A JBS, maior empresa de carnes do mundo, estreia na Bolsa de Valores de Nova York, contando com fortes ganhos e o grande interesse dos consumidores americanos por proteínas. Normalmente, tal acordo atrairia uma multidão de bancos, um grande roadshow e uma cerimônia tradicional de toque de sino no dia da listagem. A JBS está seguindo um caminho diferente, simplesmente disponibilizando suas ações para negociação e deixando o mercado seguir a partir daí.

Nesta sexta-feira (13), a empresa com sede em São Paulo lista suas ações diretamente no Big Board, com o objetivo de consolidar sua imagem como um conglomerado americano de carnes. Na semana passada, a JBS retirou suas ações da Bolsa de Valores de São Paulo, onde eram negociadas há quase duas décadas.

“Este passo marcará um novo capítulo na jornada da empresa”, disse o executivo-chefe da JBS, Gilberto Tomazoni, no mês passado.

O conglomerado brasileiro de frigoríficos de US$ 15 bilhões traz para os mercados dos EUA uma ampla operação global — e alguma bagagem. Um caso de corrupção no Brasil envolveu dois membros da família fundadora, que cumpriram pena de prisão relacionados ao caso. Além disso, grupos ambientalistas há muito alegam que a empresa impulsionou o desmatamento.

O comportamento da abertura de capital da JBS mostrará se os investidores dos EUA têm receios em relação à empresa ou se estão ansiosos para aproveitar seu potencial.

De matadouro à liderança mundial

Os líderes da JBS tentam listar ações nos EUA desde pelo menos 2016. Funcionários da empresa disseram que a mudança ajudaria a reduzir seu custo de capital e a expandir a oferta de produtos de marca.

O diretor financeiro da JBS, Guilherme Cavalcanti, disse que a empresa não está levantando capital com a listagem e que a transferência de suas ações do Brasil para os EUA vai abri-la para um grupo mais amplo de potenciais investidores. Ele disse que a empresa não precisa de um roadshow e conversa regularmente com investidores em conferências.

“Estamos apenas lidando com burocracia nessa troca”, disse Cavalcanti. “Por que eu deveria pagar algo ao banco, se não preciso dele?”

Batizada em homenagem ao fundador José Batista Sobrinho, a JBS começou como um frigorífico familiar no interior do Brasil. A família Batista transformou a JBS em uma potência de carne bovina no Brasil e aproveitou empréstimos garantidos pelo governo para financiar uma onda de aquisições internacionais que a transformou em um gigante global.

A JBS emprega cerca de 280 mil pessoas em todo o mundo, processando proteínas que variam de carne bovina a salmão e cordeiro. Mais da metade dos quase US$ 80 bilhões em vendas da JBS agora vem da América do Norte. A empresa é a maior processadora de carne bovina dos EUA, a segunda maior fornecedora de carne suína e a proprietária majoritária da Pilgrim’s Pride, a segunda maior empresa americana de frangos.

A JBS registrou um lucro de quase US$ 2 bilhões em 2024 em comparação com um prejuízo do ano anterior, e suas vendas anuais superaram as estimativas dos analistas de Wall Street.

A história da JBS

Os esforços anteriores da empresa para listar suas ações nos EUA foram interrompidos pelas condições de mercado após a pandemia da Covid-19, informaram os executivos. 

A JBS também enfrentou as consequências de um escândalo de corrupção corporativa no Brasil. A J&F Investimentos, que é administrada pela família Batista e possui cerca de metade das ações da JBS, admitiu em 2017 ter pago cerca de US$ 150 milhões em subornos a políticos brasileiros para ajudar a garantir financiamento barato do governo para as aquisições.

As consequências desse episódio levaram os irmãos bilionários Joesley e Wesley Batista à prisão por vários meses.

Em 2020, a J&F resolveu um caso de corrupção com as autoridades dos EUA, afirmando que a medida era importante para melhorar os esforços de governança corporativa.

Alguns dos maiores bancos americanos, incluindo Morgan Stanley, JPMorgan Chase e Goldman Sachs, não farão negócios com a JBS por razões de conformidade, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

Uma porta-voz da JBS disse que a empresa tem um programa de compliance robusto e usa vários bancos americanos, canadenses, europeus e latino-americanos. Ela afirmou que, como membros do conselho da JBS, Wesley e Joesley Batista trazem décadas de experiência operacional, incluindo a recuperação de muitas de suas aquisições nos EUA ao longo dos anos.

Oposição à JBS

Legisladores dos EUA e grupos ambientalistas levantaram preocupações sobre o plano de listagem de ações da JBS.

No ano passado, um grupo bipartidário de senadores, incluindo o agora secretário de Estado Marco Rubio, pediu à SEC que examinasse a listagem, dizendo que poderia “sujeitar os investidores dos EUA ao risco de uma empresa com um histórico de corrupção flagrante e sistêmica, além de consolidar ainda mais seu poder de monopólio”.

Grupos ambientalistas pediram à SEC e à Bolsa de Nova York que impedissem a listagem, citando o histórico da JBS de lucrar com o desmatamento da Amazônia, o que a empresa negou.

No mês passado, as consultoria Glass Lewis e Institutional Shareholder Services recomendaram que os investidores da JBS votassem contra os planos de listagem da empresa. A direção de ambas as empresas disseram que a listagem pode dar à J&F Investimentos, acionista controladora da empresa, cerca de 85% do poder de voto na empresa listada nos EUA.

A JBS garantiu a aprovação da SEC. Os acionistas aprovaram no final de maio um plano para reestruturar a empresa nos Países Baixos e avançar com a listagem nos EUA. A JBS ainda fará negócios no Brasil por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDRs).

Em carta à SEC, Michael Martino, fundador da Mason Capital Management, acionista da JBS, disse que ser negociada publicamente nos EUA melhoraria a governança da empresa. “Vemos uma empresa construída ao longo de muitos anos, que foi do nada a US$ 80 bilhões em vendas”, disse Martino.

Traduzido do inglês por InvestNews

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