A JBS superou escândalos para finalmente conquistar sua listagem na Bolsa de Nova York. Mas será que Wesley Batista Filho está pronto para liderar a terceira geração da família?
O herdeiro de 33 anos de um império da carne consegue avaliar um frigorífico só pelo estacionamento.
A grama está aparada? Há flores plantadas ao redor da unidade? Os trabalhadores que entram estão sorrindo? Esses são sinais reveladores de como uma planta frigorífica está operando, segundo Wesley Batista Filho, CEO das operações da JBS nos Estados Unidos, a maior processadora de carne do mundo.
“Isso mostra que as pessoas cuidam da planta”, disse ele em uma entrevista em Nova York na semana passada. “É algo importante.”
Batista Filho — membro da família fundadora da JBS — desenvolveu esse olhar ainda adolescente, trabalhando no turno da noite de uma unidade da JBS em Greeley, Colorado, a 18 km da sede americana da empresa. Já no início dos 20 anos, comandava frigoríficos na América do Sul.
Agora, ele supervisiona operações que fornecem cerca de 1 a cada 5 quilos de carne bovina e suína consumidas pelos americanos. Neste mês, a JBS listou diretamente suas ações para negociação nos EUA, dispensando a tradicional rodada de apresentação a investidores (roadshow).
O brasileiro cresceu cercado pelo negócio fundado por seu avô e é apontado como o provável sucessor na liderança global da JBS. No momento, está à frente do principal mercado da companhia justamente quando ela estreia na bolsa de Nova York — um feito ambicionado há anos e parte do esforço da empresa, controlada pela família, de virar a página após os escândalos de corrupção que afastaram temporariamente seu pai bilionário e o tio da diretoria executiva.
Os negócios da JBS estão em alta. A obsessão dos americanos por proteína ajudou a empresa, com sede em São Paulo, a registrar quase US$ 2 bilhões em lucro em 2024, revertendo o prejuízo do ano anterior. Agora avaliada em US$ 15 bilhões, a JBS emprega 280 mil pessoas no mundo todo e, nos EUA, é a maior produtora de carne bovina e a segunda maior processadora de frango e carne suína.
A estreia na NYSE ocorre após uma década de adiamentos, incluindo resistência de políticos e de grupos ambientalistas que há muito acusam a JBS de envolvimento com desmatamento. Agora listada, a empresa espera atrair mais investidores e reduzir seu custo de capital — além de marcar um momento simbólico.
Na quarta-feira, Batista Filho cruzou o pregão da NYSE ao lado do avô de 91 anos, José Batista Sobrinho, patriarca da família cujas iniciais nomeiam a companhia. Eles estavam acompanhados do pai e do tio de Wesley Filho, tocando o sino diante de uma plateia de executivos da JBS e familiares, incluindo sua esposa e o filho pequeno do casal.
“É um momento especial, com certeza”, disse Batista Filho.
Nascido no Brasil, Batista Filho — “Filho” é o equivalente a “Júnior” — é filho de Wesley Batista, ex-CEO da JBS e atual membro do conselho da empresa.
Seu avô trabalhava como açougueiro no interior do Brasil quando fundou a empresa, em 1953, abatendo alguns poucos bois por dia para alimentar operários de obras na região.
Depois que os filhos Wesley e Joesley assumiram o negócio, transformaram a JBS em uma potência sul-americana da carne e usaram empréstimos subsidiados pelo governo para financiar uma onda de aquisições internacionais — incluindo a Swift Beef, a Pilgrim’s Pride, as operações de carne suína da Cargill e o negócio de carne bovina da Smithfield Foods. Os irmãos controlam hoje cerca de 85% do poder de voto da companhia.
Enquanto o pai expandia os negócios, Batista Filho quis estudar fora. Aos 15 anos, foi para um internato nos Alpes suíços, onde conheceu sua atual esposa e aprendeu vários idiomas.
Matriculou-se na Colorado State University e, aos 19, começou a estagiar na linha de produção noturna da JBS. Depois de dormir durante as aulas, largou a universidade para se dedicar ao aprendizado prático do negócio da família, segundo contou em uma entrevista à escola suíça em 2021.
Logo no início da carreira, seu pai lhe deu um conselho: seja o primeiro a chegar e o último a sair. “Você terá mais tempo para aprender e conquistará o respeito dos colegas”, teria dito o pai, segundo o relato na entrevista escolar.
Depois de deixar o Colorado, Batista Filho gerenciou uma pequena planta da JBS no Uruguai, que abatia cerca de 600 cabeças de gado por dia. Em 2012, aos 21 anos, passou a liderar as operações de carne bovina da empresa no Uruguai e no Paraguai. No ano seguinte, assumiu o comando das operações no Canadá. Em 2014, já dirigia os negócios de carne bovina da JBS nos EUA.
Ele foi promovido à liderança global da empresa em 2017, após um escândalo de corrupção no Brasil. Seu pai e seu tio admitiram ter subornado políticos e passaram alguns meses presos. Cinco anos atrás, os dois chegaram a um acordo com as autoridades dos EUA para encerrar as acusações de corrupção.
Batista Filho não foi implicado nas investigações. “É preciso olhar para frente”, disse o executivo, que adota um perfil discreto. “É isso que estamos fazendo como time executivo… como família… e fazendo o negócio crescer.”
O diretor financeiro da JBS, Guilherme Cavalcanti, lembra do primeiro encontro com Batista Filho, há oito anos: “Pensei: ‘Uau, esse cara é muito jovem’”, contou. “Mas quando ele começou a trabalhar na JBS, fiquei realmente impressionado com a experiência. Ele teria sucesso em qualquer lugar.”
Olhar de gestor na JBS
Madrugador e fã de culinária, Batista Filho é um gestor enxuto. Quando se sentava entre os funcionários da unidade de Greeley, mantinha uma mesa quase vazia. Às vezes, o único item visível era sua cuia de mate — a bebida cafeinada sul-americana semelhante ao chá, que prefere ao café. Ao lado, havia um galão de água com o rótulo “JBS Paraguai” e um copo feito com chifre de boi.
Ele comanda uma divisão que responde por mais da metade da receita anual da JBS, de cerca de US$ 80 bilhões. E não é um momento fácil para a indústria da carne: o rebanho bovino dos EUA está no menor nível desde 1951, pressionando os preços e elevando os custos para empresas como a JBS. Além disso, políticas migratórias da era Trump devem reduzir a oferta de mão de obra para os frigoríficos.
Para enfrentar a escassez de gado, Batista Filho lançou iniciativas como o “programa white bone” — que orienta os trabalhadores a limpar completamente os ossos nas linhas de desossa.
No mês passado, ele se reuniu com autoridades locais e produtores de carne suína em Perry, Iowa, onde a empresa está construindo uma fábrica de salsichas de US$ 135 milhões. A JBS também planeja expandir para o setor de ovos e está investindo centenas de milhões de dólares para ampliar suas principais plantas de carne bovina nos EUA.
Durante um evento com investidores após o toque do sino na NYSE, Batista Filho alternava entre português e inglês nas conversas com convidados. Investidores e analistas presentes falavam como se já fosse certo que ele assumirá em breve a presidência global da JBS.
“Não sei se há um legado meu”, disse ele. “É só fazer o que estamos fazendo, nos divertindo, fazendo o negócio crescer. Quando você faz algo que gosta, quando se diverte, não está trabalhando.”
Escreva para Patrick Thomas em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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