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Ultimamente, Elon Musk só pensa na Rússia

Bilionário afirma que suas empresas estão fazendo o máximo para minar o Kremlin.

Por Tim Higgins The wall street Journal
Publicado em
8 min
traduzido do inglês por investnews

Publicado originalmente em 17 de fevereiro de 2024.

Absurdo.

É o que Elon Musk pensa das acusações de que faz apologia do presidente russo, Vladimir Putin.

Mas é fácil entender por que alguns resolveram chamá-lo de Moscou Musk. 

Francamente, quando Putin elogia Musk, como fez no início de fevereiro, e quando o mosqueteiro Tucker Carlson exibe vídeos na plataforma de mídia social X elogiando a vida sob esse governo autoritário como superior à dos EUA, é desanimador. Agora que a plataforma X vê um aumento na atividade apoiada pelo Estado russo, segundo pesquisadores, e quando, dizem, o serviço de internet via satélite de Musk, o Starlink, está sendo usado pelas forças russas na guerra contra a Ucrânia, a situação é preocupante.

Na semana passada, Musk procurou pressionar o Senado a não aprovar um pacote de ajuda à Ucrânia, no mais recente exemplo dos pronunciamentos do bilionário sobre o conflito que se arrasta há dois anos. 

“Não há como Putin perder”, disse Musk na segunda-feira passada durante um evento de áudio no X. 

Houve explicações, mas incógnitas persistem. O que é especialmente chocante talvez seja a série de contatos entre Musk e a Rússia ultimamente. É muita Rússia, Rússia, Rússia para um homem extremamente poderoso no centro da indústria dos EUA e cada vez mais fundamental para ações estratégicas no espaço e nas comunicações.

E isso antes das eleições de novembro nos EUA, quando haverá debate no X. 

A reação foi rápida. 

“Por que @elonmusk está promovendo a causa russa agora? Por que ele ainda tem contratos com o governo dos EUA?”, Adam Kinzinger, ex-congressista republicano de Illinois, escreveu em um dos tuítes que condenam Musk. 

Alguns no X tentaram promover #MoscowMusk e #ElonMuskIsATraitor.

“Por que um contratado do governo dos EUA (Elon), que recebe bilhões do Departamento de Defesa, critica a política de segurança americana em favor de nossa inimiga, a Rússia?”, perguntou Terry Virts, ex-comandante da Estação Espacial Internacional. 

Para Musk, expor suas opiniões livremente é exatamente o que deveria estar ocorrendo no X e o motivo pelo qual, segundo ele, adquiriu a plataforma no final de 2022. Ele disse que a rede social havia se tornado politicamente correta demais, infestada de vieses progressistas, não permitindo assim um verdadeiro debate público. 

Parte do que tanto criticou no então Twitter, agora X, foi um aparato dentro da empresa após a eleição presidencial de 2016 e a conclusão tardia de que atores apoiados pela Rússia haviam manipulado essa e outras plataformas de mídia social na tentativa de ajudar Donald Trump a ser eleito presidente. (A Rússia negou tal atividade.)

Como novo dono do X, Musk cortou a equipe de segurança, e fez outros cortes em toda a organização. Em janeiro, a empresa disse que contrataria cem novos moderadores de conteúdo, uma fração das mais de 1.700 pessoas demitidas. O anúncio veio depois que alguns erros embaraçosos viralizaram, como pornografia gerada por IA usando uma imagem parecida com a da estrela pop Taylor Swift. 

A Comissão Europeia abriu uma investigação formal para apurar se a plataforma está cumprindo as obrigações de policiar conteúdo nocivo. Na época em que a nova lei de conteúdo on-line da União Europeia entrou em vigor, no ano passado, a comissão criticou o X por ser a plataforma com a maior proporção de “desinformação”. 

A comissão está especialmente preocupada com a influência da Rússia. “O Estado russo se envolveu na guerra de ideias para poluir nosso espaço de informação com meias verdades e mentiras, visando criar uma falsa imagem de que a democracia não é melhor que a autocracia”, disse Vera Jourova, vice-presidente da Comissão Europeia, na época, ao pedir que o X e outras grandes empresas de tecnologia se preparassem para as eleições deste ano em todo o mundo.

Embora Musk tenha se irritado com a comissão, a empresa disse que está focada em seguir a lei e proteger a liberdade de expressão. 

Outras mudanças feitas por Musk foram mais sutis. Em abril, o X acabou com rótulos de afiliados estatais em contas como a RT, antiga Russia Today, que muitas vezes são vistas como braços de propaganda do governo russo. A mudança permitiu o aumento da audiência, segundo especialistas. 

