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Como CEOs têm tempo de treinar para o Ironman com as mesmas 24 horas que nós?

Líderes com hobbies extremos parecem ter mais horas em um dia do que simples mortais

Por Callum Borchers The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Muitas pessoas mal conseguem dar conta do trabalho, quanto mais de hobbies. No entanto, paralelamente, alguns altos executivos correm maratonas, têm vinícolas ou mantêm estúdios de gravação de música. Como conseguem ter responsabilidades maiores e se divertir mais do que nós?

Pode parecer que os empreendedores mais bem sucedidos encontram horas extras no dia. Eles dizem que descobriram como administrar suas 24 horas melhor do que o resto de nós.

E também admitem que aproveitam ao máximo os privilégios de serem chefes — o poder de delegar e os meios para fazer coisas como voar para a Dinamarca para um longo fim de semana de windsurf.

Dan Streetman treina até 20 horas por semana para o Ironman, além de seu trabalho como CEO da empresa de segurança cibernética Tanium. É um grande comprometimento para qualquer pessoa, quanto mais para um líder corporativo que viaja para se encontrar com clientes todas as semanas. Ele consegue dormir menos de sete horas por noite e acordar por volta das 5 da manhã, planejando suas sessões de exercícios com meses de antecedência e ajustando sua mente do modo de trabalho para o modo esportivo quase tão rápido quanto faz a transição da natação para o ciclismo durante uma competição. 

“Costumo trabalhar até o dia da competição”, diz Streetman, de 56 anos. “Lembro-me de estar em uma chamada de diretoria em uma noite de sexta-feira, e o Ironman era no sábado de manhã. Faz parte.”

Antes das viagens de negócios, ele descobre rotas de corrida em cidades desconhecidas e explora piscinas próximas, geralmente as da ACM. Usa bicicletas ergométricas em academias de hotel e, se não estiverem em boas condições, toma nota e faz a reserva em outro lugar na próxima vez que estiver na cidade.

Líderes que vivem para os negócios podem parecer alheios aos anseios dos funcionários pelo equilíbrio entre vida profissional e pessoal, que esperam que os chefes façam ajustes. O típico CEO de hoje tem uma vida plena fora do trabalho, ou pelo menos aparenta ter. 

Suas táticas incluem acordar cedo, realizar várias tarefas ao mesmo tempo e incluir a diversão na agenda como se fosse qualquer outro compromisso. Quando você é um alto executivo, os hobbies tendem a desaparecer, a menos que estejam agendados.

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Ben Betts se autodenomina um “cara de planilhas”, o que é um pouco como dizer que Michelangelo era um cara da pintura. Com o Excel como tela, Betts cria listas para quase tudo o que faz, desde preparar a ceia de Natal até construir um abrigo para patinhos recém-nascidos. 

Betts, de 41 anos, é CEO da Learning Pool, fabricante de software de desenvolvimento profissional. A casa dos patos faz parte de sua ambiciosa tentativa de restaurar uma casa de fazenda do século XVIII na Inglaterra. Ele a está reformando há cerca de cinco anos e pretende terminar ainda em 2024.

Em um sábado recente, a planilha de Betts pedia o lixamento de vigas suspensas até as 17h00 para que pudesse repintá-las. Caso contrário, a tarefa teria que esperar até o fim de semana seguinte, atrapalhando todo o planejamento. Sua visão da casa como um recanto aconchegante — concluído a tempo para as férias — só vai se concretizar se ele seguir um plano preciso.

“Às vezes, paro na porta e minha esposa provavelmente se pergunta o que estou olhando”, diz ele. “Estou nos imaginando em um sofá com nossos dois filhos e o cachorro, assistindo a um filme em frente à lareira que instalei.”

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De volta ao som

John Sicard, presidente e CEO da Kinaxis, voltou a tocar bateria muitos anos depois de deixar de lado seu sonho de se tornar um músico profissional. Ele pratica quase todos os dias, mas suas sessões às vezes duram apenas 20 minutos. Ensaia com os colegas de banda duas ou três vezes por mês. Isso é o suficiente para preparar Sicard, de 61 anos, para tocar covers do Foo Fighters e do Led Zeppelin em shows ocasionais de caridade.

Ele também montou um estúdio em sua casa, onde grava artistas promissores. E encontra tempo aderindo a esta filosofia de gestão: “Os CEOs mais bem-sucedidos têm a menor quantidade de trabalho.”

Para Sicard, isso significa deixar seus assessores assumirem o comando — e a responsabilidade — de suas divisões. Muitos líderes corporativos trabalham mais do que precisam porque microgerenciam ou contratam mal e acabam tendo de fazer o que não foi feito, explica ele.

Thomas Hansen, presidente da fabricante de software Amplitude, está de volta ao windsurf, esporte no qual competia na adolescência. Ele mora perto do mar na Califórnia, mas entra na água apenas uma vez por mês, quando as ondas estão perfeitas. Os hobbies não precisam ser atividades diárias para serem gratificantes, diz ele, especialmente se exigirem regimes de treinamento.

Para ficar em forma para o windsurf, ele se levanta às 04h30 sete dias por semana e faz uma hora de exercício. Hansen, de 54 anos, também reserva seus sábados e domingos como as joias da coroa da Dinamarca, seu país natal, limitando-se a dois fins de semana de trabalho por ano. As coisas que parecem urgentes quase sempre podem esperar até segunda-feira, afirma ele.

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“Me sinto durona”

Quando Christine Yen não está dando as cartas no trabalho, está em uma pista de corrida a 130 quilômetros por hora em sua motocicleta Honda CB300F. A cofundadora e CEO da Honeycomb, que ajuda engenheiros a diagnosticar problemas de software, começou a correr há alguns anos.

Antes da pandemia, sua moto só era usada para se deslocar em San Francisco — e causar uma boa impressão. Ela adorava ir às reuniões de investidores carregando seu capacete amarelo e trajando um macacão de couro. 

“Veste muito bem e me faz sentir durona”, diz Yen, de 36 anos.

O importante para passar dias inteiros na pista é o planejamento, além de estar disposta a trabalhar em horários estranhos, descobriu Yen. Sua pista favorita divulga cronogramas de corrida em lotes de dez semanas. Assim que uma lista sai, ela circula as datas em que espera que sua carga de trabalho seja mais leve, com o objetivo de participar de cerca de metade dos eventos.

“Também sou conhecida por levar meu laptop para o hotel e trabalhar um pouco à noite”, diz ela. “Parece maçante dizer que hobbies podem ser agendados, mas é assim que planejo meu tempo.”

Escreva para Callum Borchers em [email protected]

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