No país com a menor taxa de natalidade do mundo, carrinhos de passeio pet vendem mais do que carrinhos de bebê
Carrinhos de transporte para cães superam os carrinhos de bebê na Coreia do Sul, deixando autoridades enlouquecidas
Depois de ir empurrando um carrinho até um parque perto de sua casa em um subúrbio de Seul, Kang Seung-min sentou-se em um banco. Uma mulher idosa se aproximou e puxou papo com ela sobre a maternidade.
“Eu nem sou casada ainda”, respondeu Kang, de 24 anos.
Foi aí que a senhora, assustada, olhou para dentro do carrinho e examinou o pequeno passageiro: um poodle marrom chamado Coco. Ela se afastou, pedindo que Kang começasse uma família. “Não quero me casar”, diz Kang. “Prefiro gastar dinheiro com meu cachorro.”
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Há agora uma conversa global, inclusive nos EUA, sobre a falta de filhos e a relutância em tê-los. Mas a preocupação pode ser pior na Coreia do Sul, lar da menor taxa de natalidade do mundo desenvolvido, além de outra distinção que deixa muita gente de cabelo em pé: as vendas vertiginosas de carrinhos de cachorro, que no ano passado ultrapassaram as de carrinhos de bebê pela primeira vez, de acordo com a Gmarket, uma das maiores varejistas online da Coreia do Sul.
A tendência também se manteve nos primeiros seis meses deste ano.
Eles são tão onipresentes que uma TV local emissora exibiu uma reportagem com o tema: “‘Só eu me irrito com isso?’. Um debate acalorado sobre os carrinhos de cachorro”.
Em muitas economias avançadas, incluindo a americana, os adultos tratam seus animais de estimação como crianças mimadas, com festas de aniversário chiques, mansões caninas, viagens de avião particular e passeios em carrinhos.
Mas os pais de pets estão enfurecendo autoridades sul-coreanas.
‘Emergência demográfica nacional‘
O país tem uma taxa de fertilidade nacional de 0,72 — um terço do nível necessário para manter a população estável. No ano passado, em uma mesa redonda com jovens, Kim Moon-soo, agora ministro do Trabalho do país, repreendeu os jovens participantes: “O que me preocupa é os jovens não se amando”, disse Kim. “Em vez disso, eles amam seus cães e os levam para cá e para lá, não se casam e não têm filhos.”
Membros de um partido minoritário de esquerda protestaram contra os comentários de Kim em uma recente coletiva de imprensa e disseram que ele deveria considerar condições de trabalho intensas e baixos salários antes de culpar os donos de animais pelas baixas taxas de natalidade.
Em uma pesquisa local recente, uma em cada duas mulheres sul-coreanas com idades entre 20 e 49 anos disse que não tinha intenção de ter filhos, vendo isso como não essencial e citando restrições financeiras. Enquanto os locais que aceitam animais de estimação proliferam em todo o país, restaurantes e cafés estabelecem “áreas proibidas para crianças”, culpando o mau comportamento dos pequenos.
A súplica do governo central para que as gerações mais jovens deem preferência às crianças e não aos pets tem um senão: o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol é casado e não tem filhos — e tem um zoológico de pelo menos dez cães e gatos.
“Desculpe, esta comida é só para o papai”, diz uma de suas postagens no Instagram, que mostra dois cães da raça bichon frisé olhando enquanto ele come um sanduíche.
Mesmo assim, em junho, Yoon declarou uma “emergência nacional demográfica” devido à baixa taxa de natalidade da Coreia do Sul. Ele pediu aos ministérios do governo que resolvam a situação para evitar uma “crise existencial”.
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Kim Bora, web designer freelancer de 32 anos, ainda não está pensando em ter filhos. Ela acha a Coreia do Sul hipercompetitiva e cara para criá-los. Ela prefere empurrar seu carrinho de cachorro, que também pode se transformar em uma cadeirinha, para seu bichon frisé, Salgu, palavra coreana para damasco. Salgu se deleita no carrinho com uma bolsa de água quente no inverno e uma de gelo no verão.
“Se eu tivesse um filho”, observa Kim, “não conseguiria cuidar de Salgu como faço agora”.
Enquanto o número de bebês está diminuindo, a população canina registrada na Coreia do Sul atingiu um recorde em uma contagem no ano passado, mais do que dobrando desde 2018.
Um boom de carrinho de cachorro
As vendas de carrinhos de passeio pet quadruplicaram desde 2019, de acordo com Yoon Hyun-shin, chefe da Pet Friends, a maior plataforma online de comércio de animais de estimação da Coreia do Sul. O Airbuggy é chamado de “Mercedes-Benz”. Seu modelo especial outono-inverno “Grey Tweed” custa cerca de US$ 1.100, e é feito com tecido escocês e pneus off-road.
A empresa começou como fabricante de carrinhos de bebê, mas a divisão do Airbuggy na Coreia se voltou exclusivamente para carrinhos de cachorro nos últimos anos. “Você pode colocar seu cachorro ou seu bebê em nossos carrinhos”, garantiu Park Soon-jae, chefe da Airbuggy Korea. “Mas o mercado aqui quer carrinhos para pets.”
Os carrinhos de transporte de cães (geralmente animais pequenos e saudáveis) fazem parte da paisagem do dia a dia em lojas de departamentos, restaurantes, calçadas e áreas de recreação sul-coreanas.
Eles lotam o Seoul Forest Park — que é maior do que o Central Park de Nova York — confundindo Lee Sung-kyu, de 62 anos, gerente de instalações do parque. “Esses carrinhos deveriam estar carregando bebês”, disse ele.
Então, Lee, a princípio, sentiu um certo desânimo quando sua própria filha adulta comprou um carrinho de cachorro por cerca de US$ 225.
“Mas o cachorro não gosta”, disse Lee, abrindo um sorriso. “Ele sempre pula fora.”
Escreva para Dasl Yoon em [email protected]
traduzido do inglês por investnews