Desde o início, a empresa Decked, com sede em Idaho, sonha em ser uma fabricante All-American, ou 100% americana. Ela fabrica organizadores para picapes, e 95% de seus gastos com materiais vão para fornecedores dos EUA.

Levar os últimos 5% para os Estados Unidos está sendo um desafio. Seu executivo-chefe, Bill Banta, disse que a empresa procurou uma fonte doméstica para os rolamentos comprados da China, mas não encontrou alternativas.

“Temos lutado para encontrar componentes que sejam competitivos em termos de preço e prazo de entrega”, disse ele.

Há muito tempo, as empresas destacam produtos “Made in USA”, mesmo depois que grande parte da base industrial do país migrou para o exterior. Parte da manufatura retornou após a crise nas cadeias de suprimentos durante a Covid-19, e o presidente Trump disse que suas tarifas visam trazer muito mais de volta. 

Fuga de fornecedores

Quem já fabrica produtos nos EUA diz que é difícil criar uma cadeia de suprimentos inteiramente doméstica. Peças ou materiais cruciais para seus produtos não são mais fabricados aqui, disseram, ou estão disponíveis apenas em quantidades muito pequenas ou preços muito altos.

Ricky Cousido é coproprietário da Rapid Plastics, com sede no Brooklyn, empresa com seis funcionários e que fabrica cabides de alta qualidade para varejistas. Ele contou que os fornecedores domésticos que vendiam os ganchos de metal para os cabides de sua empresa fecharam ou foram para o exterior há mais de duas décadas.

Ele agora obtém os ganchos e outros componentes metálicos da China, e as tarifas dos EUA sobre as importações do país estão aumentando rapidamente suas despesas. A base de um cabide para saias, que custava US$ 0,40 antes da imposição das taxas, agora custa US$ 0,80, disse ele.

Cousido acredita que a política do governo deveria abrir exceções para os fabricantes que não conseguem encontrar componentes fabricados nos EUA.

“Não posso implorar a alguma empresa: ‘faça este item para nós’”, disse ele.

A Haas Automation, construtora de maquinário para fábricas, com sede na Califórnia, tem um argumento semelhante. Ela importa ferro fundido da China para fazer os quadros de seus produtos. Peter Zierhut, vice-presidente de operações externas da Haas, disse que os EUA não têm fundições capazes de gerar os cerca de 50 milhões de quilos que a empresa consome anualmente, e ele vê poucas chances de que retornem.

Construir uma nova fundição exigiria centenas de milhões de dólares em investimentos para produzir uma mercadoria que custa apenas alguns dólares por quilo, disse ele. Encontrar trabalhadores também seria difícil, afirmou ele.

“Simplesmente não parece realista que o ferro fundido — indústria de tecnologia super baixa — construa suas operações nos Estados Unidos”, disse Zierhut.

As tarifas que a empresa está pagando sobre o ferro e outras peças da China podem aumentar o preço de suas máquinas em cerca de 20%, disse ele.

Enquanto isso, concorrentes baseadas na Coréia do Sul, Taiwan e Japão estão enviando seus produtos para os EUA com uma tarifa de apenas 10% a 14%.

A Haas disse que já cortou a produção e eliminou as horas extras em sua fábrica em Oxnard, na Califórnia. A empresa está construindo uma fábrica de US$ 500 milhões em Nevada para atender ao que esperava ser um aumento na demanda por suas máquinas, mas Zierhut disse que, sem alívio tarifário, a abertura da fábrica pode ser adiada. 

Americanização

Alguns fabricantes disseram que estão progredindo na americanização de suas cadeias de suprimentos. Dois anos atrás, a CorVent Medical, que fabrica ventiladores na Dakota do Norte, obtinha até 70% de suas peças da China.

Hoje, a CorVent obtém até 70% de suas peças de fornecedores dos EUA e pretende alcançar os 100% nos próximos anos.

Componentes feitos de chapa metálica e plástico têm sido relativamente fáceis de repatriar, disse Richard Walsh, CEO da CorVent. Outros foram muito mais difíceis. Os transistores, motores e placas de energia usados em seus ventiladores estão disponíveis apenas em Taiwan, disse ele.

No entanto, a empresa conseguiu trazer uma parte importante de sua cadeia de suprimentos de volta aos EUA contratando uma empresa de Minnesota chamada Versa Electronics, que fabrica placas de circuito. Walsh disse que, embora alguns dos componentes das placas venham do exterior, a maior parte do custo vem da montagem.

Pouco volume

O CEO da Versa, Kevin Johnsrud, disse que sua empresa usa máquinas automatizadas para a colocação de resistores, capacitores e circuitos integrados em placas de circuito, embora os trabalhadores às vezes soldem os componentes manualmente.

A Versa pode competir com fornecedores estrangeiros porque é especializada em baixo volume, disse Johnsrud.

“Não fazemos milhões de celulares ou outros dispositivos”, disse ele.

Menos produtos americanos

Mesmo com o início da guerra comercial, menos bens de consumo embalados e itens de supermercado estão sendo comercializados como “Made in USA”, mostram dados da NielsenIQ.

Cerca de cem mil produtos ostentavam essa designação nos 12 meses encerrados em 12 de abril, disse a empresa, abaixo dos 102 mil nos 12 meses anteriores.

Alguns advogados disseram que as empresas podem enfrentar um escrutínio extra da Comissão Federal de Comércio sobre a proveniência de seus produtos. A agência tem regras rígidas para determinar se um produto pode ser anunciado como fabricado nos Estados Unidos, dizendo que “todos ou praticamente todos” seus componentes devem vir de dentro do país.

Priorização de grandes empresas

Os fabricantes às vezes adicionam qualificadores ao seu marketing, mas a fabricante de ferramentas Channellock, com sede na Pensilvânia, chama seus alicates, bolsas de ferramentas e chaves-de-fenda produzidos internamente de “100% Made in USA”. Ryan DeArment, vice-presidente executivo de vendas e marketing da empresa, disse que cada pedacinho de seu conteúdo, incluindo as embalagens de metal, tecido e papelão, tem fonte doméstica. 

Mesmo assim, as tarifas o preocupam. DeArment teme que as fabricantes do aço para o alicate Channellock priorizem montadoras e outros grandes clientes se as taxas de importação aumentarem a demanda por metal americano.

“Pode não nos impactar em 2025, mas poderemos ver uma mudança em 2026”, disse ele. “Há muitas variáveis.”

Traduzido do inglês por InvestNews

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