Nos bastidores de Davos, alegações de um ambiente de trabalho tóxico
Apesar de seus objetivos elevados, o Fórum Econômico Mundial enfrentou inúmeras acusações de assédio sexual e discriminação contra mulheres e negros
Há alguns anos, Klaus Schwab, o octogenário fundador do Fórum Econômico Mundial, decidiu que a organização precisava de uma reforma jovem.
Então, selecionou um grupo de funcionários com mais de 50 anos e instruiu o chefe de recursos humanos a se livrar de todos eles, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Isso, explicou, reduziria a idade média da força de trabalho. O chefe de RH, um ex-executivo experiente do Banco Mundial chamado Paolo Gallo, se recusou a aceitar essa ordem, mencionando que deve haver uma explicação razoável para demitir alguém, como, por exemplo, o mau desempenho. Pouco tempo depois, Schwab demitiu Gallo.
Não foi o único exemplo do envolvimento de Schwab em comportamentos que violam as políticas padrão do local de trabalho dos principais parceiros corporativos do Fórum. Um episódio ainda citado por funcionários é a vez em que, em 2017, ele chamou uma jovem para liderar uma iniciativa para startups. Ela descobriu que estava grávida e, durante seus primeiros dias de trabalho, foi ao escritório de Schwab em Genebra para contar isso a ele.
Schwab não gostou do fato de ela não poder continuar trabalhando no mesmo ritmo, disseram pessoas familiarizadas com o incidente, e disse que a jovem não era adequada para seu novo papel de liderança. Ela foi afastada após o que o Fórum afirmou ser um breve período de teste.
O Fórum Econômico Mundial, a organização por trás da reunião anual de líderes mundiais e executivos-chefes em Davos, diz que sua missão é basicamente melhorar o estado do mundo.
Contudo, sob a supervisão de Schwab há décadas, o Fórum permitiu o crescimento de uma atmosfera hostil a mulheres e negros em seu próprio local de trabalho, de acordo com reclamações internas, trocas de e-mail e entrevistas com dezenas de funcionários atuais e antigos e outras pessoas familiarizadas com as práticas do Fórum.
Pelo menos seis funcionárias foram afastadas ou tiveram a carreira prejudicada quando engravidaram ou retornaram da licença maternidade. Outras seis contam terem sido sexualmente assediadas por gerentes seniores, alguns dos quais permanecem no Fórum. Duas disseram que isso ocorreu anos atrás por VIPs em reuniões do Fórum, inclusive em Davos, onde se esperava que as funcionárias estivessem à disposição dos delegados.
Em dois incidentes mais recentes, funcionários registraram reclamações internas depois que gerentes brancos do Fórum usaram uma palavra racialmente ofensiva perto de funcionários negros. E funcionários negros também fizeram queixas formais aos líderes do Fórum sobre serem preteridos para promoções ou deixados de fora de Davos.
O Fórum não disponibilizou Schwab para uma entrevista. O porta-voz, Yann Zopf, disse em um comunicado que este artigo “deturparia nossa organização, cultura e colegas, incluindo nosso fundador”.
Em respostas escritas ao WSJ, o Fórum disse que mantém a si mesmo e a seus funcionários em um alto nível de valores, com canais de denúncia confidenciais e um processo de investigação completo. Afirmou que Schwab nunca criou um limite de idade para os funcionários e que colaborou com o chefe de RH para possibilitar que as pessoas trabalhassem além da idade normal de aposentadoria.
O Fórum contestou a caracterização dos eventos feita pelo WSJ e disse que a organização tem tolerância zero para assédio ou discriminação, e que sempre respondeu adequadamente a quaisquer reclamações recebidas. Declarou que houve três alegações relatadas de discriminação racial desde 2020 e que cada uma delas foi minuciosamente investigada e as medidas apropriadas foram tomadas.
O Fórum acrescentou que muitos dos episódios descritos pelo WSJ, incluindo aqueles que alegam discriminação na gravidez, envolveram ex-funcionários que foram demitidos por motivos de desempenho ou como parte de reestruturações. Um porta-voz do Fórum disse que as mulheres não enfrentam uma taxa mais alta de rotatividade após a licença parental e que pelo menos 150 funcionárias voltaram da licença para o mesmo emprego ou para um emprego melhor durante um período de oito anos.
