A ideia de que as vacinas causam autismo foi refutada por cientistas há algum tempo. No entanto, ela não desaparece.
A Secretaria de Saúde e Serviços Humanos, a agência de Robert F. Kennedy Jr., por exemplo, está lançando um novo estudo para analisar possíveis ligações entre vacinas e autismo. E a negação da vacina está ressurgindo, mesmo com a proliferação de surtos de sarampo em todo o país.
O ceticismo é confuso, uma vez que os cientistas dizem que vários estudos já mostraram que a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola (MMR) inequivocamente não causa autismo.
“Não descobriremos absolutamente nada com outro estudo”, diz Helen Tager-Flusberg, diretora do Centro de Excelência em Pesquisa em Autismo da Universidade de Boston. “Já descartamos isso.”
Então, por que as dúvidas persistem? Em parte, isso se deve a um estudo de 1998, cuja retratação já foi feita, baseado em dados fraudulentos de apenas 12 crianças, que deu origem à teoria vacina-autismo e continua a alimentar teorias da conspiração.
Um motivo maior: ainda não sabemos com certeza o que causa o autismo. Se soubéssemos, teríamos como convencer as pessoas do que não o causa.
Em resumo, as causas do autismo permanecem complexas. Essa é uma resposta compreensivelmente insatisfatória para pais com filhos que foram diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA).
O que sabemos
Então, o que sabemos sobre o que causa o TEA, distúrbio de neurodesenvolvimento que engloba uma variedade de condições, resultando em vários graus de desafios com habilidades sociais, fala e comportamentos repetitivos?
Primeiro, o número de crianças diagnosticadas com autismo tem aumentado. Cerca de uma em cada 36 crianças de oito anos são diagnosticadas com TEA nos EUA, contra uma em cada 150 em 2000. Os pesquisadores atribuem o aumento em grande parte a uma melhor conscientização e a critérios diagnósticos mais amplos.
Os médicos normalmente fazem testes para o TEA quando os bebês têm de 18 meses a dois anos de idade. Portanto, não é de surpreender que alguns pais culpem uma ocorrência recente — como a vacina MMR. Afinal, a primeira dose da vacina MMR é administrada por volta de 1 ano de idade.
Alguns céticos apontaram o timerosal, conservante que contém mercúrio usado em algumas vacinas. Mas a vacina MMR nunca usou timerosal e o conservante foi retirado das vacinas infantis nos EUA em 2001, de acordo com o CDC.
Mais de duas dúzias de estudos analisaram a vacina MMR e o autismo e não encontraram uma ligação. Isso inclui um estudo maciço de 2019 no periódico “Annals of Internal Medicine”, que analisou mais de 600 mil crianças na Dinamarca. Esses estudos foram feitos em diferentes estilos e diferentes países. Todos chegaram à mesma conclusão.
Em vez das vacinas, os cientistas dizem que a genética tem um papel dominante — tanto características herdadas quanto mutações espontâneas no início da concepção.
Em outras palavras, o TEA está em grande parte fora de nosso controle. Na maioria das vezes, as pessoas com traços genéticos hereditários para o autismo nem sabem disso.
Fatores de risco
O risco restante vem do impacto de fatores ambientais que ocorrem em grande parte no útero enquanto o cérebro do feto está se desenvolvendo. Portanto, as bases ocorrem antes mesmo de nascermos.
“É um dos distúrbios neuropsiquiátricos mais hereditários”, diz o dr. Daniel Geschwind, professor de neurologia, psiquiatria e genética humana na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
Separadamente, existem pelo menos 200 genes conhecidos por serem afetados por mutações espontâneas que ocorrem quando um espermatozoide ou óvulo está se dividindo após a concepção e que estão ligados ao autismo, diz Geschwind. Estudos associaram a idade paterna avançada a um maior risco de autismo. Alguns cientistas especulam que o esperma de pais mais velhos pode ter maior probabilidade de ter essas mutações espontâneas.
A maioria das mudanças genéticas e exposições ambientais ligadas ao autismo ocorre entre o primeiro trimestre e segundo trimestre da gravidez, diz Geschwind. “É extremamente improvável que qualquer coisa que ocorra após o nascimento ou o período perinatal imediato influa”, diz ele.
Sistema imunológico materno
Judy Van de Water, professora de medicina da Universidade da Califórnia, em Davis, estuda o autismo da perspectiva da imunologia com foco no sistema imunológico materno durante a gravidez.
Seu laboratório desenvolveu um exame de sangue para autoanticorpos maternos — células imunes que atacam erroneamente o corpo — que podem atravessar a placenta e atingir proteínas cerebrais fetais.
Ela diz que cerca de 20% dos casos de autismo decorrem desses autoanticorpos maternos. Ainda não está claro quando os autoanticorpos se formam ou o que os desencadeia, se é que exista algo.
Mas, se estiverem presentes, estudos mostram que uma mulher tem 98% de risco de ter um filho com autismo. Van de Water criou uma empresa para fazer um produto comercial para que as mulheres possam fazer o teste antes da gravidez. Ela espera colocá-lo no mercado um ano após os estudos de validação. “Isso não descarta outras causas de autismo”, observa ela.
Além da idade paterna avançada, estudos descobriram que mães mais velhas também têm um risco maior de ter um filho com autismo. Os riscos dos pais mais velhos são independentes, mas a idade paterna tem um impacto mais forte.
Muitos dos outros fatores identificados ligados a um risco aumentado de autismo estão relacionados à saúde materna durante a gravidez. Algumas infecções durante a gravidez, como uma febre alta, podem ser um fator de risco, assim como tomar certos medicamentos como ácido valpróico, usado para tratar convulsões e transtorno bipolar. Os nascimentos prematuros também são um fator de risco.
Fatores genéticos e ambientais juntos provavelmente resultam em um risco aumentado de alguém desenvolver autismo, diz Heather Volk, professora da Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins. Ela e outros pesquisadores estudaram a exposição à poluição do ar durante a gravidez e encontraram uma associação com o autismo.
Ação protetora
Parte da frustração com o risco de autismo é que não há muito o que possamos fazer para controlá-lo. Manter-se saudável durante a gravidez, no entanto, pode ajudar a minimizar o risco.
Janine LaSalle, professora de microbiologia e imunidade da Universidade da Califórnia, em Davis, diz que há evidências sugerindo que os riscos à saúde materna — como obesidade, ganho de peso durante a gravidez e diabetes gestacional — podem aumentar o risco de ter um filho com autismo.
Outra ação protetora que as mães grávidas podem considerar é tomar uma vitamina pré-natal com ácido fólico e suplementação de ferro. Isso é especialmente importante no primeiro mês de gravidez e, portanto, deve ser iniciado quando a mulher está tentando engravidar, diz LaSalle.
“Se houvesse um único culpado, já teria sido encontrado”, diz LaSalle. “É realmente a complexidade da formação do cérebro humano, e há tantas coisas que podem influenciá-la.”
Escreva para Sumathi Reddy em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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