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O podcast da controladora de um fundo de investimentos de US$ 1,6 trilhão

Gestora de fundos soberanos da Noruega entrevista importantes CEOs em podcast

Por Jenny Strasburg The wall street Journal
Publicado em
8 min
traduzido do inglês por investnews

Darren Woods, executivo-chefe da Exxon Mobil, diz ser especialista em churrasco. Seu corte de carne favorito? O rib-eye. 

James Gorman, presidente e CEO recentemente aposentado do Morgan Stanley, costumava ficar regularmente doente devido ao estresse do trabalho. E Daniel Ek, que cofundou o Spotify, sente um conflito profundo devido à enorme riqueza que acumulou.

Essas são algumas das pérolas que chegaram aos ouvintes fiéis de um pequeno podcast norueguês, que começou há dois anos e se tornou um destino improvável para os principais CEOs do mundo. Ajuda muito o fato de que o anfitrião é, em muitos casos, um dos maiores investidores de suas empresas. 

Créditos: Knut Egil Wang para o Wall Street Journal 

Nesta semana, o podcast conseguiu trazer o convidado mais esquivo: o CEO e cofundador da Tesla, Elon Musk, que falou sobre a colonização de Marte, a concorrência da Tesla na China e sua visão de que a inteligência artificial pode se tornar mais inteligente do que qualquer ser humano até o final do ano que vem. 

O programa, chamado “In Good Company”, é ideia de Nicolai Tangen, norueguês de 57 anos e ex-gestor de fundos de hedge de Londres que em 2020 foi nomeado CEO do Norges Bank Investment Management. Este é o braço do banco central norueguês que opera o que é conhecido como fundo petrolífero, que controla as vastas receitas de petróleo e gás do país.

O fundo nunca foi tão grande quanto este ano, em torno de US$ 1,6 trilhão. Mas Tangen sentiu que o fundo — e as pessoas que o administram — poderia ser mais bem compreendidos pelo público. 

“Nosso objetivo é ser o fundo mais transparente do mundo. Pareceu-me que a verdadeira transparência aqui seria mostrar aos noruegueses o que eles possuem”, disse Tangen em entrevista. “Pensei… Sabe, somos donos de todas essas empresas, temos grandes participações, e realmente temos acesso a esses CEOs.”

Cada programa com um líder corporativo ao microfone normalmente começa observando o número de ações que o fundo norueguês possui dessa empresa, juntamente com o valor muitas vezes impressionante desse investimento. (US$ 5 bilhões de ações da Exxon, US$ 4 bilhões da Nvidia, US$ 2,2 bilhões da Disney etc.)

Tangen também demonstrou um faro aguçado para convidar CEOs para uma entrevista pouco antes de eles chegarem aos noticiários, incluindo Sam Altman, da OpenAI, e Jensen Huang, da Nvidia, antes do início do boom da IA.

Antes de entrar para as finanças, Tangen foi treinado como interrogador militar na década de 1980 pelas forças armadas norueguesas, de acordo com um porta-voz do fundo. No treinamento, desenvolveu habilidades na língua russa, e posteriormente trabalhou na embaixada norueguesa em Moscou por quase um ano.

Nicolai Tangen, CEO do Norges Bank Investment Management (NBIM) e apresentador do podcast In Good Company, onde entrevista alguns dos CEOs das maiores empresas do mundo

Para o podcast, ele e sua equipe às vezes fazem uma ligação de preparação com a empresa em destaque e estão abertos a sugestões de perguntas. Mas nenhum tópico está fora de questão, disse o porta-voz do fundo. Mesmo assim, Tangen prefere optar pelo bate-papo do que assumir uma abordagem conflituosa. 

“O que passa por sua cabeça ultimamente?”, perguntou ao CEO da Microsoft, Satya Nadella, na abertura de um episódio recente. Nadella falou sobre sua carreira de 32 anos na Microsoft e sobre a perspectiva da IA como a “próxima grande tecnologia de uso geral”. 

Tangen frequentemente elogia seus convidados, chamando-os de incríveis, ocasionalmente de “os melhores” ou, no mínimo, influentes ou impressionantes. Ao mesmo tempo, pressiona-os gentilmente sobre temas como a remuneração de executivos e outros assuntos de governança, como diversidade no conselho e o impacto das empresas nas mudanças climáticas.

Na entrevista com o CEO da Ryanair, Michael O’Leary, Tangen criticou o executivo pelas emissões de carbono da empresa: “É bom para o clima levar as pessoas de avião para a Estônia por dez euros?”. 

“Sim”, respondeu O’Leary. Ele disse que o tráfego aéreo apoia as economias em toda a Europa. Acrescentou que a tecnologia está ajudando as companhias aéreas a aumentar sua eficiência energética e, além disso, se a Ryanair não existisse, as pessoas voariam pagando mais de qualquer maneira.

Tangen: “Passemos agora para a cultura corporativa”. 

