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Você pode ter herpes-zóster antes dos 50 anos. Saiba quando se preocupar

Desde 1998, os casos de herpes-zóster aumentaram em todas as idades. Quando é o caso de tomar a vacina?

Por Sumathi Reddy The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Alguns amigos e colegas contraíram herpes-zóster recentemente. Todos eles tinham menos de 50 anos.

O herpes-zóster é uma infecção viral causada pela reativação do vírus que também causa a varicela, ou catapora. O vírus permanece adormecido no corpo de qualquer pessoa que já teve catapora e pode ser reativado a qualquer momento.

A maioria pensa que o herpes-zóster é uma doença de idosos e nem pensa nisso até os 60 ou 70 anos, especialmente porque a vacina foi recomendada por muito tempo para pessoas com 60 anos ou mais. Mas a realidade é que pode ocorrer a qualquer momento, desencadeado por estresse — físico ou psicológico —, e em geral é muito doloroso. A boa notícia é que muitas vezes é mais brando entre os mais jovens.

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A partir de 1998, as taxas de herpes-zóster aumentaram em todas as idades por quase duas décadas, inclusive entre aqueles na faixa dos 40 anos, de acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). As taxas se estabilizaram um pouco recentemente, mas permanecem mais altas do que na década de 1990.

Um estudo de 2016 na revista “Clinical Infectious Diseases” mostrou um aumento de mais de quatro vezes entre todas as faixas etárias nas últimas seis décadas nos EUA.

Não está claro por que as taxas aumentaram. Alguns médicos teorizam que isso pode estar relacionado à vacina contra a catapora, que as crianças começaram a tomar depois que foi introduzida nos EUA em 1995. Com menos vírus da catapora circulando na população em geral, as pessoas não foram tão expostas a ele, o que afetou o aumento natural na imunidade.

“Como essencialmente eliminamos a catapora, esses reestímulos do nosso sistema imunológico não existem mais”, diz o Dr. William Schaffner, professor de doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt.

Os médicos que discordam dizem que os aumentos começaram antes que a vacina contra a catapora fosse comumente usada.

Parte do aumento pode ser devido a mais pessoas tomando medicamentos com o potencial de deprimir o sistema imunológico, como remédios para doenças autoimunes ou esteroides para erupções cutâneas ou outras condições.

A surpresa

Jeffrey Escobar, advogado de 47 anos que mora em Nova York, pensou que a dor que começou em seu braço direito há algumas semanas estava relacionada aos exercícios físicos. Ele colocou alguns adesivos de lidocaína no local e notou o aparecimento de uma erupção cutânea.

Mesmo com o uso de um creme esteroide, o quadro não mudou e ele foi ao médico, que imediatamente diagnosticou o herpes-zóster.

“Ele me deu um antiviral”, contou Escobar. “Agora tenho muita sensibilidade no lado direito do corpo e dor de vez em quando.”

Ele diz que seu caso foi leve, mas mesmo assim o surpreendeu. Seu pai teve herpes-zóster quando era mais velho, mas alguns de seus primos com menos de 50 anos também tiveram a doença recentemente.

“É curioso para mim por que três pessoas da nossa família já desenvolveram herpes-zóster”, diz ele.

O Dr. Donald Dumford, médico infectologista da Clínica Cleveland, diz que pessoas com menos de 50 anos têm cerca de metade a um terço menos probabilidade de contrair herpes-zóster. O risco aumenta substancialmente quando você tem mais de 70 anos, diz ele.

De acordo com os dados mais recentes do CDC, de 2019, antes dos 50 anos, só quatro a cada mil pessoas contraem herpes-zóster. Esse número dobra entre as pessoas com mais de 60 anos (oito a cada mil) e vai a dez a cada mil pessoas entre os que tem mais de 70 anos.

“Ao longo da vida, uma em cada três pessoas terá herpes-zóster”, diz Dr. Dumford.

Os dados existentes são úteis, mas incompletos, porque não é uma doença que os médicos são obrigados a relatar às autoridades de saúde locais ou federais e os dados do CDC só vão até 2019, então não é possível saber como, ou se, as taxas mudaram desde a pandemia de Covid-19.

Dumford diz que o gatilho é tipicamente o estresse fisiológico, seja outra doença, como a Covid, ou uma infecção bacteriana. O estresse emocional e social também pode ser um gatilho.

“Se o sistema imunológico está ocupado com outra coisa, há uma chance para o vírus zóster se reativar”, explica ele.

Embora o herpes zóster não seja uma doença fatal e muitas vezes não resulte em complicações graves, Dumford diz que pode causar encefalite em casos muito raros.

Alguns médicos teorizam que as infecções por Covid-19 podem estar desencadeando mudanças no sistema imunológico que tornam as pessoas mais propensas a desenvolver herpes-zóster. Há evidências de que a Covid-19 resultou em mais reativação do vírus Epstein-Barr, que permanece dormente após uma infecção por mononucleose.

Os médicos dizem que mais pesquisas precisam ser feitas para ver se esse é o caso do herpes-zóster. Uma meta-análise de 2024 no “Journal of Medical Virology” revisou vários estudos e descobriu que pessoas que tiveram Covid-19 tinham um risco 2,16 vezes maior de desenvolver o herpes-zóster em comparação com aquelas que não tiveram.

O tratamento

O CDC não aconselha tomar a vacina contra o herpes-zóster antes dos 50 anos ou mais, quando não há custo direto. [No Brasil, a vacina não é oferecida na rede pública].

Normalmente, os mais jovens experimentam casos mais leves da doença e são menos propensos a desenvolver neuralgia pós-herpética, ou dor neuropática na área onde você teve herpes-zóster, que pode durar meses.

Porém, pessoas com menos de 50 anos imunossuprimidas correm maior risco de desenvolver o herpes-zóster, e o CDC recomenda a vacinação nesses casos (para quem tem 18 anos ou mais).

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Não está claro por quanto tempo a vacina contra o herpes-zóster protege contra infecções. Os médicos dizem que parece oferecer boa proteção por pelo menos uma década. Atualmente, o CDC não recomenda um reforço após o regime inicial de duas doses.

O Dr. Kenneth Schmader, professor de medicina da Universidade Duke e especialista em herpes-zóster, diz que os mais jovens sempre perguntam se devem tomar a vacina. Ele responde que não é recomendado nem necessário, a menos que sejam imunocomprometidos.

“Se você tiver herpes aos 35 anos, isso vai protegê-lo quando você tiver 70? Provavelmente não”, diz ele. “O melhor é tomar a vacina quando o risco é maior, não menor.”

Escreva para Sumathi Reddy em [email protected]

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