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Por que os americanos estão comendo um ingrediente de protetor solar em suas pizzas congeladas?

Cientistas mencionam preocupações sobre o uso de dióxido de titânio em alimentos

Por Andrea Petersen The wall street Journal
Publicado em
7 min
traduzido do inglês por investnews

Se você já ouviu falar do dióxido de titânio, provavelmente o conhece como um ingrediente presente no protetor solar. Mas ele também é usado em muitos alimentos, desde pizza e salsa até glacês e doces — e agora, há uma preocupação crescente sobre os potenciais riscos à saúde em seu consumo.

O ingrediente ajuda a bloquear os raios solares quando o espalhamos na pele. Os fabricantes de alimentos o utilizam para destacar as cores — pense na muçarela mais branca em sua pizza congelada ou nos tons mais vibrantes de alguns doces.

Algumas pesquisas, principalmente em animais, sugeriram que sua ingestão pode estar ligada a problemas no sistema imunológico, inflamação e danos ao DNA que podem levar ao câncer.

A União Europeia proíbe o dióxido de titânio nos alimentos desde 2022. No início deste ano, legisladores da Califórnia apresentaram um projeto de lei para proibir que alimentos com dióxido de titânio sejam servidos em escolas públicas. Alguns grupos de defesa da saúde pública fizeram petições à Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA na sigla em inglês) para não permitir que seja usado na comida.

A dificuldade: nem sempre é fácil dizer se o dióxido de titânio está presente em um alimento. Os fabricantes não precisam incluí-lo na lista de ingredientes pelo nome nas embalagens — ele pode ser identificado no rótulo apenas como “corante artificial”. Mas há os que divulgam seu uso. E alguns fabricantes de alimentos estão reformulando produtos para remover o dióxido de titânio à medida que crescem as dúvidas sobre ele.

A Whole Foods diz que reformulou seu mac-and-cheese (macarrão com queijo) e não incluirá mais dióxido de titânio.

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A ciência não é conclusiva. Há estudos que não mostraram efeitos negativos para a saúde, e alguns países, incluindo Canadá, Austrália e Nova Zelândia, revisaram recentemente a pesquisa e disseram que o dióxido de titânio nos alimentos é seguro.

A Associação de Marcas ao Consumidor (Consumer Brands Association), grupo comercial que inclui muitos fabricantes de alimentos, diz que o dióxido de titânio é usado com segurança como corante, observando que a indústria adere aos padrões estabelecidos pela FDA. A Mars, que fabrica os doces de confetes Skittles, diz que todos os ingredientes que usa são seguros.

Por que o dióxido de titânio está em sua comida

Em geral, os fabricantes adicionam dióxido de titânio para deixar os produtos mais atraentes. “Uma concentração muito pequena faz com que algo tenha uma aparência bem branca e brilhante”, explicou David Julian McClements, professor do departamento de ciência de alimentos da Universidade de Massachusetts Amherst. Adicioná-lo a outras cores pode destacar essas cores, disse ele.

O dióxido de titânio é frequentemente encontrado em molhos, cremes e coberturas.

O ingrediente é mais prevalente em doces, cremes para café e produtos de panificação gelados ou em pó, disse Kelsey Mangano, professora associada e diretora do programa de nutrição da Universidade de Massachusetts Lowell. A substância também está em muitas gomas de mascar e balas de menta.

É um produto comum no protetor solar porque é eficaz no bloqueio dos raios ultravioletas. É usado em medicamentos por motivo semelhante: para ajudar a proteger os ingredientes ativos dentro da pílula de serem quebrados ou alterados pela luz.

Você não precisa se preocupar com o dióxido de titânio no protetor solar, porque não há evidências de que penetre na pele, disse Nicolaj S. Bischoff, aluno de doutorado do Centro Médico da Universidade de Maastricht, nos Países Baixos, que pesquisou os possíveis efeitos do dióxido de titânio na saúde. E como a substância desempenha uma função importante nos medicamentos, o cálculo de risco/benefício é diferente do que acontece com os alimentos, observou.