“Graças a Elon Musk e às mudanças que fez nas políticas do Twitter, o governo russo e as contas de propaganda viram uma onda de novos seguidores e maior engajamento, o que significa que qualquer campanha de desinformação do Kremlin alcançará um número maior de pessoas, com poucas chances de ser controlada pela plataforma”, escreveu recentemente Caroline Orr Bueno, pesquisadora de desinformação da Universidade de Maryland, em sua newsletter.

As contas russas têm ampliado os apelos por uma guerra civil nos EUA decorrente de controvérsias sobre migração ilegal, de acordo com sua pesquisa. 

As táticas, incluindo “amplificar extremos de ambos os lados de uma questão divisiva”, foram semelhantes às usadas no período que antecedeu a eleição de 2016, acrescentou ela, e sugeriu que o incentivo à “guerra civil” “representa uma espécie de teste projetado para ver o quanto é possível se eximir de responsabilidades no novo ambiente”.

Enquanto isso, alguns tópicos sinalizados por pesquisadores como sendo atraentes para a amplificação russa são exatamente os tipos de questões com as quais Musk tem se envolvido profundamente em sua própria conta no X, que conta com mais de 172 milhões de seguidores e comanda uma base fiel de fãs.

Nos últimos meses, Musk passou por tuítes que amplificavam as conversas sobre uma guerra civil nos EUA, e questionou a integridade do sistema de votação dos EUA. 

Musk alertou sobre a ameaça de as políticas dos EUA empurrarem a Rússia para uma aliança perigosa com a China e de “caminharem sem perceber para a Terceira Guerra Mundial”.

No início da guerra na Ucrânia, Musk foi elogiado por ajudar o país, fornecendo a Starlink e suas comunicações confiáveis. Ele mencionou essa atitude na semana passada, quando disse que suas empresas “provavelmente fizeram mais para minar a Rússia do que qualquer outra. A SpaceX afetou dois terços do negócio de lançamento espacial russo, a Starlink ajudou fortemente a Ucrânia”.

O principal oficial de inteligência militar ucraniana disse recentemente ao “The Wall Street Journal” que as forças russas têm usado milhares de terminais da Starlink da SpaceX, inclusive em partes ocupadas da Ucrânia. Musk já havia afirmado que a SpaceX não estava ciente de nenhuma venda para a Rússia. 

“O que Musk faz importa muito mais do que o que ele diz”, escreveu em um e-mail Michael O’Hanlon, diretor de pesquisa em política externa da Brookings Institution. “Sua retórica está em todo o lugar em muitas questões. Mas será que ele vai trabalhar mais para limitar o acesso da Rússia à Starlink? Essa é a grande questão para mim.”

Tentativas anteriores de Musk de influenciar o conflito geraram críticas. 

No final de 2022, Fiona Hill, ex-funcionária do Conselho de Segurança Nacional, disse à revista “Politico” que suspeitava que Putin estava usando Musk para enviar mensagens ao Ocidente depois que o bilionário apresentou uma proposta de paz muito específica vista por alguns como pró-Rússia. “Putin joga com o ego dos grandes homens, dá a eles a sensação de que podem influir”, disse ela. “Mas, na realidade, eles são apenas transmissores das mensagens de Vladimir Putin.”  

Na época, Musk contestou que estivesse em comunicação com Putin, tuitando que só havia falado com o líder russo uma vez “e isso foi há cerca de 18 meses. O assunto era o espaço.” 

Então, no ano passado, revelou-se que Musk havia negado um pedido da Ucrânia para permitir que a Starlink na Crimeia possibilitasse um ataque a navios russos. O empresário defendeu a decisão, dizendo que estava tentando evitar uma guerra nuclear. 

Musk não está sozinho em sua oposição ao envio de mais ajuda dos EUA à Ucrânia. Vários republicanos do alto escalão são contra o esforço, incluindo Trump, que busca um novo mandato na Casa Branca. 

Carlson, o ex-astro da Fox News que virou criador de conteúdo, tem usado o X para defender essa visão e fez uma viagem a Moscou, onde deu o exemplo de uma estação de metrô e de um supermercado como sendo superiores aos existentes nos EUA. Como parte de sua viagem no início deste mês, Carlson entrevistou Putin e o tema Musk surgiu.

“Não há como parar Elon Musk, ele vai fazer o que acha que precisa fazer”, disse Putin durante a entrevista, publicada no X. “Você precisa encontrar alguma concordância com ele, precisa procurar maneiras de persuadi-lo.”

traduzido do inglês por investnews