Gorman, do Morgan Stanley, falou sobre o estresse de seu trabalho como CEO, chamando-o de “ondas constantemente quebrando na sua cabeça”.

Tangen perguntou como ele lidava com isso. “Nos meus primeiros anos, para ser bem sincero, vomitava muito — vômito, náusea, do nada, só andando pela rua”, respondeu Gorman.

Ele contou que trabalhava para ficar fisicamente em forma e aceitava que o ritmo era insustentável. Então, praticava remo. Reservava um tempo para meditar — mesmo que isso significasse apenas tirar 15 minutos no escritório para olhar pela janela e ver os pássaros de Manhattan.

“Às vezes, durante a crise financeira, eu vomitava também”, confessou Tangen a Gorman. “Você acha que as pessoas subestimam o estresse dessas posições?”. “Ah, sim”, respondeu Gorman. “Ninguém faz ideia.”

Tangen diz que o podcast se baseia em sua curiosidade pessoal sobre tudo, desde IA até o que faz algumas empresas terem sucesso onde outras fracassam.

“Neste mundo frenético da mídia, todo mundo é vigiado, tudo é muito rápido. O podcast dá a você a chance de saber não apenas sobre um assunto, mas sobre uma pessoa”, disse Carl-Henric Svanberg em entrevista ao Wall Street Journal. Svanberg é ex-presidente da Volvo, ex-presidente da BP e ex-CEO da Ericsson.

Com Tangen, Svanberg falou sobre os desafios de reformas corporativas e sobre grandes cortes de empregos. 

Ele acabou mencionando a doença de infância e consequente morte de sua irmã. O assunto não foi planejado, afirmou mais tarde em uma entrevista.

“Se eu realmente for fundo em minha alma…”, disse Svanberg no episódio do podcast depois que Tangen perguntou o que o incentivava em sua carreira.

“Eu tinha uma irmã que era diabética desde os nove anos”, continuou. Ela acabou perdendo a visão aos 20 anos e morreu quando ele tinha 46. O efeito do ocorrido sobre seus pais foi formativo para ele.

“Desde cedo, sempre senti que os deixava orgulhosos — não queria aumentar o fardo deles”, explicou Svanberg. “Sempre acreditei que isso, de certa forma, contribuiu para a minha motivação.”

Tangen esperou um ano depois de assumir as rédeas do fundo petrolífero para iniciar o podcast, em parte porque não queria que isso fosse visto como “algum tipo de projeto de ego”, explicou. Ele passou por um escrutínio intenso sobre sua riqueza pessoal, que inclui uma vasta coleção de arte.

“Nós noruegueses somos conhecidos pela prudência. As elites norueguesas exibem uma ‘modéstia conspícua’”, preferindo pequenos chalés nas montanhas a casas chamativas, disse Trygve Gulbrandsen, pesquisador do independente Instituto de Pesquisa Social de Oslo e ex-conselheiro do governo, que assistiu à entrada de Tangen no serviço público.

O podcast ajudou Tangen a conquistar grande parte da audiência, revelaram Gulbrandsen e outros. 

Embora não seja um gigante, o podcast chegou perto de três milhões de downloads totais, de acordo com o fundo. Está disponível semanalmente no Spotify e em outras plataformas, incluindo o YouTube. 

O programa é um projeto grande para o escritório do fundo petrolífero e a equipe de Tangen, envolvendo os gerentes de portfólio nos preparativos de entrevistas e garantindo feedback das gravações ainda não editadas.

Muitos dos investimentos do fundo passam por processos rigidamente controlados pelo Ministério das Finanças. Os gestores de fundos podem fazer pequenos ajustes, e Tangen pressiona por um engajamento mais ativo com as empresas. 

Enquanto isso, Tangen aproveitou para abraçar seu lado de showman.

Vestiu uniformes do McDonald’s e da Domino’s para divulgar entrevistas com os CEOs das redes de restaurantes. Em um vídeo no LinkedIn promovendo o episódio da Domino’s, debateu a validade do abacaxi como cobertura de pizza, que considera “a maior controvérsia da história desse prato”.

“Adoro todas as nossas coberturas igualmente”, postou o CEO da Domino’s, Russell Weiner, em resposta, agradecendo a Tangen pela conversa no podcast.

Tangen, prolífico usuário do LinkedIn, fez posts sobre seus livros preferidos, seus restaurantes favoritos de Nova York e Oslo e revelou o motivo pelo qual é fã da sesta de dez minutos. Ele diz que costuma tirar uma soneca rápida no sofá do escritório e tomar um café antes de gravar. 

O gestor de fundos que virou podcaster diz que raramente recebe um não dos CEOs. Até Musk, da Tesla, que resistiu ao convite por meses, finalmente cedeu. 

Tangen abriu uma conta no X para a ocasião. Três gerentes de portfólio do Norges Bank ajudaram na preparação para a entrevista.

“Nunca desisto”, afirmou Tangen. 

Escreva para Jenny Strasburg em [email protected]

traduzido do inglês por investnews