A iniciativa do presidente Trump para introduzir um novo padrão de tarifa para o comércio global está ganhando mais clareza, à medida que as autoridades dos EUA e da União Europeia convergem para um possível acordo de 15%, que poderia ocorrer na esteira de algo semelhante ao que aconteceu no Japão.

Em conjunto, os dois acontecimentos representam um ponto de virada em meses de negociações comerciais globais que alimentaram a incerteza entre investidores e os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos.

Ainda há muita incerteza, embore falte apenas uma semana do prazo imposto pelo próprio Trump, 1º de agosto, para a celebração de acordos comerciais com outros países.

Porém, acordos com dois dos maiores parceiros comerciais dos EUA, Canadá e México, não foram firmados e esses países correm o risco de serem penalizados com tarifas de 35% e 30%, respectivamente, caso não sejam aconteçam antes da próxima semana. Atualmente, tarifas de 25% são aplicadas a ambos os países, com isenções para determinados produtos.

Uma trégua de 90 dias com a China já reduziu para 30% as tarifas adicionais sobre as exportações do país para os EUA neste ano, valor que inclui taxas de 10% sobre todas as importações americanas. As tarifas sobre o país poderão disparar novamente em 12 de agosto.

Empresas em banho maria

Os desdobramentos com o Japão e a UE oferecem alguma clareza às empresas e à economia global após meses de turbulência. As empresas têm adiado grandes investimentos e decisões em meio aos anúncios tarifários de Trump e à incerteza sobre se os países conseguirão fechar acordos comerciais com seu governo.

“Quando se tem esses acordos-quadro, o risco de guerras comerciais mais prejudiciais e retaliação, é eliminado”, disse Brett Ryan, economista sênior do Deutsche Bank para os EUA.

A taxa de 15% sobre produtos representa, em grande parte, o maior nível tarifário imposto ao Japão em décadas e é superior aos 10% sobre a maioria das importações dos EUA que Trump implementou em 5 de abril.

Mas, em um sinal de como as expectativas mudaram, os mercados pareceram receber bem a notícia — um reconhecimento de que a taxa não é tão severa quanto os 25% que ele havia ameaçado.

Ainda assim, as tarifas mais altas devem elevar os preços dos produtos para os consumidores americanos, afirmam economistas. Isso pode pesar sobre a economia doméstica, que até agora tem demonstrado resiliência em meio às guerras comerciais de Trump.

15% é um número enorme para taxas. Se for isso que veremos em outros países, estamos em um mundo novo e mais oneroso”, disse Gene M. Grossman, professor de economia internacional na Universidade de Princeton.

A tarifa de 15% sobre automóveis japoneses representa uma redução em relação à tarifa de 25% imposta por Trump para a maioria dos carros e peças que chegam aos EUA.

Montadoras

As montadoras americanas esperam que reduções tarifárias semelhantes sejam aplicadas a seus veículos e peças importadas do Canadá e do México, que atualmente enfrentam uma tarifa de 25%, com isenções dependendo da origem dos componentes.

A indústria automotiva americana criticou as tarifas de 15% por darem às montadoras japonesas uma vantagem injusta.

“Qualquer acordo que cobre uma tarifa para importações japonesas, com praticamente nenhum conteúdo americano, menor do que a tarifa imposta a veículos fabricados na América do Norte com alto conteúdo americano é um mau negócio para a indústria e os trabalhadores automotivos americanos”, disse Matt Blunt, chefe do Conselho Americano de Política Automotiva, na quarta-feira. O órgão representa a General Motors, a Ford Motor e a Stellantis.

Thomas Simons, economista-chefe para os EUA do banco de investimento Jefferies, afirmou que mesmo tarifas de 15% provavelmente resultarão em carros mais caros para os consumidores americanos.

O destino do setor automotivo tem sido um ponto de discórdia nas discussões comerciais entre os EUA e a UE, com o bloco tentando obter uma redução nas tarifas americanas atuais de 25% sobre o setor.

Autoridades europeias esperam que um possível acordo com os EUA aplique uma tarifa básica de 15% como taxa fixa para a maioria das exportações da UE para os EUA, disseram pessoas familiarizadas com a ideia. Esse valor não seria adicionado às taxas que existiam antes de Trump começar a aumentar as tarifas este ano. Isso é diferente da tarifa geral atual de 10% dos EUA, que foi adicionada às tarifas existentes.

