AT&T saiu do mercado de mídia — e investidores comemoram volta a negócios entediantes
O CEO da AT&T, John Stankey, trouxe empresa de volta aos serviços de wireless e banda larga após apostas caras
Foi um casamento estranho e um divórcio caro, mas a AT&T encontrou um novo amor depois de seu caro romance com Hollywood.
As ações da gigante das telecomunicações se recuperaram — considerando a valorização de 35% desde o começo do ano até agora — desde que o CEO John Stankey reverteu o curso desmembrando sua unidade da Warner Bros. e se livrando da empresa de satélites DirecTV. Na terça-feira (3), Stankey e sua equipe delinearam novas metas financeiras de longo prazo baseadas em seus serviços wireless e de banda larga, ao mesmo tempo em que trabalham para encerrar os de telefonia fixa.
A empresa de Dallas, embora ainda seja a terceira maior na busca por clientes wireless dos EUA, ocupa uma posição de comando na acirrada batalha pelos assinantes de banda larga de fibra óptica. Seu balanço, antes tomado por dívidas, está investindo dinheiro suficiente para viabilizar as opções de recompras de ações e aquisições.
A empresa disse na terça-feira (3) que espera devolver mais de US$ 40 bilhões aos acionistas nos próximos três anos por meio de recompras de ações e pagamentos de dividendos. A empresa reservou US$ 10 bilhões adicionais nesse período para ter flexibilidade para fazer aquisições, pagar dívidas ou gastar em outras iniciativas.
Tais planos estavam fora de questão em 2022, quando Stankey cortou os dividendos anuais e vendeu a unidade da WarnerMedia para a Discovery Communications. A AT&T passou os dois anos seguintes eliminando empregos e registrando grandes prejuízos contábeis.
Essas medidas acabaram acalmando os investidores preocupados. Desde a cisão com a Warner em abril de 2022, a AT&T garantiu um retorno total aos acionistas de aproximadamente 50%, que inclui ganhos em ações e pagamentos de dividendos, superando o retorno total de 40% do índice S&P 500. As ações da Warner Bros. Discovery caíram no mesmo período, prejudicadas pela concorrência por clientes de streaming de vídeo.
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“A AT&T se viu em uma posição precária quando adquiriu a Warner”, com demandas insustentáveis de reformulações de rede, investimentos em mídia de streaming e dividendos altos demais para suportar, disse Allyn Arden, analista de crédito da S&P Global Ratings. Desde então, “voltaram ao que fazem de melhor, que é o serviço de telecomunicações”.
O que resta é uma AT&T mais simples, com dividendos mais enxutos, mas retornos mais previsíveis. O valor de mercado da empresa é agora de cerca de US$ 164 bilhões, abaixo do pico de US$ 289 bilhões em 2019.
Os anos dolorosos da AT&T não ficaram para trás. Sua unidade de telefonia celular continua sendo a terceira maior provedora, atrás das rivais Verizon Communications e T-Mobile, em um mercado wireless com pouco espaço para um crescimento explosivo. Falhas recentes de rede e violações de dados afetaram sua reputação. Espera-se que mais demissões diminuam ainda mais suas fileiras nos próximos anos.
Essas ameaças não estão dissuadindo os investidores da AT&T. As empresas de banda larga em geral estão desfrutando de uma recuperação em Wall Street, com os investidores reavaliando o setor. E a queda das taxas de juros está levando os investidores famintos por rendimento a ações de telecomunicações tradicionalmente confiáveis, apoiadas por dezenas de milhões de contas mensais de celular.
Stankey assumiu a gigante das telecomunicações em 2020. O novo CEO trabalhou para desfazer muitas das grandes aquisições, incluindo a compra da DirecTV por US$ 49 bilhões. A empresa acabou reduzindo o valor contábil em mais de US$ 20 bilhões de seus negócios de TV paga, que gradualmente vendeu para outros proprietários.
O maior feito de todos: desfazer a aquisição da Time Warner pela AT&T, que havia sido fechada em 2018 após uma difícil ação antitruste. Isso deixou os investidores da AT&T com cerca de metade dos pagamentos anuais de dividendos que haviam colhido nos anos anteriores. Em troca, os acionistas mantiveram participações na AT&T e na nova Warner Bros. Discovery.
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A dívida da AT&T ainda está acima daquela da maioria das corporações. E as vendas de subsidiárias transferiram algumas de suas obrigações para investidores de outras empresas, incluindo a Warner Bros. Discovery.
Os executivos da AT&T agora destacam sua posição de liderança no negócio de fibra óptica nos EUA como o trampolim para a recuperação da empresa. Investimentos estão sendo feitos em linhas de fibra de alta velocidade como uma alternativa à tecnologia de internet a cabo, mais antiga, levando rivais como Verizon e Bell Canada a fazerem aquisições multibilionárias.
A operadora preferiu investir em empreendimentos como o Gigapower, uma parceria com a gigante de investimentos BlackRock, que instala linhas em novos bairros. A AT&T disse na terça-feira (3) que a empresa e seus parceiros ultrapassarão mais de 50 milhões de residências e empresas com linhas de fibra até 2029 — bem acima dos cerca de 28 milhões neste ano — uma meta que pode aumentar a diferença para a vice-campeã Verizon.
O alto custo de construção de novas linhas de fibra pode levar os executivos a buscar economia de custos em outras áreas, inclusive na mão de obra. Os analistas esperam que a empresa reduza significativamente o tamanho de sua força de trabalho de 140 mil trabalhadores nos próximos anos, embora os executivos não tenham detalhado quantos empregos serão eliminados.
A questão que permanece é se esses cortes prejudicarão a confiabilidade de sua rede. Hacks recentes e falhas em todo o setor de telecomunicações chamaram a atenção para a vulnerabilidade da infraestrutura de comunicações do país. A reputação da AT&T sofreu em fevereiro, depois que a manutenção da rede derrubou o serviço wireless de milhões de clientes, levando Stankey a se desculpar.
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traduzido do inglês por investnews