Eduardo Jiménez tem milhares de escovas de dentes. Ele elogia o sorriso de estranhos e depois pergunta sobre seus hábitos de higiene bucal. A família e os amigos sabem que não devem tocar nesse assunto porque ele pode não parar de falar.
No trabalho, é obcecado. Jiménez, diretor de tecnologia da Colgate-Palmolive, leva baldes de escovas de dente para as reuniões. Estuda o ângulo das cerdas e sua eficácia correspondente. Discorre sobre os dados de estudos com grupos focais em relação à largura do cabo e ao importante ponto de contato, onde o polegar e os dedos do usuário seguram a escova. Às vezes, ele escova os dentes em sua mesa de trabalho.
Ele está em uma missão ignorada pela indústria de escovas de dentes há anos: a escovação de dois minutos.
Esse é o tempo que os dentistas dizem ser necessário, duas vezes por dia, para a remoção adequada da placa. O problema é que as pessoas tendem a encurtá-lo, grupos de foco mostram que, mesmo aqueles que dizem escovar por dois minutos, na verdade, o fazem por cerca de 45 segundos.
Esse é um desafio que tem confundido dentistas e outros fanáticos por cuidados bucais há anos, e gerou toda uma categoria de truques — de canções infantis irritantes a cronômetros de escovação — para fazer as pessoas passem mais tempo cuidando dos dentes.
Designers de empresas como Colgate e Procter & Gamble têm tentado sanar essa deficiência criando um dispositivo que faz com que a escovação pareça menos aborrecida — e que compense o esforço e a técnica insuficientes.
“Temos um objetivo perene: como podemos projetar uma escova de dentes que possa limpar bem, não importa como você escove?”, disse ele. “Queremos que a experiência de escovação seja significativa e diferente.”
Jiménez, de 60 anos, está nisso há mais de duas décadas. Se você já usou uma escova de dentes Colgate, é provável que ele tenha ajudado a projetá-la. Ele tem 239 patentes, a maioria delas relacionadas a escovas de dentes.
Ao longo dos anos, ele observou algumas tendências. O azul é a cor mais popular das escovas. Algumas pessoas não escovam os dentes nos fins de semana. Embora os higienistas dentais recomendem cabeças de escova menores, os americanos geralmente escolhem a maior. E estão sempre atrás de algo novo.
Seu último projeto é baseado na conclusão de que os jovens adultos estão procurando designs mais minimalistas e uma experiência mais relaxante.
Pela primeira vez desde que ingressou na empresa, Jiménez recrutou químicos de pasta de dente da Colgate para trabalhar com sua equipe em uma combinação de escova e pasta projetada para tornar a escovação mais parecida com um tratamento de spa.
Eles criaram vários protótipos da cabeça da escova e os testaram por meio de uma ferramenta robótica chamada Robocheck, que mede o grau de eficácia da limpeza antes de ser testada por humanos. Optaram por uma cabeça com mais de cinco mil cerdas finas [nota do tradutor: o equivalente às escovas suíças Curaprox Ultra Soft, vendidas a preço de ouro nas farmácias brasileiras]. As cerdas de alta densidade se combinam com a pasta de dente para formar pequenas bolhas, criando uma sensação que Jiménez compara a um “banho de espuma para a boca”.
Segurando a última criação da Colgate, ele exibiu o que descreveu como uma cabeça montanhosa com uma combinação ideal de cerdas macias, rígidas, curtas e altas que abraçam cada dente e alcançam todos os lugares, desde a linha da gengiva até o esmalte.
Jiménez disse que trabalha com a suposição de que muitas pessoas não passam dois minutos na escovação, não importando a aparência ou a sensação da escova. Na verdade, para atingir seu próprio objetivo à noite, ele usa uma escova elétrica com um cronômetro.
“É muito difícil fazer com que as pessoas sigam as orientações, a menos que realmente amem seus dentes”, disse Jennifer Connolly, higienista dental de Nova York.
“No meu consultório, muitos pacientes se comprometem a escovar os dentes e usar fio dental e manter o padrão”, disse Connolly. “Mas então fazem isso por uma semana mais ou menos e param.”
Na P&G em Cincinnati, em Ohio, pesquisadores concluíram anos atrás que o caminho mais fácil para a limpeza de dois minutos era um dispositivo elétrico que permite que as pessoas saibam há quanto tempo estão escovando. Um dos desafios foi fazer com que elas mudassem do método manual, então o modelo mais recente foi projetado em parte para eliminar essas barreiras.
Sherrie Kinderdine, diretora de pesquisa e desenvolvimento da unidade de higiene bucal da empresa, disse que passava horas com os consumidores, indo às compras com eles e às vezes entrando em suas casas e observando sua escovação. Uma conclusão: ninguém pensa muito na escovação.
“As pessoas me dizem que escovar os dentes é como pôr as meias”, disse Kinderdine.
Uma de suas observações foi que muita gente ia escovar os dentes no banheiro de hóspedes para que o barulho não incomodasse outros membros da família, então as novas escovas são mais silenciosas. O design e a estética são cada vez mais importantes, portanto, o revestimento fosco é uma tentativa de ser mais elegante.
Outra observação: as pessoas escovam com muita força. As escovas da empresa possuem sensores de pressão que acendem automaticamente uma luz vermelha quando é preciso desacelerar.
As escovas de dentes como as conhecemos — com cabo e cerdas de 90 graus — foram usadas pela primeira vez na China no final dos anos 1400. Durante séculos, foram feitas principalmente com cabos de osso e cerdas de javali e seu uso nos EUA era limitado principalmente aos ricos.
Elas se popularizaram após a descoberta do náilon e do Lucite, que eram produzidos por fabricantes americanos. Essa inovação coincidiu com um esforço dos militares dos EUA para que os soldados melhorassem sua higiene bucal, incluindo a exigência de que tivessem um certo número de dentes para poderem se alistar, de acordo com Scott Swank, dentista que também é curador do Museu Nacional de Odontologia em Maryland.
Após a guerra, os filmes começaram a ficar mais populares, junto com celebridades com dentes brancos brilhantes como os da atriz Farah Fawcett. Isso prenunciou uma era de publicidade de higiene bucal de empresas como Colgate e Crest, que agora também é propriedade da P&G.
O mercado de escovas de dentes e acessórios odontológicos dos EUA teve US$ 4,68 bilhões em vendas no último ano até janeiro de 2025, de acordo com a Circana, empresa de pesquisa de mercado com sede em Chicago.
Quando Jiménez precisa de inspiração, encontra-a no arquivo de escovas de dentes da Colgate, no campus da empresa em Piscataway, em Nova Jersey. É uma coleção que ele começou com milhares de escovas de dente, algumas com séculos de idade, muitas das quais ele adquiriu no eBay.
A próxima fronteira pessoal para Jiménez é uma escova de dentes que pode substituir o uso do fio dental.
Escreva para Natasha Khan em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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