O presidente dos EUA, Donald Trump, na rotunda do Capitólio dos EUA em Washington. Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/Bloomberg

A medida agressiva do presidente Trump de impor tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em importações, que vão desde petróleo bruto e autopeças do Canadá até abacates e framboesas mexicanos, abalou investidores, economistas e alguns legisladores, que estão se perguntando: por quê?

Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano do presidente Bill Clinton, afirmou que a medida de Trump representava “um choque de oferta autoinfligido”. Para Rand Paul, senador republicano pelo Kentucky, “tributar o comércio significará menos comércio e preços mais altos.” Jay Timmons, chefe da Associação Nacional de Fabricantes, disse que a medida colocava em risco os empregos americanos. “O efeito cascata será grave”, afirmou ele.

Por muitas dessas razões, as tarifas eram a parte do plano econômico de Trump da qual os investidores menos gostavam. Os mercados aplaudiram as promessas de cortes de impostos e redução da regulamentação, mas Trump priorizou seu plano de comércio exterior em detrimento de praticamente todo o resto.

Outros países já começaram a retaliar, e Trump reconheceu no domingo que pode haver alguma “dor” para os consumidores dos EUA.

As reações

O Canadá está planejando tarifas sobre US$ 100 bilhões em mercadorias, incluindo álcool, calçados, aço, alumínio e produtos aeroespaciais. A China e o México, que também enfrentam novas tarifas dos EUA, preparam contra-ataques semelhantes.

Trump defendeu suas tarifas dizendo em um post todo em letras maiúsculas: “Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!)”. Ele acrescentou que “valerá a pena pagar mais caro” e repetiu o apelo para transformar o Canadá no 51º estado dos EUA.

No fim de semana, os republicanos apoiaram as medidas de Trump. “Esta é só a segunda semana do governo Trump e Washington não sabe o que o atingiu”, disse o senador John Barrasso (republicano de Wyoming), no programa “Sunday Morning Futures”, da Fox News. Questionado se estava preocupado com o fato de as tarifas poderem minar os outros objetivos políticos do governo, Barrasso disse que não.

O representante Jason Smith (republicano do Missouri), que preside o Comitê de Formas e Meios da Câmara, responsável pela legislação tarifária, disse que as tarifas trariam bilhões de dólares em novas receitas para o governo dos EUA.

Durante sua campanha presidencial, Trump afirmou que as tarifas seriam uma parte fundamental de sua estratégia de governo, dizendo repetidamente que “tarifa” é sua palavra favorita. Muitos investidores acreditavam que isso fazia parte de uma manobra de negociação com outros países e que ele tentaria extrair concessões antes de adotá-las.

Até agora, Trump não passou muito tempo negociando com nenhum país. Seu principal conselheiro comercial, Howard Lutnick, indicado para ser o secretário do Comércio, ainda não foi confirmado pelo Senado. A audiência de confirmação da escolha para embaixador de comécio, Jamieson Greer, ainda não ocorreu.

Reavaliando riscos

Analistas e economistas de Wall Street são praticamente unânimes em dizer que tarifas do tipo que Trump divulgou neste fim de semana, se mantidas por mais de alguns meses, prejudicarão o crescimento dos EUA e aumentarão a inflação. Depois que a Casa Branca anunciou na sexta-feira as próximas tarifas, os índices de ações reverteram os ganhos diários e fecharam em baixa. Na manhã de segunda-feira, caíram ainda mais.

“O mercado precisa reavaliar estrutural e significativamente o custo do risco da guerra comercial”, disse George Saravelos, chefe de pesquisa cambial do Deutsche Bank.

Um grupo nacional de construção de casas disse que as tarifas ameaçam desacelerar a construção de residências. Os produtores americanos de combustível disseram que isso poderia significar preços mais altos para a gasolina. A associação comercial da indústria de medicamentos genéricos mencionou a possibilidade de aumento da escassez de medicamentos. Zippy Duvall, presidente do grupo de defesa da American Farm Bureau Federation (Federação Agrícola Americana), disse que os agricultores e as comunidades rurais dos EUA “arcariam com o peso da retaliação”.

