Chega um momento em cada novo romance no qual é preciso ter “a conversa”.
Não, não aquela sobre quando conhecer a família ou morar juntos — aquela sobre compartilhar suas coordenadas GPS.
Deixar seu parceiro ver onde você está o tempo todo é um sinal de que as coisas estão ficando sérias. Mas, quando um dos dois se recusa a ser rastreado por um aplicativo, isso pode ser um sinal de alerta para algumas pessoas — especialmente os nativos digitais.
Para muitos outros, incluindo os da Geração X como eu, não se importar em saber cada movimento do seu parceiro é o melhor sinal de confiança. E, além disso, quem não quer um pouco de privacidade?
Mihika Nagpal terminou com um namorado há três meses porque ele não queria compartilhar sua localização. Eles estavam namorando há quatro meses.
“Foi uma discussão constante durante algumas semanas antes de eu dizer: ‘Isso não está funcionando’”, diz Nagpal, de 29 anos, dona de uma empresa de consultoria de negócios em Las Vegas.
Para Nagpal e muitos outros que cresceram compartilhando sua localização com pais e amigos, estar no radar dos outros — ou melhor, nos mapas — parece algo perfeitamente normal. O compartilhamento de localização também se tornou comum entre os casais que o acham útil para saber o horário de chegada do cônjuge e programar o jantar. Para casais recém-formados, porém, a decisão de compartilhar essas informações nem sempre é fácil.
Vinte e um por cento dos entrevistados de uma pesquisa que o Life360 realizou no mês passado com mil usuários do aplicativo que estavam namorando ou em um relacionamento sério disseram ser um fator decisivo a ideia de um parceiro em potencial não estar disposto a compartilhar sua localização.
É ainda mais crítico para os mais jovens; dos aproximadamente 150 entrevistados da Geração Z, 30% disseram que não compartilhar a localização é a morte do relacionamento. Quase 60% dos participantes disseram que compartilhar a localização sinaliza que o relacionamento é oficial.
Nagpal, que compartilha sua localização com até 20 amigos ao mesmo tempo no Life360, diz que tudo se resume a isso: “Não tenho nada a esconder”.
Heaven Hamlin também se sente assim. O pai de seu bebê, não. “Ele achava que era demais”, diz Hamlin, auxiliar de saúde domiciliar de 23 anos em Staten Island, em Nova York.
Ela diz que as discussões sobre o compartilhamento de localização contribuíram para a separação há um ano, depois de cinco anos juntos. “Acho saudável compartilhar sua localização com seu parceiro”, diz Hamlin. “Se você não quer que eu saiba o que você está fazendo, por que estamos juntos?”
‘Um pouco suspeito’
Quando os casais conversam sobre o compartilhamento de localização, é importante que ambas as partes expliquem por que querem — ou não querem — compartilhar seu paradeiro, diz Ebru Halper, terapeuta de casais em Westport, em Connecticut.
“O compartilhamento de localização tem a ver com confiança ou com o gerenciamento da ansiedade?”, diz. “As pessoas nem sempre param para refletir sobre o que está motivando seu posicionamento.”
Para Cassidy Lewis, estudante de 20 anos da Universidade do Colorado, em Boulder, o compartilhamento de localização a fez se sentir segura. Ela e o namorado concordaram prontamente em compartilhar seu paradeiro no Snapchat e, mais tarde, no Life360.
Mas Lewis começou a perceber que seu namorado desligava a localização às vezes. “Eu tocava no assunto porque achava que era um pouco suspeito”, diz ela.
Ela conta que havia problemas no relacionamento, incluindo confiança, e que terminou com ele há um mês. Quando namorar novamente no futuro, diz que o compartilhamento de localização fará parte do acordo. “Não acho que eu iria imediatamente propor isso a alguém, mas no ponto em que há exclusividade, o compartilhamento de localização seria inegociável”, afirma Lewis.
Emily Henderson costumava se opor ao compartilhamento de localização. Quando um namorado anterior pediu seus dados de localização, ela se recusou a fornecê-los. Mas, quando começou o relacionamento com sua atual namorada que já dura dez meses, Emma Jonas, compartilhou sua localização com ela porque estava seguindo a banda Fall Out Boy em três estados e queria que Jonas soubesse que estava chegando a cada local com segurança.
Henderson imaginou que pararia de compartilhar sua localização no Life360 após os shows, mas não o fez. De alguma forma, desta vez, compartilhar seu paradeiro parecia certo, afirma. Ela também segue a namorada no aplicativo.
A única vez que desligam é quando estão comprando presentes uma para a outra. “Deixamos claro que não estamos fazendo nada errado”, diz Henderson, de 22 anos em Kokomo, em Indiana, que trabalha com pessoas com deficiência.
Aqueles que começam a namorar após um divórcio também se veem envolvidos nas novas regras do romance da era digital.
Danielle Cook, mãe e escritora de 39 anos em Jacksonville, na Flórida, que se divorciou em 2021 após oito anos de casamento, está namorando alguém há quase seis meses. Recentemente, antes de pegar o carro para ver o namorado que mora a 30 minutos de distância, Cook se perguntou se deveria compartilhar sua localização para que ele soubesse que ela estava chegando. “Eu decidi não fazer isso porque não queria que ele sentisse que teria de compartilhar sua localização comigo”, explica.
A ideia de compartilhar sua localização levantou outras questões, como desligá-la na chegada ou continuar compartilhando. Ela ainda não abordou o assunto com ele, mas acha que isso acontecerá em algum momento.
“É uma daquelas coisas que fazem parte dos relacionamentos modernos”, diz Cook.
Traduzido do inglês por InvestNews
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