Publicidade

A economia americana, cada vez mais polarizada, está deixando sua marca no setor de hospedagem, em que hotéis de luxo cobram um ágio recorde.

Os preços dos quartos de luxo desafiaram a queda no número de turistas estrangeiros nos EUA e a fraqueza no mercado de trabalho para profissionais de colarinho branco. Viajantes de alta renda, que ficaram ainda mais ricos nos últimos anos com a disparada das bolsas e a valorização dos imóveis, têm esbanjado nas hospedagens sem muita cerimônia.

O viajante rico “parece estar tomando decisões com base em: ‘eu quero isso quando eu quiser, e estou disposto a pagar por isso’”, disse Jan Freitag, diretor nacional de análise de mercado de hotelaria na empresa de dados CoStar.

Nível recordes

A diária média em hotéis de luxo nos EUA está em nível recorde, em US$ 394 neste ano. O valor também é US$ 168 superior ao custo médio de um quarto na faixa imediatamente abaixo de preço, segundo a CoStar. Essa distância vem crescendo desde 2008, quando a diferença era de US$ 60, mas se ampliou de forma acentuada nos últimos anos, chegando ao maior patamar da série.

As diárias mais altas fizeram pouco para frear a demanda por resorts à beira-mar, pousadas exclusivas em montanhas e grandes hotéis no centro das cidades. As reservas em hotéis de luxo cresceram 2,5% neste ano até setembro, de acordo com a CoStar. Já a demanda por hotéis de categorias mais simples e intermediárias ficou ligeiramente abaixo do observado no ano passado no mesmo período.

Morador de Nova Orleans, Gene Dry fez quatro viagens neste ano, incluindo uma férias de 10 dias na região de Puglia, no sul da Itália, com a esposa, para comemorar o 30º aniversário de casamento no mês passado.

“Algumas pessoas têm ranchos de pesca, grandes barcos”, disse Dry, dono de uma empresa de comunicações em nuvem. “A gente gosta é de viajar.”

A demanda aparentemente inabalável por viagens de luxo está levando redes de alto padrão como a Montage International a ampliar seus negócios. A companhia, que administra 15 hotéis sob as marcas Montage e Pendry, planeja dobrar de tamanho nos próximos três a cinco anos, disse o presidente-executivo, Alan Fuerstman.

Boa parte da expansão da Montage ocorrerá no exterior, mas a empresa espera que a maioria de seus hóspedes continue sendo de americanos. A receita neste ano está 8% acima da do ano passado, e grupos estão reservando viagens para 2026 em um ritmo mais forte do que em anos anteriores, afirmou Fuerstman.

Quanto mais se sobe na escada do luxo, maiores são os aumentos de preço. A diária média dos 10 hotéis mais caros nos grandes mercados globais costuma ser mais que o dobro da de um hotel típico de luxo, disse Freitag. Ele chama esse grupo de ultraluxo.

Em Paris, onde um quarto de luxo custa quase US$ 1.000 por noite, o preço médio nos hotéis mais caros chega a US$ 2.600. Em Nova York, hotéis de ultraluxo cobram US$ 1.560 a noite, ante uma diária média de US$ 472 nos hotéis de luxo em geral, segundo a CoStar.

“Graças a Deus pelo luxo e pelo ultraluxo”, disse Albert Herrera, vice-presidente executivo da empresa de serviços de viagem Internova Travel Group. “É isso que mantém o nosso negócio prosperando.”

Depois de acumular coleções de carros e relógios de grife, os americanos ricos hoje gastam cada vez mais com experiências, incluindo viagens. Viagens multigeracionais são mais populares do que no passado, com avós pagando por acomodações grandes o suficiente para receber filhos e netos.

“Eles não querem a suíte de dois quartos”, disse Herrera. “Eles querem a vila. Eles querem o iate.”
Políticas comerciais, incertezas na economia global e o aumento do custo de vida começaram a pressionar as tarifas de alguns hotéis de luxo, incluindo a rede Corinthia Hotels, que é dona de uma dúzia de propriedades e administra outras cinco. A rentabilidade, por sua vez, está estável em relação ao ano anterior no portfólio como um todo, disse o CEO Simon Casson.

Mas os EUA fogem a essa tendência. O Surrey, hotel da Corinthia que reabriu há um ano no Upper East Side de Manhattan depois de uma ampla reforma, está cobrando atualmente mais de US$ 2.000 por noite, com estadia mínima de duas noites, para fins de semana em dezembro.

O hotel oferece serviço de mordomo personalizado, e alguns de seus 100 quartos têm banheiras fundas de imersão. O restaurante do hotel, o italiano de alto padrão Casa Tua, inclui um clube privado para membros.

Os funcionários do Corinthia são treinados para abrir a porta do carro em até 15 segundos depois que ele chega à calçada, atender o telefone da recepção em no máximo três toques e chamar os hóspedes pelo nome. “Funcionários que se antecipam, que fazem de tudo para atender a uma necessidade”, disse Casson. “Isso se traduz diretamente nas tarifas.”

Escreva para Kate King em kate.king@wsj.com

Traduzido do inglês por InvestNews