra óptica, usados nos setores de tecnologia e telecomunicações.
“Estou preocupado que, se eu tiver que aumentar meus custos em 60%, meus clientes possam procurar outro fabricante”, disse Boone.
Ele acredita que as encomendas devem mantê-lo por cerca de quatro meses, quando espera que Trump reduza ou revogue as tarifas como parte de um acordo comercial com os chineses.
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O presidente eleito impôs tarifas abrangentes sobre produtos chineses em seu primeiro mandato. Elas levaram as empresas a buscar fornecedores de outras partes da Ásia, além de países como o México, que no ano passado se tornou o maior parceiro comercial dos EUA. Biden manteve as tarifas da China em vigor e acrescentou mais impostos sobre produtos como painéis solares.
Varejistas e fabricantes dizem que a China é um fornecedor confiável e eficiente de peças e produtos acabados, o que dificulta um afastamento completo. As empresas estão buscando novos fornecedores em um ou mais países adicionais para mitigar o risco de tarifas adicionais ou outros choques geopolíticos.
As mudanças nas cadeias de suprimentos estão impondo novos desafios para os importadores que se aventuram em novos mercados, que às vezes carecem de boa infraestrutura rodoviária, ferroviária ou portuária. Os importadores também devem examinar fornecedores e subfornecedores para garantir que não violem as regras cada vez mais rigorosas dos EUA em questões como trabalho forçado.
Alguns varejistas e fabricantes que buscam aliviar o risco de uma nova rodada de tarifas do governo Trump estão fazendo pedidos o mais rápido possível, porque pode levar meses para que os produtos cheguem das fábricas na Ásia. A National Retail Federation elevou recentemente suas previsões para as importações dos EUA, prevendo um aumento na atividade de transporte de contêineres até meados do primeiro semestre de 2025.
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“Sabemos que isso vai acontecer”, disse Jason Miller, professor de gerenciamento da cadeia de suprimentos da Universidade Estadual de Michigan. “Porque vimos isso acontecer nas duas últimas vezes.”
Miller mencionou os dois trimestres mais recentes que registraram o maior volume de importações de contêineres da China — o último trimestre de 2018 e o terceiro trimestre de 2024 — observando que ambos os períodos coincidiram com a implementação das tarifas sobre a China nas administrações Trump e Biden.
Miller disse que os componentes de fabricação com maior probabilidade de encomenda nos próximos meses incluem autopeças, componentes elétricos e produtos fabricados com metal.
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Traduzido do inglês por InvestNews
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