Como resultado, a tarifa de 15% atualmente em discussão não seria muito maior, em média, do que o nível atual que a UE enfrenta, disseram as pessoas. A tarifa básica de 15% se aplicaria a automóveis, embora não se espere que seja aplicada ao aço e ao alumínio, que atualmente enfrentam tarifas de 50%.

Autoridades da UE estão discutindo esses termos como parte de um possível acordo com seus colegas americanos, que parecem concordar com o nível de 15%, disseram as pessoas. Mas elas enfatizaram que um acordo não era certo e qualquer acordo precisaria da aprovação de Trump.

Os EUA e a UE também discutiram a criação de isenções da tarifa básica para certos setores, incluindo o setor aeronáutico, disseram as pessoas.

Trump pareceu sugerir na quarta-feira (23) que estava aberto a um acordo com a UE que pudesse ser semelhante ao do Japão. Após promover o acordo com o Japão, ele disse que os EUA planejam impor uma tarifa simples aos países, que variará de 15% a 50%.

“Oferecemos esse acordo à União Europeia”, disse Trump, sem se referir diretamente ao Japão. “Estamos em negociações sérias e, se eles concordarem em abrir a União às empresas americanas, permitiremos que paguem uma tarifa mais baixa.”

Um porta-voz da Casa Branca disse que qualquer discussão sobre possíveis acordos deve ser considerada especulação, a menos que seja anunciada por Trump.

Há algumas semanas, a UE acreditava estar perto de um acordo com os EUA, que estabeleceria tarifas de base em 10%, com isenção para alguns setores. Mas isso foi questionado quando Trump publicou uma carta ameaçando impor tarifas de 30% ao bloco a partir de 1º de agosto.

Desde então, a UE tem mantido as negociações com os EUA.

Autoridades disseram ao chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, na semana passada, que esperavam que Trump exigisse uma tarifa de base de 15% ou mais para chegar a um acordo.

Tarifa do Japão

Após o anúncio do acordo com o Japão, ficou mais fácil para as autoridades europeias aceitarem a ideia de que também poderiam ter tarifas básicas de 15%, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. O acordo com o Japão representou um sinal de que 15% é o nível que poderia ser estabelecido para a maioria dos principais parceiros comerciais dos EUA.

O bloco também continua a preparar contramedidas contra os EUA caso um acordo não seja alcançado. Os países membros devem aprovar um pacote de tarifas potenciais sobre produtos americanos no valor de mais de US$ 100 bilhões, em um sinal de que o bloco não considera o acordo esperado com os EUA como algo fechado. Essas tarifas não entrariam em vigor antes de 7 de agosto.

O acordo firmado entre Japão e EUA também contém um novo compromisso financeiro que, segundo o governo, envolverá a contribuição de US$ 550 bilhões de bancos e instituições financeiras japonesas para um fundo que o governo poderá então direcionar para projetos de infraestrutura de sua escolha.

“Os japoneses darão aos Estados Unidos a capacidade de escolher os projetos, decidir sobre os projetos e executá-los”, disse o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, na Bloomberg TV. “Os japoneses financiarão o projeto e, em seguida, o entregaremos a uma operadora que o administrará, e os lucros serão divididos — 90% para os contribuintes [dos EUA] e 10% para os japoneses.”

Ainda não está claro como o fundo de investimento seria estruturado. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, afirmou que ele consistiria em investimentos em empréstimos e garantias, mas Lutnick afirmou que também envolveria capital próprio. “Os japoneses são os financiadores, os banqueiros”, disse ele à Bloomberg.

Senadores republicanos informados sobre o acordo elogiaram o novo fundo de investimento como uma forma de realizar investimentos essenciais à segurança nacional, como produção de semicondutores, minerais e energia.

“É uma estrutura que eu nunca vi antes”, disse o senador Bill Hagerty, embaixador de Trump no Japão durante seu primeiro mandato. “Eles vão montar um pacote de financiamento enorme. Portanto, não se trata de investimento estrangeiro, mas sim de um pacote de financiamento, e escolheremos os melhores projetos e deixaremos as pessoas competirem por esses projetos.”

Os democratas se mostraram céticos em relação a um fundo que alguns rotularam de “fundo secreto”, que temem ser gasto em prioridades políticas favorecidas por Trump, e não apenas em projetos estratégicos.

No início desta semana, os EUA também firmaram um pacto com as Filipinas e deram detalhes sobre sua estrutura comercial com a Indonésia, com base em um anúncio inicial da semana passada.

Traduzido do inglês por InvestNews

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