Com os EUA se juntando a Israel nos ataques aos principais locais nucleares do Irã, os líderes clericais de Teerã enfrentam uma difícil escolha: responder rapidamente e correr o risco de ampliar uma guerra devastadora, ou retornar às negociações nucleares, na quais provavelmente teriam que ceder às exigências americanas.

Autoridades iranianas podem ter conseguido ganhar algum tempo para manobrar ao afirmarem que o impacto dos ataques americanos ao seu programa nuclear foi limitado. Segundo a mídia estatal, os danos na instalação de enriquecimento de Fordow ficaram restritos ao túnel de entrada e equipamentos importantes haviam sido removidos antes dos bombardeios.

A Agência Nuclear da ONU também informou que não houve vazamento de radiação, o que pode reduzir a pressão pública por uma retaliação imediata e, em vez disso, dar ao regime espaço para planejar como deter futuros ataques dos EUA e de Israel.

A decisão do Irã pode ser pivotal, determinando não apenas a estabilidade da região e suas exportações de energia para o mundo, mas até mesmo a sobrevivência da teocracia em Teerã.

“O Irã está diante de um dilema”, disse Mohamed Amersi, especialista em Oriente Médio do Wilson Center, um think tank de Washington.

Segundo ele, o país poderia responder com ataques simbólicos contra ativos ocidentais enquanto tenta negociar um cessar-fogo com Israel em troca de alívio nas sanções econômicas. Ou poderia aumentar as apostas, mirando alvos ocidentais mais substanciais no Iraque, Líbano e Síria, além de instalações estratégicas em Israel e possíveis ataques em regiões produtoras de petróleo no Golfo Pérsico.

“No segundo caso, o Irã deve esperar uma nova intervenção dos EUA”, disse Amersi.

Primeiras reações

Na sequência imediata dos ataques americanos, o Irã limitou sua resposta a Israel, disparando mísseis balísticos contra várias áreas do país, danificando prédios residenciais em Tel Aviv, segundo o serviço de emergência israelense Magen David Adom. Pelo menos 16 pessoas ficaram feridas.

Mas se o Irã optar por ampliar os ataques, os alvos podem incluir bases e embaixadas americanas no Iraque, Bahrein e outras partes da região. Também poderia tentar fechar o Estreito de Ormuz — por onde passa 20% da oferta global de petróleo — atacando navios ou lançando minas.

O parlamento iraniano chegou a aprovar o fechamento do estreito, como reação aos ataques, mas a decisão de fato cabe ao o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, e ele segue aguardando.

O objetivo do bloqueio seria provocar uma crise de oferta de petróleo, fazendo os preços dispararem e derrubando os mercados acionários globais, apostando que os países do Golfo e os EUA seriam pressionados a negociar uma saída diplomática. É um caminho arriscado, que também poderia levar a novos ataques americanos e ameaçar a sobrevivência do regime em Teerã.

Análise de especialistas

Alguns analistas esperam que o Irã adote uma postura mais cautelosa.

Baseado em comportamentos anteriores, o Irã pode “assediar navios para elevar os preços do petróleo, o que prejudicaria a economia americana, especialmente sob Trump”, disse Mostafa Pakzad, da Pakzad Consulting, na Europa. Em 2018, após Trump retirar os EUA do acordo nuclear e impor embargo ao petróleo iraniano, o Irã atacou navios com minas magnéticas no Golfo e no Estreito de Ormuz.

A resposta iraniana ao ataque americano que matou o general Qassem Soleimani em 2020 também é vista como indicativo: Teerã retaliou lançando mísseis contra bases americanas no Iraque, ferindo dezenas de soldados, mas sem matar americanos.

Uma grande dúvida agora é se o Irã tem capacidade militar para ampliar a guerra, após dez dias de bombardeios israelenses que atingiram sistemas de armas, líderes seniores e infraestrutura militar.

Embora o Irã continue atacando Israel, seu arsenal de mísseis está encolhendo. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel destruiu metade dos lançadores de mísseis iranianos, dificultando o uso dos que restam.

“O Irã, em uma disputa convencional, está em posição muito mais fraca”, disse Michael Singh, do Washington Institute for Near East Policy. “Mas sabemos que o Irã tem outras capacidades, como ciberataques e proxies terroristas [grupos baseados em outros países, como os houthis do Iêmen].”

Aposta nas milícias

As milícias da chamada “Eixo da Resistência”, apoiadas pelo Irã, permanecem em grande parte fora do conflito direto até agora. Mas os houthis alertaram no sábado que atacariam navios comerciais e de guerra dos EUA no Mar Vermelho caso o Irã fosse bombardeado.

Mohammed al-Basha, fundador da consultoria Basha Report, acredita que haverá uma “retaliação moderada por forças proxy iranianas”, caso também do Kataib Hezbollah, no Iraque, mirando interesses regionais americanos, num padrão similar ao da resposta não letal após a morte de Soleimani.

Ainda assim, o aiatolá Ali Khamenei, alertou na semana passada que, se os EUA atacarem o Irã, “devem saber que nosso povo não se renderá e qualquer intervenção militar deles terá consequências irreparáveis.”

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, afirmou que não está claro quanta margem resta para a diplomacia, dizendo no X que os ataques dos EUA “terão consequências eternas” e que o Irã “reserva todas as opções para defender sua soberania, interesses e povo.”

Alguns parlamentares iranianos pediram uma retirada imediata do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Fações mais radicais no governo defendem a construção de armas nucleares como o melhor caminho para recuperar influência regional e dissuadir ameaças de Israel e agora dos EUA.

Mas, com a poeira ainda baixando após os ataques dos EUA, é cedo para saber o que restou do programa nuclear do país.

Traduzido do inglês por InvestNews

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