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Apple, Hyundai e Honda apostaram na China. Agora estão voltando atrás

Crescimento mais lento e dificuldade de fazer negócios têm feito empresas ocidentais investirem menos no país

Por Liza Lin The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Muitas empresas multinacionais estão deixando a China para trás na lista de destinos de investimentos. Entre os motivos estão o crescimento mais lento e a queda nos lucros.

A tendência sombria de investimento foi o foco de dois relatórios esta semana, um feito pela Câmara de Comércio da União Europeia na China e outro da Câmara de Comércio Americana em Xangai.  

“O risco de fazer negócios na China aumentou nos últimos anos e, ao mesmo tempo, o mercado está desacelerando”, disse Eric Zheng, presidente da Câmara Americana de Comércio, em Xangai. Uma pesquisa feita pela entidade mostrou que a porcentagem de entrevistados que classificam a China como o principal destino de investimento de sua sede caiu para o nível mais baixo desde que a pesquisa anual começou, há 25 anos. 

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A China percebeu. Em agosto, o governo da cidade de Xangai disse que um de seus desafios econômicos mais prementes era o esvaziamento da “cadeia da fruta” — uma referência à decisão da Apple de diversificar a produção de alguns dos seus eletrônicos para países como Índia e Vietnã. 

O que impulsiona essas decisões são uma recessão econômica prolongada, a intensificação da concorrência local, as tensões geopolíticas e também o surgimento de outras opções para fabricação na Ásia. As câmaras de negócios dizem que as margens de lucro na China já não sao melhores que as de outros mercados.

No mês passado, o Walmart vendeu por US$ 3,6 bilhões uma participação acionária que ele já tinha havia oito anos em uma das principais plataformas de comércio elétrico da China. A IBM fechou institutos de pesquisa no país, afetando mais de mil empregos.

As montadoras estão reduzindo a produção porque as empresas chinesas agora são dona de quase três quintos do mercado de automóveis de passageiros. A maioria dos carros novos vendidos ultimamente na China são de veículos elétricos ou híbridos plug-in, em vez dos puramente movidos a gasolina nos quais as montadoras não-chinesas costumam ter uma vantagem.

A japonesa Honda suspendeu recentemente a produção em três fábricas na China e reduziu o pessoal por meio de aposentadorias voluntárias. As vendas unitárias da Honda no país caíram 32%, para 209 mil no trimestre de abril a junho, em comparação com o mesmo período do ano anterior. 

No ano passado, o investimento estrangeiro na China caiu 8% em relação ao ano anterior – considerando os valores em yuan. De acordo com dados das Nações Unidas, a Indonésia, com uma população muito menor que a chinesa, está atraindo mais investimentos com instalações sendo construídas do zero.

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A maioria das empresas certamente não está abandonando a China. A maioria está tentando manter as operações existentes, com algumas dizendo que acompanhar a tecnologia chinesa as ajuda a aumentar sua vantagem competitiva. O Walmart, por exemplo, está expandindo o número de lojas Sam’s Club no país.

Em uma pesquisa anual realizada pela Câmara de Comércio da União Europeia na China no último mês de maio mostrou que 15% dos entrevistados disseram que a China era seu principal destino de investimento. Durante anos, esse número ficou na faixa dos 20%.

Em outra pesquisa, cerca de 20% dos 306 entrevistados pela Câmara Americana em Xangai afirmaram que cortariam investimentos na China neste ano, citando preocupações com o ritmo de crescimento do país e ainda o redirecionamento de investimentos para lugares como Índia e Vietnã.

Em meados de agosto, o Ministério do Comércio da China convocou uma reunião com empresas estrangeiras que realizam grandes investimentos no país e prometeu resolver em tempo hábil quaisquer obstáculos burocráticos e de financiamento que surgissem. Os participantes incluíram representantes da fabricante dinamarquesa de brinquedos Lego e da empresa farmacêutica Moderna.

A agência de planejamento econômico de Xangai disse no mês passado que o declínio no investimento estrangeiro na cidade se deveu em parte a empresas multinacionais, como fornecedores da Apple, que transferiram a capacidade de produção, de acordo com a agência de notícias The Paper, ligada ao governo local. Muitos fornecedores da Apple, como a montadora de eletrônicos Quanta, têm fábricas na cidade.  

A ênfase da Apple na Índia e no Vietnã cresceu após tensões geopolíticas e bloqueios na China durante a pandemia.

Uma ou duas décadas atrás, as empresas multinacionais migravam para a China, atraídas por sua força de trabalho barata e abundante e pelo potencial poder de compra de seus 1,4 bilhão de habitantes.  

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Naquela época, as empresas estrangeiras vendiam para um mercado ávido por seus produtos e podiam cobrar preços altos. Desde então, os rivais chineses melhoraram a tecnologia e as ofertas de produtos. A concorrência local está se intensificando em automóveis, aço, roupas esportivas e outros setores, muitas vezes acompanhada por acirradas guerras de preços.

Entre as mais atingidas estão as montadoras estrangeiras. A sul-coreana Hyundai vendeu uma fábrica em 2021 e fechou outra no ano seguinte. Em janeiro deste ano, vendeu sua terceira fábrica chinesa para uma empresa local por mais de US$ 227 milhões. Enquanto isso, vai se expandindo na Índia. 

Mesmo assim, para empresas com o produto certo, a China ainda é grande demais para ser ignorada. Em termos de carros, é o maior mercado do mundo em vendas unitárias. 

Se a demanda doméstica aumentar, a China voltará a se tornar uma prioridade de investimento para as multinacionais novamente, disse Allan Gabor, presidente da Câmara Americana em Xangai.

“É sobre a economia. O lado da demanda é o principal fator. As empresas estão na China, pela China”, disse ele.

Escreva para Yoko Kubota em [email protected] e Liza Lin em [email protected]

traduzido do inglês por investnews