O presidente Trump está usando tarifas para tentar fechar o enorme déficit comercial dos EUA, que ele vê como um sinal de fraqueza econômica. Isso é apenas parte da história do comércio.
Embora os EUA comprem mais produtos do exterior do que vendem, o oposto é verdadeiro para os serviços, que incluem tudo: de assinaturas de streaming a consultoria financeira.
Trump deixou essas exportações de serviços fora de sua matemática tarifária, mas elas estão sendo trazidas para sua guerra comercial.
Na quarta-feira (9), Trump intensificou a guerra comercial dos EUA com a China, mas congelou tarifas mais amplas acima de 10% na maioria dos outros países por 90 dias. Tarifas setoriais como as impostas aos automóveis não foram alteradas.
Relação comercial conflituosa
Ainda assim, o choque das tarifas globais de Trump fez com que os países se mexessem e abalou os mercados, agora que os líderes mundiais tentam se adaptar a uma relação comercial repentinamente muito mais conflituosa com a maior economia do mundo.
Os países não podem impor tarifas facilmente sobre os serviços, mas podem tributar, multar ou até mesmo banir empresas americanas.
A União Europeia sugeriu perseguir grandes empresas de tecnologia dos EUA em resposta às amplas ameaças tarifárias de Trump.
Trump também colocou em risco as exportações de serviços dos EUA ao irritar os consumidores estrangeiros, muitos dos quais podem optar por evitar bancos, gestores de ativos e outras empresas dos EUA.
Uma desaceleração econômica que restrinja a demanda conforme os mercados vão enfrentando a reforma comercial extrema do presidente também não ajudará.
Durante décadas, os EUA e o resto do mundo fizeram um acordo: outros países enviavam carros, telefones, roupas e alimentos para os EUA e, em troca, recebiam títulos, software e consultores de gestão.
À medida que os EUA importavam mais bens do exterior e as fábricas domésticas fechavam, seu déficit comercial de bens aumentou, chegando a um recorde de US$ 1,21 trilhão em 2024.
Ao mesmo tempo, o superávit comercial de serviços dos EUA cresceu de US$ 77 bilhões em 2000 para US$ 295 bilhões no ano passado. Esta é uma reversão gritante de meados do século XX, quando os EUA eram um gigante industrial com um superávit de exportação de bens, mas tinham um déficit comercial de serviços.
Serviços dominam os EUA
Os serviços gradualmente passaram a dominar a economia dos EUA à medida que o país enriquecia. Não eram mais a Ford Motor e a General Motors que importavam, mas empresas como Microsoft, Alphabet e JPMorgan Chase. Software e produtos financeiros tornaram-se as principais exportações dos EUA. Para algumas das maiores empresas de serviços, os mercados estrangeiros agora importam mais do que o americano.
As estratégias corporativas de evasão fiscal também elevaram as exportações de serviços, disse Brad Setser, economista do Conselho de Relações Exteriores.
Muitas empresas americanas registram lucros em outros países onde os impostos são mais baixos, e depois pagam taxas às matrizes americanas. Essas taxas são contabilizadas como pagamentos de propriedade intelectual ou gestão de ativos, que, tecnicamente, são exportação de serviços.
É por isso que os EUA têm superávits maciços no comércio de serviços com a Irlanda, a Suíça e as Ilhas Cayman.
Em alguns desses casos, embora os EUA tragam muito mais mercadorias desses lugares do que enviam, vendem mais serviços. Os EUA têm um grande déficit de bens com a UE, por exemplo, mas isso é pelo menos parcialmente compensado por um superávit de serviços.
Retaliação da União Europeia
E agora, os políticos da UE deram a entender que poderiam ter como alvo as empresas de tecnologia americanas em retaliação às tarifas dos EUA.
“A Europa tem muitas cartas na manga, do comércio à tecnologia e ao tamanho do nosso mercado”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em um discurso no Parlamento Europeu na semana passada.
Os países e seus consumidores podem contra-atacar os serviços dos EUA de várias maneiras. Turistas estrangeiros que reservam hoteis e passagens aéreas de companhias americanas contam como exportações dos EUA, mas as ações de Trump alimentaram o crescente sentimento antiamericano que está afastando os possíveis viajantes.
Em outro golpe, a China emitiu na quarta-feira (9) um alerta para os EUA.
Há também o risco de clientes estrangeiros se voltarem contra as marcas americanas. “As tensões comerciais com a China durante o primeiro governo Trump acabaram prejudicando as empresas de serviços dos EUA que fazem negócios no país”, disse David Weinstein, professor de economia da Universidade de Columbia. “Quando você gera má vontade, é mais difícil vender coisas”, afirmou ele.
Traduzido do inglês por InvestNews
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