No caso da Índia, porém, permitir que uma fatia maior chegue aos seus pobres seria muito interessante para ambos os grupos. Os temas quentes incluem impostos sobre heranças e redistribuição de riqueza, com partidos governistas e de oposição se apresentando como os defensores do homem comum. A disputa acirrada chamou a atenção para o aumento da desigualdade de renda em meio ao crescimento econômico acelerado no país.
A determinação da Índia em emular a cartilha da China e repetir o boom econômico histórico que se baseou na expansão da manufatura e no emprego produtivo de uma enorme população jovem depende da garantia de que os ganhos não se limitem a um pequeno segmento da população. De acordo com descobertas recentes do World Inequality Lab, a participação na renda do 1% mais rico ficou em 22,6% em 2022, uma das mais altas do mundo, e muito maior que os 15,7% da China. A participação dos 10% mais ricos na Índia foi de 57,7% contra 43,4% na China.

Se a Índia não conseguir combater a crescente desigualdade criando empregos bem remunerados, a maioria de sua população provavelmente não verá sua renda aumentar substancialmente — apesar dos impressionantes números de crescimento do Produto Interno Bruto —, e pode continuar a depender da assistência do governo. Déficits fiscais mais altos vindos da ajuda a essa população, taxas de juros mais altas para combater a inflação resultante e fraco crescimento do consumo ameaçam limitar o crescimento da Índia daqui para frente.
Uma análise mais atenta dos números mostra algumas tendências de consumo preocupantes. O padrão de crescimento tem sido distorcido nos últimos trimestres, com a forte demanda de investimento compensando a fraca demanda de consumo. Por exemplo, o crescimento do PIB do país chegou a 8,4% no último trimestre de 2023, bem acima das expectativas, apoiado principalmente pelo forte crescimento do investimento de capital público. Mas o crescimento do consumo privado manteve-se fraco, subindo para 3,5%. O consumo das famílias representa cerca de 60% do PIB da Índia.
A dicotomia entre a fraca demanda de consumo por itens básicos e discricionários e a forte demanda por investimentos, especialmente em imóveis diferenciados, reflete os desafios contínuos das famílias de baixa renda atingidas pela alta inflação. As ações da principal marca de consumo da Índia, a Hindustan Unilever, caíram quase 17%, e as ações da Britannia Industries caíram 11% desde o início do ano.
Uma das razões para o aumento da desigualdade, de acordo com o World Inequality Lab, é o fracasso da Índia em retirar mais trabalhadores da agricultura e trazê-los para empregos mais produtivos e mais bem remunerados. O país está tentando reconfigurar sua economia fortalecendo a manufatura em detrimento da agricultura, mas enfrenta dificuldades, incluindo oposição política às tão necessárias reformas agrícolas e trabalhistas.
A Pesquisa Periódica Anual da Força de Trabalho do governo indiano para o ano fiscal de 2022 mostra que 45,5% da força de trabalho estava empregada na agricultura, 12,4% na construção e apenas 11,6% na manufatura, com o restante trabalhando no setor de serviços. Outras razões para o desequilíbrio são a desigualdade educacional e os efeitos desiguais do crescimento econômico baseado em serviços.
A desigualdade piorou durante a pandemia, quando setores da economia informal indiana enfrentaram uma perda maior de meios de subsistência do que o setor corporativo. As respostas políticas do país — optar por permanecer fiscalmente responsável, exceto pelo programa de alimentos gratuitos — acabaram ajudando mais a economia formal e os mercados de capitais. Os juros mais baixos impulsionaram o setor formal, mas reduziram os retornos da poupança bancária para as massas. A pandemia também reverteu a transição da Índia para o emprego não agrícola, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho, mesmo com a agricultura continuando a ser um dos setores de pior desempenho da economia.
A incrível história de crescimento da China envolveu a transformação de habitantes rurais em trabalhadores mais produtivos nas cidades em crescimento. Os investidores que apostam que a Índia vai alcançar seu gigante vizinho ficarão desapontados se o país não conseguir usar seu capital humano.Escreva para Megha Mandavia em megha.mandavia@wsj
Traduzido do inglês por InvestNews
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