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Como os EUA criaram, sem querer, uma economia paralela liderada pela China

As sanções ocidentais tinham como objetivo subjugar os inimigos dos EUA, mas em vez disso criaram um bloco econômico com Rússia, Irã, Venezuela…

Por IAN TALLEY The wall street Journal
Publicado em
5 min
traduzido do inglês por investnews

As sanções ocidentais e os controles de exportação tinham como objetivo subjugar os inimigos dos Estados Unidos, aproveitando-se do poder do dólar para submeter governos fortes sem a necessidade do uso de força militar. Elas inadvertidamente geraram uma economia paralela global, unindo os principais inimigos da democracia, com o principal adversário de Washington, a China, no centro.

Restrições financeiras e comerciais sem precedentes à Rússia, Irã, Venezuela, Coreia do Norte, China e outros regimes autoritários prejudicaram essas economias, restringindo o acesso a bens e mercados ocidentais. Mas Pequim tem frustrado cada vez mais esses esforços liderados pelos EUA, reforçando laços comerciais, de acordo com autoridades ocidentais e dados alfandegários. O bloco de nações sancionadas agora tem a economia de escala para protegê-las da guerra financeira de Washington, negociando de tudo, de drones e mísseis até ouro e petróleo. 

“A China é o concorrente estratégico disposto e capaz de remodelar a ordem global atual”, disse Dana Stroul, ex-oficial sênior de defesa dos EUA e agora membro sênior do Washington Institute for Near East Policy (Intituto Washington para Política do Oriente Próximo).

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Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa em Washington, defendeu as políticas de Pequim, dizendo que o país não estava fornecendo armas letais a ninguém envolvido no conflito da Ucrânia.

“A China realiza trocas econômicas e comerciais normais com países relevantes com base na igualdade e no benefício mútuo”, afirmou ele. “O comércio relevante sob o direito internacional é legal e legítimo, portanto, deve ser respeitado e protegido.”

Os governos da Rússia, Irã, Venezuela e Coreia do Norte, contatados por meio de seus escritórios diplomáticos nos EUA, não responderam a pedidos de comentários. 

As necessidades comerciais do bloco estão alinhadas. De um lado da equação, a China obtém petróleo de três potências da Opep — Rússia, Irã e Venezuela — a preços bem mais baixos. Isso é um ganho para o maior importador de petróleo do mundo, que comprou mais de 11 milhões de barris diários no ano passado para manter sua economia funcionando. Esses países, por sua vez, têm receita que podem usar para comprar da China produtos sancionados. 

“A receita do petróleo da China está sustentando as economias iraniana e russa e está minando as sanções ocidentais”, disse Kimberly Donovan, do Atlantic Council. Donovan, que chama esse grupo de “eixo da evasão”, disse que o uso de moeda e sistemas de pagamento chineses para esse comércio restringe o acesso das autoridades ocidentais a dados financeiros e enfraquece sua capacidade de aplicar sanções.

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Dados alfandegários chineses e russos mostram que a China suplantou a perda de acesso ocidental da Rússia aos bens de uso duplo (usos civis e militares) de grande prioridade.

Uma empresa estatal chinesa de defesa, a Poly Technologies, por exemplo, enviou quase duas dúzias de remessas entre setembro e dezembro do ano passado para uma empresa russa estatal sancionada pelos EUA que fabrica helicópteros militares e civis, de acordo com uma revisão de dados alfandegários russos. 

Além disso, a Poly Technologies, que também é sancionada pelos EUA, foi responsável por um carregamento de 1.200 quilos de fuzis em 16 de fevereiro do ano passado para Izhevsky Arsenal, que se descreve como contratado do governo e um dos maiores atacadistas de armas da Rússia. 

Os registros alfandegários também mostram que as empresas chinesas foram responsáveis por todas as 60 remessas no ano passado para uma empresa russa que, segundo autoridades dos EUA, faz parte do canal de aquisição de drones militares do Irã para as forças de Moscou. As empresas não responderam a pedidos de comentários. 

A guerra da Rússia contra a Ucrânia também proporcionou a Teerã uma oportunidade econômica e estratégica. Vender frotas de drones militares a Moscou e estabelecer uma instalação de produção na Rússia garante renda ao Irã, reforça a percepção internacional do poder militar de Teerã e fornece dados valiosos em tempos de guerra, dizem ex-funcionários de segurança dos EUA. 

Para a Venezuela, o Irã também está fornecendo armas, assistência técnica para sua infraestrutura de energia e outros bens sancionados, de acordo com autoridades dos EUA e dados alfandegários. Em troca, Caracas forneceu ao Irã ouro de seus vastos depósitos do Orinoco, de acordo com autoridades ocidentais, uma commodity difícil de rastrear em todo o mundo e cuja fungibilidade permite que as nações sancionadas contornem o sistema bancário ocidental.

A capacidade — e a disposição — da China de manter a máquina de guerra da Rússia funcionando e ajudar Moscou a reconstruir sua capacidade industrial militar fomentou um comércio e finanças sem precedentes, dizem autoridades dos EUA.

 “Isso revelou um grau de confiança que poderia potencialmente abrir a porta para uma integração mais ampla de sua base industrial de defesa”, disse um alto funcionário de inteligência com conhecimento das relações comerciais dos dois países.

Escreva para Rosie Ettenheim em [email protected] e Ian Talley em [email protected]

traduzido do inglês por investnews