A decisão ocorreu após um período de intensa pressão política da Casa Branca sobre o presidente do Fed, Jerome Powell, para reduzir os juros. As autoridades mantiveram a taxa básica entre 4,25% e 4,5%, enquanto analisam como os custos das tarifas de importação serão distribuídos entre importadores, varejistas e consumidores.
Esse embate sobre quem arcará com o peso das tarifas deve influenciar o rumo da inflação e do emprego nos próximos meses — fatores que podem determinar se e quando o banco central voltará a cortar os juros.
O Fed fez pouquíssimas alterações em seu comunicado de política monetária, indicando que não tem intenção, por ora, de sinalizar cortes.
As dissidências de dois governadores do Fed indicados por Trump — Michelle Bowman e Christopher Waller — revelaram pouco sobre os próximos passos do banco central. Ambos defenderam um corte de 0,25 ponto percentual já nesta reunião. A posição de Bowman chamou atenção, já que ela vinha sendo uma das vozes mais favoráveis a uma política mais rígida nos últimos anos, tendo se oposto ao primeiro corte ocorrido em setembro passado.
Waller, por sua vez, já havia sinalizado apoio à redução dos juros duas semanas atrás — o que coincide com sua recente candidatura a suceder Powell na presidência do Fed na próxima primavera. Ele afirmou neste mês estar preocupado com a manutenção de juros excessivamente altos em uma economia sem força suficiente para impulsionar a inflação — visão compartilhada por alguns economistas e ex-integrantes do banco central.
O comitê de política monetária do Fed é formado por 12 membros, incluindo os 7 governadores indicados pelo presidente dos EUA e 5 presidentes regionais de bancos, que votam de forma rotativa.
Contra Powell
Foi a primeira vez desde 2020 que mais de um dirigente votou contra Powell — e a primeira desde 1993 em que mais de um governador do conselho divergiu da decisão oficial.
Powell e seus colegas analisam como as tarifas estão se refletindo nos dados de inflação, em meio a preocupações de que o aumento de preços de bens mantenha a inflação acima da meta de 2% pelo quinto ano consecutivo. Embora a inflação tenha caído bastante entre 2021 e 2023 sem a recessão prevista por muitos economistas, o Fed segue cauteloso para não declarar vitória antes da hora — e, assim, reacender as pressões inflacionárias ao cortar juros precocemente.
Empresas estocaram produtos antes da entrada em vigor das tarifas e têm evitado repassar os custos para os consumidores, temendo perder mercado. Mas alguns economistas alertam que, à medida que essas empresas com margens mais apertadas esgotarem os estoques pré-tarifas e enfrentarem novos custos, serão forçadas a repassar os aumentos de preços.
“Jay [Jerome Powell] está equilibrando muitas variáveis agora, mas uma coisa que ele diz — e que é verdade, embora subestimada por seus críticos — é que as tarifas já estão aparecendo em certas partes do índice de preços”, afirmou Richard Clarida, indicado por Trump que foi vice de Powell por mais de três anos, a partir de 2018. Segundo ele, os preços estão controlados porque os serviços continuam com aumentos moderados.
Os dados econômicos divulgados mais cedo nesta quarta-feira mostraram sinais mistos, justificando a cautela do Fed. O PIB do segundo trimestre cresceu 3,0%, acima das expectativas, mas a demanda privada — medida por negócios e consumo — desacelerou para 1,2%, ante 1,9% no trimestre anterior e 2,9% no final do ano passado.
Economistas atribuíram a desaceleração ao menor crescimento da força de trabalho e aos impactos das tarifas. Outros dados recentes indicam que o consumo pode ter se estabilizado antes que os novos custos de importação cheguem aos preços finais no varejo. A administração Trump argumenta que, no longo prazo, as tarifas enriquecerão os EUA ao impulsionar empregos industriais bem remunerados.
O Fed vive um ciclo de dois passos à frente, um para trás ao tentar entender as políticas econômicas do governo Trump. Acordos comerciais recentes com Japão e União Europeia estabeleceram tarifas de 15% sem retaliação — abaixo das ameaças feitas por Trump em abril, mas acima das projeções do início do ano.
O comportamento imprevisível de Trump mantém em aberto a possibilidade de novas tarifas, ao mesmo tempo em que um processo judicial pode derrubá-las.
No front fiscal, Trump assinou um pacote de grandes cortes de impostos este mês. Alguns parlamentares republicanos cogitam repasses diretos aos consumidores, o que injetaria estímulos em uma economia já próxima do pleno emprego — o que aumentaria o risco de o Fed se arrepender de um corte, caso o mercado de trabalho continue forte.
Enquanto isso, Trump e seus assessores vêm pressionando publicamente o Fed, mobilizando parte da opinião pública contra o banco central para forçar a redução dos juros. O Fed já cortou os juros em um ponto percentual entre setembro e dezembro do ano passado.
No início do ano, conselheiros econômicos da Casa Branca disseram que deixariam o Fed agir sozinho e focariam em reduzir os juros de longo prazo, que não são determinados diretamente pelo banco central, mas sim influenciados por fatores como gastos e receitas do governo.
Mais recentemente, porém, a Casa Branca e aliados republicanos passaram a culpar a postura cautelosa do Fed pelos juros altos nos financiamentos imobiliários.
Entre os críticos está o secretário do Tesouro, Scott Bessent, que afirmou que o Fed está sendo inconsistente em suas decisões. “Com base na forma como cortaram os juros no outono passado, deveriam estar cortando agora”, disse ele na semana passada, em reunião com Trump no Salão Oval.
Os investidores agora precificam cerca de 66% de chance de um corte na próxima reunião de setembro, mas isso depende de os efeitos das tarifas sobre a inflação se manterem sob controle e o mercado de trabalho mostrar mais sinais de enfraquecimento.
A reunião de julho representou uma rachadura inicial no consenso do Fed, que vinha mantendo a taxa estável há seis meses. A questão que pode dividir ainda mais as autoridades é se as tarifas vão prejudicar a economia mais rápido do que vão alimentar a inflação, e se esperar demais pode levar a um erro de diagnóstico em qualquer dos dois lados.
Um grupo de dirigentes teme que, com juros ainda acima do nível adequado, a economia esteja fraca demais para gerar inflação relevante. Se o emprego enfraquecer, darão razão à crítica da Casa Branca de que o Fed está atrasado nas decisões.
Mas outro grupo teme que um corte agora seja precipitado, caso os preços aumentem mais no verão devido às tarifas — ou se a economia ganhar um impulso maior do que o previsto por conta do estímulo fiscal ou da valorização dos mercados financeiros.
A decisão de setembro pode ser simples se os dados apontarem claramente em uma direção. Leituras persistentes de inflação junto a um crescimento sólido facilitariam adiar cortes. Já sinais claros de deterioração econômica justificariam reduzir os juros. Mas se o cenário continuar nebuloso, Powell enfrentará decisões ainda mais difíceis.
Dados que sigam se comportando nesse padrão misto “podem tornar tudo muito complicado — não ruim o suficiente para justificar um corte imediato, nem bom o bastante para manter os juros onde estão”.
Traduzido do inglês por InvestNews
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