Listada na Bolsa de tecnologia Nasdaq, nos EUA, a Vitru – controladora do grupo de educação catarinense Uniasselvi – assinou ontem acordo para comprar 100% da paranaense Unicesumar (Centro de Ensino Superior de Maringá) por um valor superior a R$ 3 bilhões. O negócio avalia a Unicesumar em R$ 3,23 bilhões, incluindo dívidas de R$ 78 milhões. O ativo era altamente disputado no mercado, pois é forte em duas frentes cobiçadas: o ensino a distância e os cursos presenciais de Medicina.
Segundo fato relevante, a Unicesumar é uma instituição de ensino superior de rápido crescimento, com foco no mercado de educação a distância, fundada há 30 anos em Maringá (PR) e liderada pela família Matos. Ao fim de março, contabilizava 760 polos de atendimento e 331 mil alunos, incluindo 314 mil em educação digital.
A Vitru garantiu uma linha de crédito firme dos principais bancos brasileiros no valor total de R$ 1,95 bilhão, com prazo de cinco anos, para a transação. “Acreditamos que o forte perfil de fluxo de caixa de ambas as empresas permitirá uma desalavancagem (redução do nível de endividamento) suave ao longo do tempo”, afirma a Vitru.
Na data de fechamento do negócio, 62,9% do valor acordado será pago em dinheiro e 19,4%, com a emissão de novas ações da Vitru. Os 17,7% restantes serão pagos 12 meses após o fechamento, ajustados pelo IPCA, índice oficial de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os atuais acionistas da Unicesumar passarão a deter 23,6% do capital do grupo educacional.
De acordo com o último censo do ensino superior, divulgado em setembro do ano passado pelo Ministério da Educação (MEC), a Uniasselvi e a Unicesumar foram as duas instituições de mais rápido crescimento na chamada educação digital privada. “A Unicesumar também tem uma presença considerável em cursos presenciais relacionados à saúde, principalmente Medicina, com mais de 1,6 mil alunos em 348 vagas médicas atuais que ainda estão em fase de expansão”, aponta a empresa. A abertura de novas vagas na área, aliás, poderá render um bônus aos vendedores.
A receita líquida atual da Unicesumar nos 12 meses encerrados em março de 2021 foi de R$ 762 milhões, enquanto o Ebitda (ou geração de caixa, medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado totalizou R$ 260 milhões. A transação precisa ser aprovada por autoridades antitruste, incluindo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Como parte dos acordos de governança, Wilson Matos, reitor e presidente da Unicesumar, se tornará o chanceler e vice-presidente do conselho da Vitru, enquanto Weslley Silva, atualmente diretor de relações institucionais da Unicesumar, se tornará um membro do conselho. Além disso, Willian Mattos, chefe de educação a distância da Unicesumar, será nomeado copresidente da Vitru e vai liderar a empresa juntamente com o atual CEO da Vitru, Pedro Graça.
Força nacional
Com a aquisição, a Vitru vai alcançar o total de 635 mil alunos e se posicionará na briga pelo primeiro lugar da educação superior no Brasil, junto com a Yduqs (que tinha 661 mil alunos em 2020) e a Cogna (768 mil). No entanto, está última vem perdendo alunos desde o início da pandemia em relação às rivais em EAD.
“Com essa transação, eu diria que a Vitru se torna quase um gigante imbatível”, afirma William Klein, presidente da Consultoria Hoper Educação. “Ela e a Unicesumar são o que há de melhor a oferecer para o aluno no ensino semipresencial, com modelo de alta qualidade.”
Segundo o especialista, as empresas têm fortes sinergias não só em operações geográficas (a Vitru é mais forte no Norte e Nordeste, enquanto a Unicesumar tem presença no Sul). Tanto que Klein não espera que sejam precisos desinvestimentos significativos para aprovar a transação no Cade.
“Se houver remédios, serão poucos, porque as operações são muito complementares. A Unicesumar tem inclusive um tíquete mais caro, com um caráter mais premium. É o modelo ideal, especialmente neste contexto pós-pandemia”, aponta.
De acordo com um analista do setor de educação em um banco de investimentos, a operação é bem vista pelo mercado, pois o ensino a distância é mais rentável e deve conquistar cada vez mais espaço na educação superior privada. “A Vitru já era a preferida do setor em relação a ensino digital e agora conquista ainda maior espaço”, afirma.
Veja também
- O investidor forjado na recessão se dá melhor em crises?
- Financiamento estudantil: como funciona e quando vale a pena fazer?
- GALG11, XPIN11 e SDIL11: qual é o melhor FII de logística?
- Olimpíadas de Paris 2024: quanto custa viajar e como se planejar até lá
- Por que está tudo tão caro? Veja como se proteger da inflação