Em um memorando para a equipe em 21 de maio, Schwab anunciou que planejava se afastar do cargo de presidente executivo, o que indicou ser parte de uma transição planejada há muito tempo. Ele disse que permanecerá como presidente não executivo do conselho. O anúncio veio depois que Schwab enviou uma carta ao editor e ao editor-chefe do WSJ para compartilhar preocupações sobre a reportagem para este artigo.
A cultura do local de trabalho do Fórum é particularmente angustiante para muitos funcionários por causa das posições públicas da organização que promovem a igualdade de gênero. O Fórum publicou um “Relatório Global de Desigualdade de Gênero” anual que detalha o progresso de vários países em direção à paridade de gênero. Algumas das alegações de maus-tratos vieram de ex-membros da própria equipe responsável.
“Essa foi a coisa mais decepcionante, ver a distância entre ao que o Fórum aspira e o que acontece nos bastidores”, disse Cheryl Martin, ex-funcionária do Departamento de Energia americano que atuou como alta executiva do Fórum.
O WSJ entrevistou mais de 80 funcionários atuais e ex-funcionários desde a década de 1980 até hoje. Alguns deles se uniram pelo que descrevem como trauma compartilhado em um grupo do WhatsApp chamado “WEFugees”, que tem centenas de ex-funcionários.
“Foi angustiante testemunhar colegas visivelmente se fecharem em si mesmos com o assédio vindo de funcionários de alto nível, deixando de ser uma pessoa social e alegre e se autoisolando, evitando contato visual, compartilhando pesadelos que perduraram por anos”, disse Farid Ben Amor, ex-executivo de mídia dos EUA que trabalhou no Fórum por mais de um ano antes de renunciar em 2019. “É particularmente angustiante quando comparado com o ânimo e a seriedade com que muitos de nós entramos no Fórum.”
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O chefe
Schwab era um jovem acadêmico alemão quando criou a primeira conferência de Davos em 1971. Ele transformou o evento em uma cúpula global que reúne líderes mundiais, bilionários e celebridades. (A Dow Jones, editora do Wall Street Journal, é parceira do Fórum e tem uma presença de destaque no evento anual em Davos.)
Ao longo de cinco décadas como líder, Schwab também transformou o Fórum de uma pequena organização sem fins lucrativos em uma em expansão, gerando mais de US$ 400 milhões em receita anual, com cerca de mil funcionários em Genebra, Nova York e outras cidades. Muitos deles começaram como jovens profissionais, ansiosos para mudar o mundo. Alguns disseram que se beneficiaram de seu tempo no Fórum, conheceram colegas intelectuais e tiveram bons chefes.
Outros pintaram um quadro mais sombrio, relatando que as mulheres eram rotineiramente sexualizadas e objetificadas, um tom que afirmaram ter sido definido no topo da organização. Desde os primeiros anos do Fórum, os funcionários dizem que as mulheres recebiam avisos sobre Schwab: se você estiver sozinha com ele, ele talvez faça comentários desconfortáveis sobre sua aparência. Eles descrevem seu comportamento como mais estranho do que ameaçador, mas inadequado para um líder. Schwab é casado com Hilde, sua ex-assistente, desde 1971.
Barbara Erskine, ex-executiva de comunicações do Fórum, disse que Schwab aconselhou um membro do conselho a lhe dizer que ela precisava emagrecer. Schwab comentou com outros executivos que ela não tinha charme, contou Erskine, que passou uma década no Fórum e saiu em 2000.
Três mulheres que trabalharam em Genebra em estreita colaboração com Schwab — uma recepcionista, uma assistente pessoal e uma funcionária europeia — disseram ao WSJ que o chefe, ao longo de várias décadas, fez comentários sugestivos que as deixaram desconfortáveis. Vários outros colegas de trabalho afirmaram estar cientes do comportamento de Schwab em relação a essas mulheres.
A recepcionista que trabalhava para Schwab disse que ele a convidou para jantares e excursões particulares. Ela disse que teve de ser muito clara com ele mais de uma vez “qual o tipo de relacionamento que eu queria: profissional e nada sexual”.
