Desde que os Estados Unidos abandonaram o padrão ouro em 1971, o debate econômico tem girado em torno de conceitos como “inflação”, “desvalorização” e o crescimento da dívida pública, que hoje ultrapassa US$ 36 trilhões.

Por um lado, Wall Street e o governo americano lançam alertas sobre o risco inflacionário. De outro, vivemos uma era marcada por avanços tecnológicos acelerados – com smartphones potentes, inteligência artificial, e até missões espaciais comerciais.

Como é possível, então, que os indicadores econômicos apontem para um cenário de estagnação ou empobrecimento, enquanto a inovação tecnológica avança a passos largos?

A resposta pode estar em um conceito pouco tradicional: o preço em tempo. Ao contrário do que mostram índices como o CPI (Consumer Price Index), que medem a variação de preços, o preço em tempo compara o custo de um produto com o tempo necessário de trabalho para comprá-lo – considerando salários e benefícios. Essa abordagem oferece uma medida mais realista da acessibilidade dos bens ao longo do tempo.

A origem do conceito

A ideia foi originalmente defendida pelo economista e Nobel William Nordhaus, que demonstrou como os dados econômicos tradicionais subestimam o progresso técnico. Em um estudo sobre a evolução da iluminação (de óleo de baleia a LEDs), Nordhaus revelou que o ganho de eficiência foi milhares de vezes maior do que os preços monetários indicavam.

Expandindo essa análise, o pesquisador Gale Pooley e o economista Marian Tupy mostraram no livro Superabundance (2022) que, desde a Revolução Industrial, a maioria dos bens e serviços se tornou mais acessível – não necessariamente mais barata em termos nominais, mas mais barata em tempo de trabalho.

Isso acontece porque, com o avanço do conhecimento, os produtos não apenas se tornam mais eficientes para fabricar, como também os consumidores aprendem a usá-los de forma mais eficaz, multiplicando seus benefícios. É o que empresas como Boston Consulting Group e Bain & Company chamam de “curvas de aprendizado”, que mostram que os custos reais caem entre 20% e 30% a cada duplicação de produção.

O que mostram os dados

Nos EUA, entre 2000 e 2024, o CPI subiu 82,2%, mas os salários por hora dos trabalhadores da produção subiram 115,1%.

Isso significa que os rendimentos cresceram 40% mais rápido que a inflação. Quando comparamos os preços com a remuneração por hora, o resultado é que os bens e serviços se tornaram 15,3% mais acessíveis nesse período.

Essa diferença é o que Pooley chama de índice de preço em tempo (TPI – Time Price Index). Enquanto o CPI mede o poder de compra de uma unidade monetária, o TPI mede o poder de compra de uma hora de trabalho.

Tempo: a moeda universal

O tempo tem uma vantagem crucial: é imune à inflação, não pode ser impresso nem falsificado. Todos têm exatamente 24 horas por dia – uma métrica que oferece igualdade absoluta. Enquanto o dinheiro pode perder valor, o tempo permanece constante. Quando os preços em tempo caem, significa que cada hora de trabalho rende mais – traduzindo-se em um aumento real no padrão de vida.

Medir preços em tempo pode parecer abstrato, mas pode nos dar uma imagem mais fiel do progresso. Um produto que custava duas horas de trabalho há 20 anos e hoje custa apenas uma, o que representa um ganho econômico substancial, mesmo que seu preço nominal tenha aumentado.

Assim, uma hora trabalhada em 2024 permitiria comprar 18,1% a mais da cesta de bens e serviços do que em 2000 [Nota: no Brasil acontece a mesma coisa: a renda média subiu 453% nesse período contra 346% da inflação; a hora trabalhada, então, compra 24% mais do que no início do século].

O que isso muda na análise econômica?

Para entender verdadeiramente a evolução do bem-estar, é preciso ir além da inflação oficial. O preço em tempo conecta a economia à realidade vivida pelas pessoas. Afinal, mais importante que saber quanto custa um bem em reais ou dólares, é saber quanto do nosso tempo ele exige.

Como sintetiza o economista Thomas Sowell: “O Neandertal na caverna tinha os mesmos recursos físicos que temos hoje.” A diferença está no conhecimento – e na forma como o usamos para criar valor.

O TPI (índice de preço em tempo) oferece uma nova forma de enxergar riqueza e progresso. Enquanto os índices tradicionais focam na moeda, o TPI foca no que realmente importa: o nosso tempo. Em um mundo de abundância tecnológica, entender como usamos – e ganhamos – nosso tempo pode ser o verdadeiro termômetro da prosperidade.

Traduzido do inglês por InvestNews

Presented by