Há um momento em cada ciclo tecnológico em que engenheiros inovam rapidamente. Os lucros vão para aqueles que “se movem rápido e inovam”, para citar Mark Zuckerberg da década de 2010.
Estamos entrando em uma fase em que os gigantes vencem porque continuam a desenvolver os ativos físicos que tornam as tecnologias acessíveis.
Essa é a “era da infraestrutura” na qual as empresas investem vastas somas em, digamos, “coisas de verdade”. Basicamente, são os gigantescos data centers repletos de chips minúsculos e tudo o que os conecta e resfria, mas também inclui fábricas, imóveis e energia.
Essa fase lembra a era dos titãs dos negócios que dominaram ferrovias, siderurgia e outros empreendimentos. E, assim como aconteceu naquela época, as grandes empresas de hoje, com sua capacidade de gastar (e tomar empréstimos), estão aprofundando e alargando ainda mais seus fossos. Até mesmo concorrentes consideráveis, como a OpenAI, têm dificuldade para acompanhar o ritmo.
Uma análise de um item chave nos relatórios de lucros das empresas mostra que as empresas de tecnologia mais valiosas estão comprando e construindo tudo em ritmo recorde. As 7 Magníficas de tecnologia gastaram coletivamente um recorde de US$ 102,5 bilhões nos últimos trimestres. Boa parte destes gastos saiu da Meta, Alphabet (Google), Microsoft e Amazon. Só Apple, Nvidia e Tesla, juntas, contribuíram com US$ 6,7 bilhões.
Um novo Vale do Silício
O investidor e especialista em tecnologia Paul Kedrosky afirma que, como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), os gastos com infraestrutura de IA já superaram os gastos com infraestrutura de telecomunicações e internet desde surgimento das pontocom — e continuam crescendo.
Ele também argumenta que uma explicação para a força contínua da economia americana, apesar das tarifas, é que os gastos com infraestrutura de TI são tão grandes que estão agindo como uma espécie de programa de estímulo ao setor privado.
“Os gastos com investimentos em IA contribuíram mais para o crescimento da economia americana nos últimos dois trimestres do que todos os gastos do consumidor”, afirma Neil Dutta, chefe de pesquisa econômica da Renaissance Macro Research, citando dados do Bureau of Economic Analysis.
Uma contabilização global dos gastos das emprsas do Vale do Silício com infraestrutura seria ainda maior, pois incluiria o investimento de capital dos parceiros mais importantes dessas empresas.
A Foxconn investiu recentemente na construção de fábricas para a Apple na Índia, que acabou de suplantar a China como fonte da maioria dos iPhones destinados aos EUA, de acordo com a Canalys.
E a maior fabricante de chips do mundo, a TSMC, despendeu cerca de US$ 10 bilhões em investimento de capital em seu último trimestre.
Mudança na remuneração
Em um passado não muito distante, quando o Facebook, a Microsoft e seus concorrentes produziam códigos, salários e remuneração em ações representavam uma proporção muito maior de seus gastos. Para que essas empresas continuem crescendo, elas agora estão se integrando verticalmente e detendo mais recursos para administrar seus negócios.
“Isso não aconteceu da noite para o dia”, diz Patrick Moorhead, analista do setor, que chama o que está acontecendo agora de “infraestrutura em escala planetária”.
Em 2003, quando Moorhead era executivo da AMD, sua empresa vendeu ao Google, império do Vale do Silício, alguns de seus primeiros sistemas para a construção de sua infraestrutura de data center pelo menor preço possível.
O que antes eram caixas caras — basicamente PCs turbinados — no início deste século evoluíram em duas décadas para vastas matrizes de servidores em rack que viabilizam a internet atual e o crescimento explosivo dos supercomputadores de IA. “Toda essa infraestrutura de TI e seus sistemas de suporte são as ferrovias e siderúrgicas da nossa geração“, acrescenta.
A OpenAI ainda tem dificuldades para competir com as gigantes. Ela depende de infusões contínuas e gigantescas de capital de investidores, mesmo à medida que as grandes empresas agem como “fast-followers” (em tradução livre, ‘seguidores rápidos’), roubando seus clientes e talentos. A OpenAI tem lutado para realizar seu sonho de um gigantesco data center de IA chamado Stargate, e a Meta atraiu alguns de seus engenheiros com pacotes salariais exorbitantes.
Menos gastos, mais contratos
Enquanto isso, lá no Vale do Silício, a Apple e a Nvidia gastam menos, mas direcionam contratos enormes de chips e fabricação para parceiros, conseguindo monopolizar a atenção e a produção desses parceiros.
E a Tesla, que historicamente também não dorme no ponto, é conhecida por investir muito em fábricas, uma rede de recarga e até mesmo em operações de mineração.
Em um paralelo quase perfeito com a era passada de John D. Rockefeller, Andrew Carnegie e J.P. Morgan, alguns dos atuais data centers que consomem muita energia estão sendo instalados em locais de antigas siderúrgicas, devido à proximidade com fontes de energia.
“É importante não levar essas comparações longe demais”, alerta H.W. Brands, professor de história na Universidade do Texas, em Austin, e autoridade nos titãs da indústria do final do século XIX. Uma diferença: embora possam investir muito em infraestrutura, as empresas mais valiosas da atualidade têm poucos funcionários. “O impressionante sobre essas empresas, em comparação com sua riqueza, é o número reduzido de pessoas que empregam”, acrescenta.
Uma área onde podemos traçar um forte paralelo, diz Brands, é a aplicação das leis antitruste: agora, como antes, isso só tende a acontecer muito depois de as empresas atingirem seu pico de tamanho e poder. “Em termos de concorrência, dificilmente há sinais de que essas empresas serão afetadas em breve”, diz Moorhead.
Uma nova guerra
Além de seus gastos recordes com investimentos de capital, muitas grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício também estão envolvidas em uma guerra sem tréguas por certos tipos de talentos, especialmente em IA — ferrovias precisam de engenheiros.
Centenas de milhões de dólares estão sendo negociados em aquisição e contratação de talentos. Essa guerra por talentos está se tornando mais uma maneira de as maiores empresas de tecnologia com os bolsos mais cheios obterem vantagens.
A lição de tudo isso: quando não há muita regulamentação e a concorrência se limita a um punhado de hegemonias coexistentes, as maiores ameaças vêm do exterior.
Os EUA e a China estão, é claro, envolvidos em uma disputa pelo domínio industrial global.
Os Estados Unidos já tiveram uma influência tranquila, mas seu sucesso contínuo não é mais garantido.
Traduzido do inglês por InvestNews
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