O esforço diplomático mostra que meses de negociações comerciais estão longe do fim, apesar da série de acordos alardeados pela Casa Branca no último mês.
A União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul estão entre os países que firmaram pactos com Trump, enquanto, nos bastidores, seus negociadores continuam a discutir com autoridades americanas a possibilidade de mais alívio para setores de exportação valorizados. Dezenas de isenções e exceções já foram permitidas para produtos como suco de laranja brasileiro e cobre chileno.
Ao mesmo tempo, os negociadores buscam maior clareza sobre os planos tarifários dos EUA. Detalhes importantes de muitos dos pactos firmados até o momento ainda não foram finalizados ou, em alguns casos, estão sendo interpretados de forma diferente por cada parte.
Referindo-se às tarifas recíprocas que entraram em vigor à meia-noite, Trump afirmou em uma publicação nas redes sociais que “bilhões de dólares em tarifas estão agora fluindo para os Estados Unidos da América”.
O presidente afirmou na quarta-feira (6) que as tarifas sobre semicondutores importados seriam fixadas em cerca de 100% — com isenções para empresas como a Apple, fabricante do iPhone, que investem na indústria americana. As novas taxas prometidas para outros setores sensíveis, como o farmacêutico, ainda não foram anunciadas oficialmente.
Essa confusão — e a disposição do presidente em ajustar as tarifas espontaneamente em busca de uma variedade de objetivos políticos — significam que a incerteza quanto ao acesso ao vasto mercado interno dos EUA está se tornando uma característica fundamental da ordem econômica emergente, com efeitos indiretos sobre investimentos empresariais, contratações e preços. Trump disse na quarta-feira que as importações da Índia seriam atingidas por uma taxa extra de 25% como punição pela compra de petróleo russo, além da tarifa de 25% que o país já enfrenta.
Autoridades do governo insistiram durante meses que não haveria “nenhuma isenção, nenhuma exceção” às tarifas específicas para cada país que Trump anunciou em abril que seriam implementadas, visando aliados e adversários, no que o presidente disse ser uma retaliação dos EUA a décadas de tratamento injusto no comércio internacional.
Ainda assim, em abril, a Casa Branca afirmou que smartphones, laptops e outros eletrônicos de consumo seriam isentos de impostos mais altos sobre importações da China e de outros produtores asiáticos. Também isentou energia, ouro em barras e alguns minerais essenciais, enquanto excluiu algumas outras importações, como aço, alumínio, medicamentos e cobre, das novas tarifas atribuídas a países individuais, por serem abrangidas por diferentes ordens tarifárias.
À medida que mais acordos comerciais eram firmados, mais isenções eram anunciadas. Trump assinou um decreto na semana passada implementando uma tarifa de 50% sobre produtos do Brasil, mas as principais exportações brasileiras, incluindo aviões, alguns metais, combustíveis e suco de laranja, foram excluídas. Ao todo, a Casa Branca listou 694 produtos isentos, representando cerca de 43% das exportações brasileiras de US$ 42,3 bilhões para os EUA, de acordo com a Câmara de Comércio Americana no Brasil.
O Chile é outro país que convenceu o governo Trump a isentar uma exportação importante de tarifas. O Chile é um importante fornecedor de cobre para os EUA e conseguiu obter alívio da tarifa de 50% que Trump disse que cobraria sobre as importações de cobre. Cerca de 65% das importações americanas de cobre refinado vêm do Chile, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA.
“Estamos passando de nenhuma isenção para isenções limitadas, especialmente para produtos que não podem ser fabricados aqui”, disse Everett Eissenstat, que atuou como vice-diretor do Conselho Econômico Nacional no primeiro mandato de Trump.
Agora, a corrida para garantir mais isenções começou.
União Europeia
A UE aceitou uma tarifa básica de 15% sobre a maioria das importações americanas do bloco, como parte do que descreveu como um acordo político com a Casa Branca.
O bloco informou que prevê que alguns produtos serão excluídos da tarifa básica de 15% porque os EUA os consideram bens estratégicos. Aeronaves e componentes devem estar em uma lista de produtos que não enfrentarão tarifas adicionais dos EUA quando mais detalhes forem anunciados, disseram autoridades da UE, e ainda estão disputando para garantir mais isenções para produtos como produtos químicos, medicamentos genéricos e até mesmo vinhos e bebidas destiladas.
Empresas europeias também estão apresentando seus argumentos. O presidente-executivo da Volkswagen, Oliver Blume, disse na semana passada que a empresa continuaria as negociações com o governo Trump sobre o apoio a um pacote de investimentos multibilionário que poderia ajudar a compensar tarifas mais altas. A BMW afirmou que continuaria pressionando por um programa de reembolso de exportações, pelo qual os exportadores normalmente podem recuperar tarifas pagas ou outros impostos ao exportar produtos de fábricas americanas.
Os esforços para garantir isenções são apenas parte de um esforço para manter as negociações com os EUA abertas, em meio à ansiedade nas capitais estrangeiras sobre novas oscilações na política comercial de Trump. Trump afirmou que novas tarifas pesadas sobre produtos farmacêuticos podem chegar a 250%.
A Coreia do Sul, que firmou um acordo comercial com Washington na semana passada, já está se preparando para novas negociações, disse o Ministro das Finanças, Koo Yun-cheol, aos legisladores na quarta-feira.
O principal negociador comercial do Japão, Ryosei Akazawa, viajou aos EUA na terça-feira para continuar as discussões com autoridades americanas. Entre as perguntas de Tóquio está quando exatamente uma redução acordada nas tarifas automotivas dos EUA entrará em vigor, disse ele.
Países menores também continuam trabalhando para aprimorar seus acordos. O Camboja espera isenções na tarifa de 19% para diversos setores, incluindo vestuário, calçados e malas, disse o principal negociador do país nas negociações comerciais com os EUA, o vice-primeiro-ministro Sun Chanthol.
“19% não é uma meta definitiva, porque temos a capacidade de voltar atrás e isentar certos setores”, disse ele. Ele acrescentou que muitos outros países estão buscando isenções semelhantes.
“Sinto muito por eles”, disse sobre a equipe de negociação dos EUA. “Há tantos países com quem conversar.”
Traduzido do inglês por InvestNews
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