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Myriam Boussina, que trabalhou no Fórum na década de 1990 como assistente pessoal de Schwab e em conexão com empresas parceiras, disse que Schwab elogiava suas roupas, corte de cabelo e corpo de uma forma inadequada para um local de trabalho, algo que a deixava desconfortável.
“Eu sabia que ele gostava de mim e sabia que ele me achava bonita”, disse Boussina. “Todo homem com muito poder, eles pensam que podem conseguir qualquer mulher e não se envergonham.”
Ela contou que, na época, não havia um departamento de recursos humanos efetivo com o qual pudesse falar. “Não dava para fazer uma queixa, era impossível.”
O Fórum disse que Schwab nunca assediou as funcionárias e as alegações das mulheres eram vagas e falsas. “O Sr. Schwab não se envolve e nunca se envolveu nos comportamentos vulgares que você está descrevendo”, disse um porta-voz do Fórum.
A funcionária europeia, que trabalhou em Genebra nos anos 2000, disse que Schwab nunca cruzou a linha do contato físico com ela, mas que seu padrão de comentários sugestivos e seu comportamento era “uma coisa horrível para uma mulher”. Uma vez, contou ela, ele pôs o pé em cima da mesa dela, sua virilha na frente de seu rosto, e disse que desejava que ela fosse do Havaí, porque gostaria de vê-la em uma fantasia havaiana.
“Preciso encontrar um homem para você e, se não fosse casado, me colocaria no topo dessa lista”, disse Schwab mais de uma vez, segundo ela.
Um ex-executivo sênior do Fórum confirmou que a funcionária contou a ele sobre alguns dos comentários inconvenientes de Schwab pouco tempo depois.
Ele e outro funcionário do Fórum disseram que testemunharam Schwab fazer a pose da virilha na frente da funcionária europeia e de outras mulheres.
O Fórum disse que Schwab nunca fez tal coisa. “Isso é nojento e incorreto”, disse o porta-voz do Fórum, acrescentando que Schwab não estava familiarizado com trajes havaianos.
“Branco no Azul”
O Fórum é uma organização internacional, mas também é um negócio de família. Os dois filhos de Schwab ocupam cargos seniores no Fórum, e sua esposa é co-presidente da Fundação Schwab para o Empreendedorismo Social, que é uma organização irmã do Fórum.
Os estatutos do Fórum dizem que Schwab, ou pelo menos um membro de sua família imediata, deve estar no Conselho de Administração. Os estatutos acrescentam: “O próprio fundador designa seu sucessor no Conselho”.
O Conselho de Administração é composto por cerca de 30 membros de vários setores, incluindo o violoncelista Yo-Yo Ma, a rainha Rania Al Abdullah da Jordânia e os chefes do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, de acordo com o site do Fórum.
Os veteranos do Fórum disseram que Schwab gostava de contratar pessoas atraentes, que normalmente trabalhavam no evento anual em Davos. Ex-executivos do Fórum disseram que a situação era propícia ao assédio sexual e que várias funcionárias reclamaram com eles sobre o comportamento inadequado dos sócios. Havia até um termo para o contato sexual entre VIPs e funcionárias do Fórum, disse um ex-funcionário: “branco no azul”, dada a cor dos crachás usados pelos dois setores.
O Fórum disse que tem uma política de tolerância zero em relação ao assédio em seus eventos e que os relatos de tais incidentes serão imediatamente investigados e as medidas apropriadas serão tomadas. Além disso, acrescentou que não estava familiarizado com o termo “branco no azul”.
As funcionárias disseram que seus colegas — especialmente os do sexo masculino — costumavam comentar sobre sua aparência. “Havia muita pressão para ser bonita e usar vestidos justos”, disse uma mulher que trabalhou lá na década de 2010. “Nunca na minha carreira senti que a aparência era um tópico tão importante quanto no Fórum.”
Ela contou que era comum que jovens funcionárias recebessem propostas dos participantes do evento do Fórum. Em uma cúpula do WEF Africa, ela se lembra de um CEO perguntando se ela queria ir ao quarto dele para tomar um uísque japonês. Ela respondeu que não.