“Foi Donald Trump quem fez campanha para reduzir os custos, e agora é Donald Trump quem vai aumentá-los”, disse o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer (democrata de Nova York).

O impacto preciso dependerá de quanto tempo as tarifas permanecerão em vigor e se outros países irão retaliar.

O think tank Tax Policy Center estima que a renda familiar média após impostos cairá 1%, ou US$ 930, em 2026 por causa das tarifas. Os economistas do Goldman Sachs estimam que as tarifas sobre o Canadá e o México, se mantidas, aumentariam os preços ao consumidor em até 0,7% e derrubariam o nível de produção econômica em 0,4%.

Em teoria, o custo direto das tarifas para os consumidores poderia ser compensado por mais cortes de impostos. Mas as tarifas terão outros custos menos tangíveis, como forçar os consumidores a alterar o que compram por causa do custo ou da disponibilidade. O Instituto Peterson para a Economia Internacional estima que as tarifas deixarão a economia dos EUA cerca de 0,25% menor no próximo ano e 0,1% no longo prazo.

Cortes de impostos e de gastos

As negociações de corte de impostos podem começar em breve no Congresso, embora esse processo provavelmente se estenda ao longo de meses. Trump quer estender seus cortes de impostos de 2017, agora expirados, e adicionar novas medidas, como gorjetas e pagamento de horas extras isentos de impostos. Os republicanos em geral concordam com seus objetivos mais amplos. Mas estão paralisados por sua estreita maioria na Câmara e atolados em disputas internas sobre quão profundo devem ser os cortes dos gastos federais junto com os cortes de impostos. Eles podem dar o primeiro passo formal nesta semana, trazendo um plano para o painel de orçamento da Câmara.

O esforço de Trump para cortar gastos do governo já esbarrou em desafios legais e erros internos. A Casa Branca acredita que os altos níveis de gastos do governo alimentam a inflação e, na semana passada, o Escritório de Administração e Orçamento tentou congelar temporariamente uma série de programas governamentais.

Essa iniciativa gerou confusão e foi inicialmente bloqueada por um juiz federal. Autoridades da Casa Branca terão outra oportunidade de buscar cortes de gastos quando negociarem um projeto de lei orçamentária com o Congresso antes do prazo final de 14 de março. No entanto, provavelmente precisarão da cooperação dos democratas se quiserem aprovar qualquer pacote que evite uma paralisação do governo.

Outra parte fundamental da agenda econômica de Trump é aumentar a produção de energia, que, na opinião dele, poderá reduzir os preços de uma série de produtos e levar a mais cortes nas taxas de juros. Até agora, não parece haver muito apetite de outros países produtores de petróleo ou empresas de energia por uma expansão dramática da perfuração. Não está claro o que Trump pode tentar fazer para forçar o apoio a esse objetivo.

Em 2018, quando lançou tarifas agressivamente, ele disse que seu objetivo era trazer de volta os empregos americanos. Desta vez, o presidente parece mais focado nas pesadas taxas de importação que as tarifas podem trazer, criando mais dinheiro para bancar seus planos.

Ainda não está claro se as tarifas também podem forçar as mudanças que Trump busca. Summers, que corretamente alertou o então presidente Joe Biden em 2021 que suas políticas de estímulo levariam a uma inflação mais alta, disse no domingo no “Inside Politics Sunday”, da CNN, que não achava que as tarifas teriam sucesso em forçar outros países a aceitar mudanças significativas na política.

“Pense no que acontece quando cedemos a um valentão. Isso gera mais ameaças”, disse Summers.

Observação: Após a publicação da reportagem, os Estados Unidos concordaram em suspender por um mês a aplicação das tarifas sobre o México e sobre o Canadá.

Escreva para Lindsay Wise em [email protected]

Traduzido do inglês por InvestNews

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