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O que diz a ciência

Novos microscópios de alta resolução e outros métodos de detecção e análise de partículas estão permitindo que os pesquisadores entendam melhor o dióxido de titânio. 

Eles agora sabem que a maioria dos ingredientes do dióxido de titânio usados em alimentos contêm quantidades variadas de minúsculas nanopartículas. O problema com as nanopartículas é que, por causa de seu tamanho, há a possibilidade de que penetrem na mucosa do trato gastrointestinal, entrem em suas células e se acumulem em seus órgãos, explicou McClements.

Alguns estudos em animais descobriram que o consumo de nanopartículas de dióxido de titânio levou a danos no fígado e nos sistemas imunológico e reprodutivo, além do DNA. Outra pesquisa mostrou que o dióxido de titânio altera o microbioma intestinal e inibe o crescimento de bactérias benéficas.

Uma nova pesquisa com humanos encontrou uma ligação entre o consumo de dióxido de titânio e a inflamação no intestino. Em um pequeno estudo com 35 adultos saudáveis, aqueles que tinham os níveis mais altos do dióxido nas fezes tinham níveis mais altos de certas medidas de inflamação intestinal do que aqueles com os níveis mais baixos do item. Eles também tinham indícios de maior permeabilidade intestinal (o quanto as células possuem vazamentos ou são separadas), disse Mangano, cientista-chefe do estudo, publicado em fevereiro na revista “NanoImpact”.

A preocupação é que o aumento crônico da inflamação e permeabilidade intestinal possa aumentar o risco de câncer de cólon, deficiências de nutrientes e uma inflamação de baixo grau ligada a muitas doenças crônicas, disse Mangano. Depois de realizar essa pesquisa, o cientista conta que parou de mascar chiclete, que muitas vezes contém o ativo presente em protetor solar.

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As crianças provavelmente enfrentam maiores riscos potenciais do dióxido de titânio, disse McClements. Isso porque elas tendem a comer mais alimentos que o contêm, como balas e outros doces.

A ciência não é clara. Alguns estudos em animais não mostraram efeitos tóxicos. Os cientistas também discordam sobre quais estudos são relevantes em termos do consumo. Antes de a UE proibir o ingrediente nos alimentos, especialistas em segurança alimentar identificaram que o dióxido de titânio tinha o potencial de causar danos ao DNA. Mas eles não têm certeza sobre como exatamente isso acontece e em que dose os danos começam a ocorrer. Assim, deixaram de considerar o dióxido de titânio seguro quando usado em alimentos.

O bolinho ocasional ou o creme com dióxido de titânio provavelmente não é um problema, disse Bischoff. Os riscos potenciais estão no consumo de longo prazo e possivelmente na exposição crônica, disse ele.

O que você pode fazer

Muitos produtos que contêm dióxido de titânio o incluem na lista de ingredientes. E há muitas versões de alimentos que não o contêm, incluindo os que não são embalados ou ultraprocessados, como frutas e vegetais frescos.

Contudo, esteja ciente de que a FDA não exige que os fabricantes de alimentos listem o nome dióxido de titânio entre os ingredientes de um produto. As empresas podem generalizar e citar o “corante artificial”. É possível entrar em contato com o fabricante para obter mais detalhes se o tal “corante” estiver listado no rótulo, sugere um porta-voz da FDA.

Ou você pode se poupar do problema e evitar alimentos que incluem o ingrediente.

Algumas empresas estão removendo o dióxido de titânio de certos alimentos. A Whole Foods reformulou recentemente sua marca de macarrão com queijo: seu novo produto não contém mais dióxido de titânio. A Beyond Meat fez o mesmo com seus nuggets de frango à base de plantas.

Escreva para Andrea Petersen em [email protected]

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