Outra mulher, que ingressou no Fórum em 2006, contou que recebia mensagens de texto de colegas dizendo: “Você está bonita hoje” e a convidavam para um drinque após os eventos do dia. Ela disse que teve de escapar de um ministro de governo que ligou para ela com um suposto problema em seu quarto de hotel.
“Nossos colegas homens receberam diferentes tipos de mensagens, perguntando se sabiam se havia alguma garota para sair à noite”, revelou ela. “Nunca nos sentíamos realmente protegidas.”
Martin, a ex-funcionária do Departamento de Energia, disse que buscou mudanças internas para resolver a questão do assédio durante seu tempo no conselho administrativo do Fórum. Ela afirmou que pressionou para fortalecer o código de conduta em Davos e incentivar os funcionários a denunciar qualquer assédio no evento.
Contou que Schwab e outros membros do conselho viram sua atitude como uma reação exagerada. Em 2018, disse ela, Schwab alterou suas responsabilidades, privando-a de funcionários e recursos orçamentários. Ele nunca justificou essa atitude. Martin renunciou no final daquele ano. O Fórum disse que ela recebeu novas responsabilidades antes de decidir sair.
“Mudei o que pude e, quando percebi que realmente não seria capaz de fazer mais, pedi demissão”, afirmou ela. “Você faz o que é possível.”
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Toque indesejado
O Fórum manteve — e, em alguns casos, promoveu — cerca de uma dúzia de gerentes contra os quais houve reclamações específicas apresentadas ao longo dos anos, de acordo com entrevistas com reclamantes e documentos revisados pelo WSJ que foram enviados ao RH ou a outros líderes seniores. O Fórum disse que investiga todas as reclamações, demitiu aqueles que violaram suas políticas e concluiu que algumas não tinham mérito.
Em 2018, Justyna Swiatkowska fez uma reclamação aos departamentos jurídico e de RH de que o gerente George Karam a convidou para beber depois do trabalho e tentou toques indesejados e beijos forçados.
“Nos meses que se seguiram, este evento e a presença do Sr. Karam no Fórum me deixaram traumatizada e com medo de ir trabalhar”, escreveu ela em um e-mail ao chefe de RH e presidente do Fórum, ao qual o WSJ teve acesso. “Também fiquei sabendo que não estava sozinha e que havia outras mulheres com histórias semelhantes.”
Uma colega fez uma reclamação semelhante sobre Karam naquele ano. As duas acusadoras também descobriram outras, incluindo uma que lhes disse que havia feito uma reclamação sobre ele anos antes.
“O Fórum tinha conhecimento institucional sobre as atitudes predatórias do Sr. Karam desde o momento da primeira queixa, mas não fez nada por quase três anos para impedir o assédio e cuidar das vítimas”, escreveu Swiatkowska em outro e-mail para o chefe de RH.
O Fórum disse que iniciou uma investigação e demitiu Karam em uma semana. Ele rapidamente conseguiu um emprego em um parceiro do Fórum. O Fórum disse que deixou claro que ele não teria permissão para entrar em contato com seus ex-funcionários em sua nova função. Karam não respondeu aos pedidos de comentários.
Outros gerentes do Fórum contra os quais houve reclamações continuam em suas funções.
Durante uma campanha de vacinação contra a gripe em 2010, Malte Godbersen, o atual chefe de tecnologia e serviços digitais, fingiu ser médico para uma jovem funcionária, de acordo com uma queixa enviada a Schwab e outro líder da instituição.
Ele fez perguntas médicas e respondeu afirmativamente quando ela perguntou se deveria tirar a camisa, mas primeiro pediu que ela se movesse para posições diferentes, de acordo com a queixa e pessoas familiarizadas com o incidente. Nesse momento, um médico de verdade entrou e a jovem percebeu que havia sido enganada. Jeremy Jurgens, um dos principais assessores de Schwab que entrou em cena, riu, segundo uma das pessoas.
Godbersen posteriormente disse que era uma piada, de acordo com a denúncia. Logo depois, enviou flores para a mulher. Ela reclamou com os recursos humanos.
