Segundo fontes próximas ao assunto, a empresa avalia separar uma fatia relevante de sua divisão de alimentos embalados, que abriga os produtos clássicos da marca Kraft, criando uma nova companhia que pode valer até US$ 20 bilhões. A estrutura atual da Kraft Heinz ficaria com marcas como o ketchup Heinz e a mostarda Dijon Grey Poupon.
Nos últimos anos, a empresa passou a dar prioridade a linhas com maior potencial de crescimento, como molhos apimentados, temperos e condimentos, mais alinhadas às preferências do consumidor atual do que frios e queijos processados. A expectativa é que as duas empresas, separadamente, possam somar um valor de mercado maior do que os cerca de US$ 31 bilhões que a Kraft Heinz vale hoje em Bolsa.
A cisão pode ser anunciada nas próximas semanas, dizem as fontes. No entanto, outras alternativas ainda estão em avaliação, e o conselho da empresa não tomou uma decisão final. A definição de quais marcas fariam parte da nova companhia também segue em aberto.
“Como anunciado em maio, a Kraft Heinz tem avaliado potenciais transações estratégicas para destravar valor aos acionistas”, disse um porta-voz da companhia.
Qualquer movimentação dessa magnitude marcaria uma guinada na trajetória da Kraft Heinz desde a fusão de 2015 — um negócio que prometia revolucionar o setor de alimentos processados nos EUA e consolidar o poder de fogo de Buffett e da 3G, dos bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.
Em vez disso, a operação entrou para a história como um dos maiores fracassos corporativos da década, à medida que os produtos tradicionais da marca perdiam espaço para uma nova geração de alimentos mais frescos e naturais.
Na época da fusão, Kraft e Heinz somavam uma receita anual de cerca de US$ 28 bilhões. O portfólio da companhia inclui marcas como Oscar Mayer (frios), Maxwell House (café), Jell-O (gelatinas), Planters (castanhas), além de queijos Kraft e o icônico ketchup Heinz.
Mas o negócio azedou rápido. Em 2019, a empresa anunciou aumento de custos e queda no valor de suas marcas, com uma baixa contábil de US$ 15 bilhões nas marcas Kraft e Oscar Mayer. O modelo de corte radical de custos defendido pela 3G — o orçamento base zero — deixou de entregar os resultados esperados.
“Fomos excessivamente otimistas sobre as economias que poderíamos gerar, e elas não se concretizaram”, disse na época o então CEO Bernardo Hees, que deixou o cargo logo em seguida.
Desde a fusão, as vendas da Kraft Heinz estagnaram e os lucros caíram em relação aos primeiros anos do novo grupo. As ações acumulam queda superior a 60%, com uma perda de cerca de US$ 57 bilhões em valor de mercado
A crise
A procura por produtos como Lunchables (snacks infantis), Capri Sun (bebidas), macarrão com queijo e maionese vem perdendo força. Em resposta, a Kraft Heinz tem buscado reequilibrar seu portfólio com produtos mais saudáveis e alinhados às novas demandas dos consumidores. Recentemente, anunciou que retiraria corantes artificiais de seus produtos vendidos nos EUA.
Nos últimos anos, a companhia também tentou vender algumas de suas marcas menos lucrativas, como Oscar Mayer e Maxwell House, mas não conseguiu fechar negócio.
Em maio, a empresa informou que continuava avaliando alternativas estratégicas para gerar valor aos acionistas. Também anunciou que a Berkshire Hathaway, holding de Warren Buffett, deixaria de ocupar assentos no conselho — movimento interpretado por analistas como sinal de que mudanças estruturais estavam por vir.

Buffett entrou no capital da Heinz em 2013, ao lado da 3G, numa aquisição de mais de US$ 23 bilhões. Dois anos depois, veio a fusão com a Kraft. Posteriormente, a dupla ainda tentou comprar a Unilever, sem sucesso.
A 3G vendeu toda sua participação na Kraft Heinz até o fim de 2023. Já a Berkshire continua como maior acionista, com cerca de 28% do capital.
As gigantes do setor de alimentos enfrentam uma reavaliação estratégica num cenário em que consumidores, pressionados pela inflação, evitam marcas caras, buscam descontos e optam por produtos de marca própria.
Além disso, a regulação sobre alimentos ultraprocessados, o avanço de medicamentos para emagrecimento, os cortes no programa de vale-refeição nos EUA e a busca por alimentos mais frescos colocam ainda mais pressão sobre essas empresas.
No ano passado, a Mars (empresa de capital fechado) comprou a Kellanova — divisão de snacks da Kellogg com marcas como Pringles e Cheez-It — por cerca de US$ 30 bilhões. Já a divisão remanescente da Kellogg nos EUA, voltada para cereais e rebatizada de WK Kellogg, acaba de ser vendida para a fabricante italiana Ferrero, por aproximadamente US$ 3 bilhões.
Nesta semana, a Kraft Heinz anunciou a venda de sua divisão de alimentos infantis e produtos especiais na Itália, por valor não revelado. “Estamos conduzindo nosso portfólio de forma intencional e proativa”, disse o presidente Willem Brandt na ocasião.
Escreva para Lauren Thomas em [email protected] e para Jesse Newman em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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