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Já passamos do ponto de imaginar como a inteligência artificial poderia nos ajudar a trabalhar com mais eficiência. A questão agora é se conseguiremos manter as horas que economizamos ou se a recompensa por trabalhar mais rápido é ter mais trabalho.

Lidar rapidamente com os itens tediosos de nossas listas de tarefas deveria nos fazer ver a IA como uma aliada, em vez de torná-la uma ameaça. Mas, a menos que terminar cedo traga mais tempo livre ou outros ganhos, os verdadeiros beneficiários provavelmente serão as empresas que buscam extrair mais produtividade de suas equipes.

Por exemplo: não parece que os funcionários da Amazon terão um redução nas cargas de trabalho. O CEO Andy Jassy recentemente os incentivou a “descobrir como inventar para nossos clientes de forma mais rápida e abrangente, e como produzir mais com equipes mais agressivas” usando IA.

A mensagem clara dele e de outros líderes empresariais é que não podemos simplesmente fazer a mesma quantidade trabalho que fazíamos em menos tempo e sair do trabalho mais cedo. Se fizermos isso, corremos o risco de ser substituídos por alguém que usa IA para aumentar a produtividade.

Ainda assim, os trabalhadores não vão aceitar isso sem lutar.

Economia de tempo

Uma pesquisa recente revelou que quase metade dos trabalhadores acredita que eles deveriam aproveitar a economia de tempo que ganham com IA, e não seus empregadores. Essa pesquisa, conduzida pela fabricante de software empresarial SAP, também constatou que os trabalhadores que usam IA economizam, em média, quase uma hora por dia.

Mais de um quinto dos entrevistados disseram que preferem esconder essa hora ganha do que dar aos gerentes um motivo para que façam mais. Eles navegam no Zillow enquanto fingem trabalhar, ou usam outras formas de “teatro de produtividade“.

Como as empresas podem evitar que isso se transforme em um novo campo de batalha no ambiente de trabalho?

Elas precisam minimizar a falta de clareza e o ressentimento para aproveitar ao máximo as tecnologias emergentes, afirma Autumn Krauss, cientista-chefe da equipe de insights de mercado e engajamento do cliente da SAP.

Isso significa fazer com que os funcionários sintam que estão recebendo algo mais atraente do que uma carga de trabalho mais pesada.

“Temos clientes em serviços jurídicos e profissionais que adotaram uma abordagem mais progressiva e estratégica”, diz ela. “Eles estão dizendo: ‘Não vamos apenas exigir mais horas faturáveis. Vamos permitir que você realoque esse tempo para o desenvolvimento profissional.’”

Dessa forma, os funcionários podem usar o tempo liberado pela IA para se prepararem para futuras promoções e aumentos.

Recuperando as horas   

É claro que nem todas as empresas usarão essa abordagem. Ou os funcionários simplesmente resolverão a situação por conta própria.

Veja o que acontece com Jeff Mette. Enquanto algumas pessoas economizam minutos usando o ChatGPT para redigir e-mails, Jeff Mette é um ninja da IA. El​​e economiza muito mais tempo usando diversas ferramentas de inteligência artificial, cada uma para um objetivo específico.

Mette, diretor administrativo de uma empresa de consultoria de software em Atlanta, recorre à Gemini para pesquisas. Ele recorre à Perplexity para resumir as notícias. E ele ainda treinou o Claude para imitar seu estilo de escrita.

No total, Jeff Mette estima que, o que ele fazia em 60 horas de trabalho agora pode ele faz em 30. Isso se deve, em grande parte, ao fato de a IA o atualizar sobre clientes em potencial e sobre seus concorrentes muito mais rapidamente do que seu antigo processo de analisar documentos financeiros e relatórios manualmente.

“Comecei um trabalho paralelo por causa de coisas que descobri que podia fazer com IA”, diz Mette, 52 anos. Desde janeiro, ele assessora pequenas empresas de forma independente sobre estratégias de entrada no mercado.

Ele sente que deve 40 horas semanais ao seu empregador principal. Mas também acha justo recuperar as horas trabalhadas além do tempo integral padrão e investi-las em algo próprio.

Em seu emprego principal, ele agora reserva uma hora para reuniões com café, que antes ele comprimia em 30 minutos. “O ritmo mais lento aumenta a criatividade”, diz ele.

Burnout

Uma coisa é transferir o tempo economizado para um segundo emprego ou curso de desenvolvimento profissional. Outra coisa é trabalhar menos.

A história não está do lado dos funcionários nesse aspecto.

“As novas tecnologias que aceleram aspectos do trabalho intelectual tendem a levar a um ritmo mais acelerado de trabalho intelectual”, afirma Cal Newport, autor de Slow Productivity (algo como “Produtividade Lenta”), que defende trabalhar em um ritmo natural para realizar bem menos tarefas. “O advento dos PCs e do e-mail no escritório, por exemplo, levou apenas a um aumento enorme na carga de trabalho média dos funcionários.”

Isso ocorre, em parte, porque a produtividade é difícil de mensurar em muitos empregos, então as empresas costumam usar o tempo como um indicador.

A melhor aposta para quem espera realmente reduzir o ritmo de trabalho pode ser que as empresas percebam que os funcionários têm reservas limitadas de concentração profunda.

A IA supostamente nos liberta de tarefas mundanas para que possamos nos concentrar nas coisas importantes, mas será que realmente conseguimos ter grandes ideias oito horas por dia, cinco dias por semana?

“É bem possível que, ao tirarmos as tarefas de baixa demanda de nossas mãos, estejamos acumulando muitas tarefas de alta demanda”, afirma a economista e socióloga Juliet Schor, cujo novo livro, Four Days a Week (ou “Quatro Dias por Semana”), narra os experimentos de empresas com jornadas reduzidas.

Ela se preocupa com a possibilidade de os índices já altos de estresse e burnout entre os trabalhadores americanos piorarem se eles precisarem trabalhar longas horas com níveis de eficiência com ajuda da IA.

A maioria das empresas que testaram a semana de trabalho de quatro dias descobriu que seus funcionários conseguiam realizar suas tarefas antes do prazo, se tivessem um dia extra para recarregar as energias.

Mas horários reduzidos ainda estão longe de ser comuns. Para que isso mude, os trabalhadores podem primeiro ter que ser levados ao limite. As empresas reagirão se — e somente se — seus estímulos de produtividade com IA derem errado.

Traduzido do inglês por InvestNews

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