O RH a chamou para falar sobre o que havia acontecido. Quase imediatamente depois, ela começou a perceber que seu trabalho era constantemente criticado por seu chefe, alguém que não era Godbersen, apesar do feedback positivo das partes interessadas externas, de acordo com a denúncia.
Em poucos meses, o Fórum a demitiu. O RH lhe disse que a demissão não estava relacionada ao incidente e foi por causa de seu desempenho no trabalho.
O Fórum argumentou que o episódio foi um mal-entendido e que Godbersen emitiu um pedido de desculpas. Ele foi repreendido e teve seu bônus reduzido, mostram os documentos. Godbersen, que permanece no Fórum, não respondeu aos pedidos de comentários.
Novas mães
Depois de engravidar ou dar à luz, várias mulheres viram sua situação piorar no Fórum, de acordo com pessoas familiarizadas com essas experiências. Algumas receberam críticas severas sobre seu desempenho ou perderam sua posição no momento em que voltavam da licença maternidade. Às vezes, recebiam ofertas de empregos temporários ou papéis que percebiam como rebaixamentos.
Tais fatos, disseram elas, vão contra as posições públicas do Fórum: a organização publicou vários artigos e papers destacando a importância de apoiar as novas mães na força de trabalho.
Jurgens, o principal assessor da Schwab, fez comentários humilhantes a uma nova mãe logo depois que ela voltou ao trabalho da licença maternidade, dizendo repetidamente que não gostava dela, de acordo com pessoas familiarizadas com o incidente.
Quando ela reclamou ao RH em 2018 que Jurgens a estava intimidando, o funcionário a encaminhou a um terapeuta. O Fórum disse que não havia queixa sobre bullying que justificasse uma ação legal. Jurgens não respondeu aos pedidos de comentários.
Trabalhando com um novo chefe direto em 2021, a mulher teve um aborto espontâneo. Em uma anotação de diário enviada para o marido da cama do hospital, ela explicou como estava trabalhando até a exaustão e que não havia revelado que estava grávida: “Não é o tipo de lugar em que você pode declarar confidencialmente uma gravidez para seu gerente e esperar que a carga de trabalho possa ser aliviada dada a exaustão do primeiro trimestre.”
O Fórum disse que oferece flexibilidade quando solicitada, desde que seja possível que a equipe absorva o trabalho.
Topaz Smith, funcionária do escritório de Nova York, que ingressou no Fórum em 2022, deu à luz gêmeos no ano passado. Ela contou que, uma semana antes de retornar da licença maternidade em fevereiro, foi informada que seu cargo havia sido eliminado, embora ela tenha dito que não tinha nenhum problema relacionado ao desempenho. Ofereceram-lhe um cargo temporário de seis meses.
Em poucas semanas, o Fórum contratou um substituto para preencher uma função com o mesmo título de “líder de parceria”, que ela tinha anteriormente, que abrangia suas funções anteriores, disse ela.
“É uma instituição psicologicamente violenta, e eu não entendo como eles têm credibilidade para escrever um relatório sobre a diferença de gênero e determinar o modo em que as economias e indústrias são administradas globalmente”, disse ela.
O Fórum disse que o cargo foi alterado como parte de uma reestruturação maior e uma posição temporária foi criada para ajudar Smith a encontrar outra oportunidade.
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A palavra racista
O Fórum às vezes tem dificuldade para viver de acordo com os ideais que prega sobre a promoção da diversidade, equidade e inclusão (DEI). Funcionários negros que lá trabalharam descreveram tererem sido preteridos para promoções e excluídos do evento anual em Davos, além de relatar incidentes de gerentes que fizeram comentários que variavam de desagradáveis a racistas.
Seis funcionários negros descreveram perder promoções ou ter boas oportunidades repentinamente tiradas deles, com os chefes dando a alguns deles feedback de que não eram “visíveis” o suficiente para a liderança sênior, ou que precisavam sorrir mais. O Fórum disse que as promoções são baseadas no mérito.
No início deste ano, Kimberly Bennett, funcionária negra que trabalhava em Genebra e ajudou a liderar o grupo de recursos de funcionários negros, enviou uma carta ao RH mencionando preocupações entre muitos funcionários negros de que eles foram deixados de fora das cotas de pessoal para participar de Davos, apesar de organizar sessões importantes lá.
Em um exemplo, ela mencionou que, quando a equipe de DEI do Fórum enviava funcionários para Davos, “todos os membros da equipe eram brancos e europeus”, embora houvesse diversos membros na equipe. “O que isso diz sobre nosso compromisso com DEI se a maioria dos representantes que escolhemos enviar ao nosso evento mais importante são brancos?”, perguntou ela na carta.
Ela disse que não recebeu resposta.
O Fórum declarou que apenas metade de sua força de trabalho participa da reunião anual em Davos, raça e gênero não desempenham nenhum papel na determinação de quem vai e a seleção é baseada nas necessidades no local.
Dois gerentes nos últimos anos usaram uma palavra racista desagradável na frente de mulheres negras que trabalhavam para eles.
Um deles era o chefe de operações de longa data de Schwab, Jean-Loup Denereaz. Vários funcionários descreveram comentários desagradáveis que ele fez ao longo dos anos, incluindo um incidente em que uma mulher reclamou aos chefes em 2017 que ele fez comentários inadequados em resposta a uma queixa de assédio sexual apresentada a ele. Denereaz foi demitido pelo Fórum em 2018 após um incidente em que menosprezou uma mulher negra de sua equipe em público no escritório. Enquanto se afastava, ele disse: “O que você pode esperar de uma [termo racista]”, de acordo com pessoas familiarizadas com o episódio.
O Fórum disse que o episódio de Denereaz foi abominável e que ele foi demitido poucos dias após o incidente por violar seu código de conduta. Denereaz não respondeu aos pedidos de comentários.
O outro incidente ocorreu em setembro de 2022 durante um almoço de equipe em Genebra, quando colegas compartilhavam marshmallows cobertos de chocolate da Dinamarca. Margi Van Gogh, gerente sul-africana, e outra colega de trabalho branca discutiram como os doces costumavam ser chamados de “N-balls” na Dinamarca e tinham um nome semelhante na África do Sul, usando a palavra completa na frente de uma colega negra, de acordo com pessoas familiarizadas com o incidente e documentos revisados pelo WSJ.
A mulher negra, que ficou chocada, mais tarde levantou a questão em um e-mail para Van Gogh, sua gerente. Ela escreveu que não achava que a palavra tivesse sido usada “por maldade”, mas que é algo que incomoda a ela e a outros negros. “Há um entendimento comum de que o único uso adequado da palavra é não a usar.”
Elas tiveram uma reunião em que Van Gogh se desculpou e solicitou que a funcionária negra organizasse um treinamento de DEI para a equipe, de acordo com as pessoas. O RH lhe respondeu que não tinha recursos de DEI, e Van Gogh nunca fez o acompanhamento, acrescentaram essas pessoas.
O Fórum disse que isso foi resolvido de forma empática e amigável. Van Gogh, chefe da cadeia de suprimentos e indústrias de transporte do Fórum, não respondeu aos pedidos de comentários.
Tiffany Hart, funcionária negra que passou quase uma década no Fórum, contou que um chefe em Davos a questionou sobre sua peruca e, segurando fósforos, perguntou se poderia tocar fogo na peça. Em outro momento, ela contou que ele lhe disse: “Se eu soubesse que você tinha dislexia, não teria te contratado”. Ela o denunciou aos recursos humanos sem sucesso.
O Fórum declarou que não estava ciente das alegações.
Quando outro chefe, Roberto Bocca, atual executivo sênior, a repreendeu e a chamou de “vadia” em uma ligação de equipe quando ela fez uma pergunta, os recursos humanos ignoraram o fato, alegando que ele era apenas “italiano e muito apaixonado”. O Fórum disse que a situação de Bocca foi analisada e tratada adequadamente, e que a linguagem desagradável não foi relatada. Bocca não respondeu aos pedidos de comentários.
Hart contou que decidiu sair em 2022. “Não fazemos o que pregamos”, afirmou. “Promovemos a inclusão e melhoramos o estado do mundo e as questões das mulheres, mas fazemos o oposto.”
Escreva para Shalini Ramachandran em [email protected] e Khadeeja Safdar em [email protected]
traduzido do inglês por investnews